Educação das crianças

Redação Lado A 02 de Novembro, 2005 13h21m

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Educação das crianças


Ainda hoje, temos uma educação diferenciada para filhos e filhas. Toda a educação familiar reflete os medos e as preocupações dos pais em criar de forma errônea seus rebentos. Outra razão que norteia o aprendizado é o lastro da educação recebida pelos pais, que não ousam propor formas diferentes de educar, uma vez que, por mais traumatizante que tenha sido, eles chegaram a ser o que são hoje. Por isso, nós temos a manutenção de censuras em conversas, distanciamento entre pais e filhos e até mesmo algumas lendas na educação.


 


Meninos


Os futuros homenzinhos são criados para serem viris, machões e provedores. Desde cedo, o menino tem mais liberdade, pode contrariar a mãe e não obstante o pai é quem impõe os limites. A violência é incentivada, são instigados a resolver os seus problemas sozinhos e podem falar palavrões. Meninos não lavam louça ou realizam trabalhos domésticos, não precisam dar muitas explicações e são incentivados para a vida sexual (com meninas, claro). Todos os sonhos do pai são repassados ao filho. O pai deseja um filho jogador de futebol ou médico, ou qualquer outra coisa que ele não conseguiu ser.


 


Meninas


Elas podem brincar de bonecas, de casinha, mas de médico com os meninos nem pensar. Aliás, a menina desde cedo é castrada a não desenvolver a sua sexualidade. Ainda hoje, pais esperam que as filhas casem virgens e com alguém de posses. Parece medieval mas o machismo do pai é algo impressionante, a ponto de o pai deixar para a mãe todas as conversas com a filha. Meninas precisam ser femininas, não falar palavras de baixo calão e sobretudo, serem prendadas. Elas ainda precisam ajudar na casa, não criticar o irmão ou o pai e ser submissa em diversos momentos, quando a sua vontade é tratada de forma secundária. As meninas podem levar amiguinhas para casa, dormem juntas na mesma cama, enquanto os meninos precisam deixar a porta aberta e dormir em colchões separados.


 


Descontos


A menina é sempre a responsável pelo que fez de errado, enquanto os meninos são sempre “levados pelas amizades”. Ela, desde cedo, recebe uma carga de responsabilidade extra, além de o seu corpo se transformar mais rapidamente. Também precisam administrar a menstruação, o uso de absorventes, a pressão do padrão de beleza, sua popularidade na escola, enquanto o menino precisa apenas mostrar e afirmar a sua masculinidade desde cedo, todos os dias. Podemos dizer que a menina é educada para ser um ser social, enquanto o menino precisa ser um gladiador.


 


Medos


Para a menina, o estigma que amedronta é o da garota vagabunda. Ela precisa mostrar-se sempre de boa índole para não ser acusada de promíscua. Por isso, desde cedo, as garotas cultuam a discrição e atitudes não sexuais. Embora, ultimamente, a sexualização das crianças seja irrefutável, mas ainda são seguidos alguns padrões “morais”, buscando roupas e acessórios adultos com o menor teor de vulgaridade possível. Algumas ainda precisam encarar a falta de feminilidade, que as coloca como masculinas, quando a criança não gosta das atividades sociais atribuídas as meninas como brincar de bonecas, gostar de moda e outras atividades.


 


Já os meninos têm pavor da negação da sua masculinidade, ou seja, de serem chamados de “veados”. Algumas soluções são: ser agressivo, ter uma namorada e jogar futebol. Para os meninos que não gostam de todas essas atividades, fica o rótulo de homossexual. Isso é comum em crianças que não possuem noção da sua própria sexualidade e pode causar diversos problemas nesse ser em desenvolvimento, tirando a sua concentração em assuntos que devem ser decididos.


 


Desconhecido


Além da escola, essas crianças “especiais” que não gostam das atividades ditas “normais”, não conseguem encontrar em casa um descanso para a crueldade. Os pais simplesmente não sabem lidar com a situação diferente daquela que seus pais passaram e assumem que possuem um filho “anormal”. Não são poucos os pais que se preocupam com a violência que filhos sofrem dia-a-dia nas escolas por serem diferentes. Infelizmente, ao invés de buscar a felicidade dos filhos, esses pais buscam uma forma de negar o seu maior medo, de ter um filho homossexual. É comum que os pais forcem os filhos a se tornarem agressivos, ou os levarem em casas de prostituição, ou obrigá-los a praticarem artes marciais. Os jovens, muitas vezes, se sentem responsabilizados e assumem tal postura. Precisamos explicar que é natural as pessoas serem diferentes umas das outras. Um gosto diferente não as tornar tão diferente assim, pois todos temos discordâncias. A sexualidade, assim como a preferência por determinada cor ou esporte flui de forma natural, assim como acontece com quem gosta do sexo oposto ou do mesmo sexo. Mas lembre-se que o despertar sexual acontece após a puberdade, antes disso, pense bem se não é um adulto, ou o reflexo do mundo adulto, colocando maldade em um mundo cheio de inocência. Deixe o amor materno ou paterno falar mais alto.

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

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A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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