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Entrevista: Lucca Kosta

Redação Lado A 19 de Maio, 2006 17h43m

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Como começou a sua intimidade com as artes?

Desde criança, sempre tive algum envolvimento com artes. Comecei com o  ballet, aos cinco anos de idade, depois veio a música. Estudei piano, canto, violão clássico, até guitarra. Teatro veio bem mais tarde, meio por acaso. Música é minha grande paixão. A profissão de cantora foi uma escolha consciente, mas já fiz um pouco de cinema, bastante teatro, que ainda faço, assim como o ballet.


Houve algum tipo de pressão quando você escolheu seguir os estudos em artes?

Meus pais sempre foram muito “musicais”, a música e as artes sempre foram importantes em nossa casa. Mas quando resolvi estudar para uma profissão, entrei em duas faculdades: a de música e a de Direito. Acabei largando a de música e cursando somente Direito, para agradar a meus pais. Continuei com a música em paralelo. Nem sei se precisaria de um diploma, porque nunca parei de estudar, acho que um artista tem que se aperfeiçoar cada vez mais, e sempre. O diploma de Direito fica para meus pais, de presente. Sei que não vou usar.


Qual a maior dificuldade em executar um projeto próprio de teatro?

É a segunda vez que trabalho para produzir uma peça minha. A primeira vez foi quando ainda era amadora, e participava do grupo de teatro da faculdade. Naquela época, sem nenhuma experiência, as coisas davam trabalho, tomavam tempo, mas, com dedicação, tudo deu certo. Até as músicas da peça consegui compor e gravar em um estúdio. Desta vez, a coisa exige mais seriedade, porque é um trabalho profissional.  “Conversa em Avalon” foi escrita com muito cuidado, para falar sobre
questões femininas, tolerância e religião sem tocar diretamente nesses
assuntos.  O trabalho de ator é difícil. São apenas duas atrizes em cena, com muito texto a ser dito. Precisamos ter muito cuidado com nossa preparação e com o estudo minucioso de cada coisa que se diz em cena, ou então, corremos o risco de deixar a peça cansativa.
Além disso, precisamos ler muito sobre a época medieval e as circunstâncias históricas do momento em que se passa a peça.
Outra preocupação é com os espaços onde apresentaremos o espetáculo. Devido ao tom psicológico, quase intimista, precisamos de uma proximidade com a platéia, que também precisa ser de poucas pessoas.

Enfim, são muitos detalhes que dão trabalho, exigem dedicação.
A maior dificuldade sempre é conseguir apoio, patrocínio, por isso já não conto muito com essas coisas, procuro fazer meu trabalho de forma mais independente possível, e caprichar na produção sem fazer gastos exorbitantes.


Qual a maior dificuldade que você encontrou por ser mulher?

A gente só se dá conta de que ser mulher coloca alguns obstáculos na nossa vida depois de amadurecer um pouco. Acho que a maior dificuldade que sempre tive foi ter que provar claramente que podia fazer o que me propunha a fazer. Nunca recebi nenhum crédito fácil para nada. Sempre fui julgada como menos inteligente ou menos capaz do que realmente sou. Mas cabe a mim, assim como a cada mulher, mostrar o seu valor. Acabar com o preconceito é difícil. Prefiro me acostumar à idéia de ser subjulgada, mas poder virar o jogo e mostrar que há mais em mim do que fragilidade e insegurança feminina.


Guinevere ou Morgana?

Ambas! Na peça, sou Guinevere. Me identifico com a personalidade forte dela, a paixão fervorosa em defender o que acredita, mesmo indo praticamente contra todos. Sob aquele corpo frágil e pálido se esconde uma força gutural. Por outro lado, toda mulher é um pouco Morgana, sensível, bruxa. Comigo não poderia ser diferente. Morgana tem um lado tolerante e apaziguador que é uma característica minha muito forte.

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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