Será que ela é?

Redação Lado A 02 de Dezembro, 2005 16h02m

COMPARTILHAR


Será que ela é?



É engraçado como coisas idiotas fazem a gente pensar em coisas não tão idiotas…



Uma amiga minha me ligou essa semana com a seguinte pergunta:


– “Como você sabe quando uma mulher é lésbica?”


A minha resposta veio em menos de três segundos:


– “Se ela enfiar a língua na minha boca, pode contar que é sapa.”


Essa amiga minha é hetero, daí sua incapacidade de distinguir, em um agrupamento de pessoas sem a Cássia Eller, quem é gay e quem não é. Ela sabe que eu sou, e sabe porque eu contei. Passei por toda a experiência além-corpo que é contar para sua melhor amiga desde os 14 anos de idade que ela é o tipo de pessoa por quem você se apaixona. Ela ficou do meu lado desde então, me acompanhando em visitas ocasionais a bares gays, onde ela fica dura que nem uma porta, com cara de papel de parede que é pra não ser notada. Eu tento não rir, porque é assim que eu devo parecer quando estou no meio de um agrupamento de mulheres sem a Cássia Eller. A menos que uma enfie a língua na minha boca.



Mas a pergunta dela me fez pensar no assunto. E resolvi fazer um teste. Me enfiei em um ônibus lotado, daqueles Inter 2. Bom, não era exatamente pesquisa de campo, eu estava voltando para casa. Mas já que estava ali, me transformei de passageira irritada com o calor a pesquisadora esfomeada pela resposta à intrigante pergunta: como saber quando uma mulher é lésbica?



Ao final da semana, eu havia identificado 49 lésbicas, sendo que uma ainda não sabia que era (eu conversei com todas ao final da pesquisa, onde me apresentava como pesquisadora. Para algumas eu dei até meu telefone, mas isso não tem nada a ver com a pesquisa em si, mas sim com a pesquisada).

Aqui vai o método que eu utilizei nessa pesquisa:



1 – Pistas visuais:

Fazendo o contrário do que fui ensinada, estabeleci a máxima de que se pode julgar um livro pela capa. Partindo disso, analisei alguns itens, como roupas, cabelo, acessórios. Os mais encontrados foram:


a) Pochete: Também conhecido, a partir de agora, como crachá. (30 das entrevistadas).


b) Anel no dedão: para evitar acidentes doloridos que certamente ocorreriam se o anel estivesse no fura-bolo. (28 das entrevistadas).


c) Bermudão: facilmente confundido com qualquer pessoa em um dia com 40 graus de calor, mas indiscutivelmente um must para a geração mais nova de recrutadas. (15 das entrevistadas).


d) Camisetas da Xena: auto-explicativo. (5 das entrevistadas que, por sinal, estavam juntas e eram do fã clube).



2 – Pistas sensoriais:

Nem só pela aparência se julga um livro. Outras pistas me levaram também ao lugar certo (se a Deusa quiser!)


a) Música: 15 das entrevistadas estavam a cantarolar músicas de Zélia Duncan, Adriana Calcanhoto, Anna Carolina e Maria Bethânia. Não existe coincidência!


b) Leitura: no quesito revistas, qualquer coisa que não seja Marie Claire, Cláudia (com exceção da Casa Cláudia), Caras e Capricho. Quanto a livros, Fernanda Young, Rose Marie Muraro e Virgínia Woolf.


c) Conversa: praticamente todas as entrevistadas estavam acompanhadas (não necessariamente de outras mulheres). Algumas frases chaves entregaram todo o ouro pra bandida aqui. Entre elas:
– “Minhas três gatas, Gal, Bethânia e Ângela, estão no cio!”


“Aí eu falei pra ele: a gente vai chegar tarde porque você fica horas se maquiando!”


– “É nosso aniversário de namoro hoje. A gente vai jantar em um restaurante indiano.”


Outras frases também deram na pinta, mas a pista maior é o desconforto da troca de pronomes: ela para ele, dela para dele, e por aí vai.



Resultado:
das 500 pessoas que estavam nos 10 ônibus que eu peguei, 50 eram lésbicas (49 entrevistadas e euzinha). O que confirma a minha teoria de que se 10% da população mundial é lésbicas e que o melhor lugar pra conhecer todas elas é dentro de um ônibus lotado na hora do vamos ver, voltando para casa.



-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-



Nessa semana…

– o som é Ana Carolina, cantando “Quem de nós dois”
– o aroma é de bolo…. o gosto é de chocolate, meu regime!
– o filme é “Amores Possíveis”, pela Carolina Ferraz….
– para ler… minha coluna, claro.
– a frase é CALA A BOCA E BEIJA LOGO DE UMA VEZ.



-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-


Antes que eu me esqueça: parabéns pra você, nessa data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida! (para todas as apaixonadas).


Lady Jolie

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

COMPARTILHAR


COMENTÁRIOS