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Uma concepção de Deus

Redação Lado A 26 de Maio, 2006 13h20m

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Fui assistir o filme mais polêmico do momento, O Código Da Vinci. Já havia lido o livro. Achei interessante. Mas claro, segui com ressalvas ao conteúdo, à ideologia que passam. Mas confesso, não saí ileso, nunca saímos. Somos todos náufragos em um mar de ideologias. E não há nada que não seja ideológico. No final, pode até ser contra-ideológico, contra uma ideologia, mas será uma ideologia de fato.


O ser humano é o único que tem a capacidade de criar e viver ideologias, já que é o único ser capaz de raciocinar, de questionar a sua existência, de adorar um Deus. Dizia o Barão Montesquieu “se os triângulos tivessem um Deus, ele teria três lados”, ele quem criou (ou resgatou) o conceito de três poderes de governo.

Mas quem somos? De onde viemos? Cada concepção religiosa à parte, somos aquilo que acreditamos, e daí talvez venha a razão de tanto sofrimento. São milhares de deuses, de seitas, de ideologias brigando ente si e faz parte deste jogo que uma verdade se sobreponha, domine, sufoque a outra, que convença mais.

Nesta grande luta de “verdades”, cada um tem a sua. Mas a verdade precisa ser única, senão não será verdade. O homem precisa se apegar a algo, algo que justifique seus atos e sua existência. Por isso, o criminoso julga-se certo, o opressor se julga correto e até a pobreza, a doença, a ignorância têm fundo religioso.

O homem criou deus e o amor, dizia Nietzsche, criou duas coisas para perseguir a vida toda. Algo que justificasse a sua inteligência, a sua diferença entre os outros animais, a sua existência. Mas a criação virou-se mais uma vez contra o criador e Deus e o amor viraram pontos de discordância. Qual deus é o certo? Qual forma de amor é correta? Poligamia, monogamia?


Por milhares de anos aqueles que controlavam as ideologias, a inteligência, a cultura, dominaram o mundo. Aos outros restou a árdua luta pela sobrevivência, a busca por Deus e pelo amor. Ainda hoje, homens e mulheres morrem tendo uma dessas três missões inacabadas durante toda a vida. E jamais questionaram o que o mundo os tornou. Escravos de suas próprias convicções.


 


Se Maria Madalena era mulher ou não de Cristo, isso não afetará a minha existência, pode afetar a história do mundo mas não a minha. O discurso de que a mulher é um ser impuro e saído da costela de um homem, não me interessa. Se Cristo existiu ou não, muito menos. O que interfere será o fato das pessoas matarem em nome de uma verdade que sobrevive na escuridão da ignorância. Muitos Cristos existiram e foram mortos, o fato de a história de o exemplo de Jesus Cristo ter sobrevivido 2 mil anos e ser adorado por alguns milhões em um mundo de bilhões de pessoas não me prova que é algo divino. Mas uma questão de marketing, sem dúvida.


 


Então qual a minha concepção para Deus? Bem, vejo como uma energia, na qual nos ligamos ao respeitarmos uns aos outros, ao ajudarmos os outros a pensar com a sua própria mente, por mais que uma simples palavra ecoe uma opinião. Vejo o mundo como uma ilusão onde vemos o que queremos. E isso serve de armadilha para acreditar que somos diferente e que exista uma hierarquia no universo e na terra. Creio que essa energia criou tudo, que somos aquilo que acreditamos, mas que o que acontecerá depois não nos importa e sim a vida que temos hoje, onde somos atores e executores. Digo sempre: “o que seria do bom se não fossem os medíocres”, e assim encaro a vida. Não tento separar as coisas em bom ou ruim. Não sentiríamos a felicidade se não experimentarmos a tristeza, não sentiremos o doce, se não provarmos o amargo.


 


No final, vivo prestando atenção ao mundo a minha volta, tentando não acreditar em tudo e a tirar as minhas próprias conclusões. E uma delas que eu cheguei é a de que o mundo seria um caos se não existisse as religiões e que a inteligência que temos [e uma ferramenta que devemos usar ao invés de seguir conclusões que não nos pertencem.

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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