Adolescente americano pede ajuda (caso Zach)

Redação Lado A 02 de Novembro, 2005 04h38m

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S.O.S Adolescente 


“Pouco tempo atrás contei aos meus pais que eu era gay”… “Não pegou muito bem” e “eles me disseram que há algo psicologicamente errado comigo”, e que “me criaram errado”, conta um menino de 16 anos do estado americano do Tennessee em seu blog (diário) na internet.


                                                   


Os Adolescentes gays vivem uma pressão muito grande para uma pessoa tão frágil. Geralmente, eles são dependente aos pais, vivem um turbilhão hormonal que lhes confere desde espinhas até estresse juvenil. Ainda precisam escolher uma profissão, encarar um vestibular, impor-se na sociedade, começar a vida profissional. Lidar com a homossexualidade gera um peso ainda maior para o adolescente carregar. Entre todas as incertezas, ele se agarra na sua homossexualidade, em uma espécie de auto-preservação e se auto-afirma em seu meio. Dentro de casa ele encontra as maiores dificuldades.


 


“Hoje minha mãe, meu pai e eu tivemos uma longa ´conversa´ no meu quarto, na
qual eles me informaram que eu devo me inscrever em um programa cristão fundamentalista para gays”… “É como um campo de treinamento militar” … “Se eu sair ´hetero´, ficarei tão instável mentalmente e deprimido que não terá importância”.


 


Zach, como se identificou o adolescente, (desde maio, quando Zach foi para o acampamento, não atualizou seu site) é um caso atual sobre o assunto. Tudo começou com o desabafo de um menino forçado pelos pais a abandonar a sua homossexualidade, enviado para um acampamento cristão de uma associação chamada Love in Action. Entre as práticas, estão jogos de futebol obrigatórios, o não contato físico (sem apertos de mão) e a proibição de conversas sobre futilidades. Um amigo divulgou a história, sensibilizados, outros gays começaram a divulgá-la em seus próprios blogs. Depois, Morgan Jon, um cineasta e amigos do grupo Queer Action Coalition (Coalizão de Ação Gay) realizaram protestos contra o Love in Action, em favor do garoto. “Queríamos demonstrar apoio”, disse Fox, 26, que dirigiu um documentário sobre adolescentes gays filmado no colégio de Zach, o White Station.


 


Assim como no caso de Elián Gonzáles, o menino náufrago cubano que viveu a fama de ser alvo da disputa entre Fidel Castro e os Estado Unidos em 2000, Zach virou disputa entre grupos conservadores e o movimento gay.  Críticos de programas que tentam mudar a orientação sexual dizem que as práticas podem causar problemas duradouros em uma pessoa, incluindo culpa, vergonha e até impulsos suicidas. Os riscos são maiores para os adolescentes, que já lutam com profundas questões de identidade.


 


O departamento de saúde do Tennessee mandou uma carta para o Love in Action dizendo que a associação era suspeita de oferecer serviços terapêuticos para os quais não era licenciada, disse uma porta-voz do departamento.O grupo religioso afirmou que seu programa é um centro espiritual, e não de aconselhamento, e retirou da internet as referências sobre terapia.



Os pais de Zach não responderam a um pedido para participar da reportagem do New York Times, de onde a idéia central desse texto foi extraída. O pai dele, afirmou que “Estamos contentes por Zach vir para cá. Para que ele veja por si mesmo o estilo de vida destrutivo que terá de enfrentar no futuro”. No caso de Zach, não há indícios de que ele tivesse problemas especiais sobre sua identidade sexual. Embora seu colégio fique numa cidade do Cinturão da Bíblia, os alunos são bastante tolerantes com os colegas homossexuais, segundo alguns estudantes, particularmente aqueles que, como Zach, não chamam atenção para sua tendência. Alguns amigos já sabiam que Zach era gay há mais de um ano.


É mais fácil aos pais buscarem esperança de “curar” um filho homossexual do que encarar o fato de ele ser diferente. No Brasil, diversas entidades possuem acampamentos como esse ao qual Zach foi levado. Em Curitiba o grupo cristão Moses – Movimento pela Sexualidade Sadia (http://www.moses.org.br/), possui um local para esse fim. Em 1999, Marco Antônio, um menino de São Paulo, denunciou o caso que não ganhou muito destaque na mídia.


