De volta ao armário

Redação Lado A 07 de Março, 2006 18h16m

COMPARTILHAR


 


Parece final de carnaval, parece final de festa. Um sonho interrompido seria o melhor exemplo para explicar a sensação que tomou conta de mim e de milhões de gays após o Oscar 2006, realizado no último domingo, dia 05/03. Brokeback Mountain não ganhou o Oscar de melhor filme deste ano, conforme quase todas as previsões. O filme do amor de dois cowboys levou melhor direção, melhor trilha sonora e melhor roteiro adaptado (conforme previsão dada ontem nesta coluna). O vencedor foi Crash. Um filme que também fala de violência, preconceito e medo mas de outros universos.


 


Ontem, foi publicada uma coluna com previsões, já que seria impossível dar o resultado verdadeiro. Era uma brincadeira mas que algumas pessoas não entenderam, então, segue a correção com o nome dos verdadeiros vencedores.


 


O Segredo de de Brokeback Mountain leva três prêmios de consolação


 


Não foi desta vez que Hollywood apoiou a causa gay com todas as forças. O premiado como melhor filme da 78ª. Academy Awards foi Crash, que fala de erros de julgamento, preconceito e violência. Embora Capote, biografia do escritor homossexual Truman Capote, tenha levado a estatueta de melhor ator com Philip Seymour Hoffman e O segredo de Brokeback Mountain tenha ganho como melhor diretor, roteiro adaptado e trilha sonora, faltou o prêmio de melhor filme para os cowboys que protagonizaram a película mais polêmica do ano. Até Trasamérica, que conta a história de uma transexual, filme inédito por aqui, manteve o suspense da indicação da atriz Fellicity Huffman até o fim, mas quem ganhou foi a nova queridinha da América, Reese Witherspoon, por Andando na linha, um musical  country. O Oscar 2006 pode ter tido a premiação mais gay da história, mesmo assim, a frustração foi enorme. Infelizmente, o sentimento do tal beijo negado persiste, a sensação de censura, de saber que você não pode ser você mesmo. Fica a esperança, o único remédio para dias como esses.


 


O que aconteceu?


É fácil culpar uma teoria da conspiração, a hipocrisia ou até mesmo a Igreja. Um prêmio como esse é passional, não se espera lógica pois são quase 7 mil votantes, de diferentes áreas de atuação e formação ideológica. Até quem não vota, eu e você, somos levados pelos nossos sentimentos. Mas não se pode culpar ninguém. Embora o presidente americano seja homofóbico, grande parte dos cineastas sejam judeus ortodoxos, assim como os financiadores, a culpa não pode ser jogada irresponsavelmente em cima deles, seria preconceito puro.


 


Mas como o filme que leva melhor roteiro adaptado, melhor trilha sonora e melhor diretor perde o Oscar para o filme que levou melhor roteiro original e edição?


 


Pelo simples fato de que são pessoas que votam, cada categoria de forma separada e de acordo com o que acharam do filme. Acontece, faz parte da brincadeira. Talvez o processo de votação mereça mais transparência, mas isso seria muita intromissão do público em um prêmio de uma academia de Cinema e Artes. Um Oscar talvez seja apenas um Oscar…


 


Do lado de fora do Kodak Theatre, em Los Angeles, um grupo de manifestantes comemorou a não conquista do Oscar para Brokeback Mountain. A atriz Michelle Williams, de Brokeback Mountain, recebeu naquele dia uma carta da escola onde cursou o segundo grau, dizendo que a instituição repudiava a sua participação no filme e a negava como aluna.


 


Mas nem tudo foram lágrimas


O diretor Ang Lee e o argentino Gustavo Santaolalla (ganhou pela trilha do filme) ressaltaram em seus discursos de agradecimento a importância do respeito à diversidade. Já  John Canemaker, ganhador do Oscar de melhor curta de animação agradeceu ao seu marido pelo apoio.

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

COMPARTILHAR


COMENTÁRIOS