 


O regime na fazenda era rígido: acordar cedo, tomar café da manhã e assistir uma palestra com temas do tipo “Causas do homossexualismo”, “Lutando contra as tentações” e “Cura da dependência emocional”. Depois, terapia individual, terapia em grupo, dinâmicas diversas. À noite, cada quarto tinha um monitor. “No meu quarto havia dez pessoas, contando com o monitor. Ninguém entrava no banheiro acompanhado.” Além dos cursos, havia os depoimentos na linha do “Eu já estou há dois anos sem manter relação sexual”. Todos tinham de repetir várias vezes “eu não sou homossexual, eu não sou homossexual, eu não sou homossexual”.


Adolescente volta de acampamento


No dia 20/07/2005 contamos a história de Zach, um menino do Tennessee, EUA, que foi obrigado pelos pais a freqüentar um programa de recuperação de gays. O caso ganhou notoriedade neste final de semana, quando o programa Fantástico noticiou o fato.


 


Discurso moderado


Zach criou um novo blog e apagou o antigo. Agora ele afirma que foi mal interpretado, que a imagem passada do acampamento foi colocada fora de perspectiva e contexto. Mas não gostaria de retirar o que disse ou que iria desmentir, apenas gostaria de seguir em frente. Seu discurso foi mais ameno, ele afirmou que “homossexualidade continua a ser um fato em minha vida – mas não resume quem eu sou, nunca resumiu. Aqueles que realmente me conhecem sabem que a minha homossexualidade sempre esteve lá mas nunca dirigiu a minha vida e não será agora que irá”. Ele depois comenta sobre uma possível lavagem cerebral; “Eu não acredito que sofri uma lavagem cerebral. É quase um insulto, pensar isso”. Depois, ele agradece e responde ao mundo que “não vou permitir ser pressionado a dar nenhuma resposta, de todos os tipos – estou dando o melhor de mim”


 


Matéria no Fantástico


A matéria do Fantástico neste final de semana foi de tremenda incompetência. Em dado momento a locução diz: “transformar gays e lésbicas em pais e mães de família”. Ora, a Rede Globo afirmando que gays e lésbicas não são pais de família! Pois eu conheço vários, a final, fazer filho é muito fácil. Mas não foi só isso.


 


Na abordagem da Exodus, de Londrina, entidade que pratica essas terapias perigosas, mostraram uma matéria bem rápida, sem imagens de gays e nem de ex-gays, apenas a fachada de uma casa e um campo. O repórter disparou nesse meio tempo dados da entidade, como se fosse um institucional e diz que a entidade, segundo ela mesma,  provocou a recuperação de gays. Não entrevistaram nenhum ativista gay, profissional da área, ou citaram que os conselhos de psicologia e psiquiatria condenam tais práticas. Também não mostraram o Ex-Ex-Gay Mor do Moses, outra entidade semelhante, que deu entrevista para a revista Época, dizendo que havia práticas homossexuais entre os membros da entidade. Não foi mostrado dois lados.


O pior foi a Globo afirmar que o psiquiatra Robert Spitzer quem retirou a homossexualidade da lista de distúrbios mentais. Na verdade, ele defendeu uma tese que foi votada e aprovada, e mesmo assim até hoje é considerada uma tese fraca em seu embasamento. Há cinco anos, Spitzer passou a reconhecer as terapias de reversão, realizando inclusive uma pesquisa pela Universidade de Columbia. O Fantástico mostra o mesmo cidadão dizendo que acha correto que gays que queiram buscar terapia que sejam apoiados. Em seguida, foi feita uma pesquisa de três minutos. Ou seja, depois da declaração do homem que “tirou a homossexualidade da lista de distúrbios mentais” dizer que apóia com ressalvas, eles perguntam: Você acha válido essas terapias? – por milagre, 51% foram contrários.


Redação Lado A

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A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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