Diário do fim de semana e momento filosófico

Redação Lado A 25 de Setembro, 2006 19h00m

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Floripa é tudo de bom no verão


Era sábado, mais de onze da noite, depois de ter prometido ao meu namorado que ficaríamos em casa, que não viajaríamos naquele fim de semana para Floripa, como fazemos todos os meses, mudei de idéia. Esta meio gripado e cansado mas o compromisso me chamou mais alto. Todos os meses eu deixo o litoral de Santa Catarina para entregar pessoalmente a revista Lado A, como uma forma de garantir um bom relacionamento com os donos das casas. Além de uma escapada estratégica de Curitiba.


Ouvi uma vez em uma peça de teatro que Curitiba é cruel. Ela te mata aos poucos. Lentamente você nem percebe o dia que não é mais o mesmo. Curitiba te transforma de um jeito que você começa a fazer parte de tudo aquilo que você contestava e agora encara com naturalidade. Tenho como referência o atendimento ao consumidor. Não existe lugar pior no mundo (talvez o controle de imigração das nações ricas) onde você é mais mal tratado. Não raramente a comida, por exemplo, de sempre, atrasa, te cobram errado ou o que você pediu nunca chega. Um dia você fica tão desatencioso quanto o servente. Você se adapta ao local. Mas, enfim, fomos viajar e curtir um outro estado.


Entrei no msn e chamei um amigo para ir. Ele topou e fomos, quase meia noite, pegar a BR-116. Muito Red Bull durante a viagem e parada básica em Joinville para entregar revistas. Depois, Balneário Camboriú. A chuvinha chata sempre presente mas as boates lotadas. Já era quase quatro quando chegamos na Ilha da Magia. Floripa, tudo de bom. Mas a maioria das boates fechou este ano fecharam aos sábados. Só a Concorde (Conca para o povo da ilha) e o The Pub estavam abertos. Sexta é o dia que todas abrem. Diferentemente de Curitiba onde todas abrem na sexta mas é nos sábados que elas bombam.


A baladinha na Concorde foi até depois das 7h da manhã. DJ André Marques levando a pista lotada à loucura. Encontrei alguns amigos de longa data, fiquei vendo aquele povo de corpo maravilhoso e óculos de sol e prevendo que o verão será mais uma vez tempo de se sentir gordo. Hoje, segunda, comecei uma nova dieta. Claro, foi puro desencarno de consciência, mas mesmo assim tentamos.


Fomos pro hotel, já tomamos o café da manhã e fomos dormir. Depois do meio-dia rumamos à praia, aquele sol forte e um vento super frio. Praia Mole, nem o Bar do Deca abriu. Domingo, parecia inverno rigoroso, pensei. Que saudades dos tempos de Bar do Deca e meus 19 aninhos… bem, o tempo passa. Pelo menos o meu namorado tem 19 aninhos, maliciei.


Havia comprado uma sunga de 70 reais no shopping do Cantinho da Lagoa, entrar no mar era questão de honra. Mesmo com a água congelante e um pingüim morto na praia (não duvido que morreu de frio), caí no mar. Precisava me reabastecer de uma energia que dizem que o mar a água corrente dos rios possuem. Eu realmente sinto esse descarrego, naquele dia ainda mais pois a água fria (devia estar abaixo de zero) realmente te tirava todas as preocupações do mundo, menos aquela que você acha que vai morrer de frio…


Saímos e voltamos ao carro. Ele estava realmente quentinho. Voltamos ao hotel, pegamos nossas coisas e rumamos de volta a Curitiba. Na viagem, muita piração, conversando e filosofando. Mas às vezes sai algo que presta. Chegamos em casa e fomos capotados lá pelas 2h da manhã dormir para encarar mais uma segunda-feira cinzenta.



Filosofando pencas


Discutimos durante a viagem de volta a importância do ontem em relação ao hoje e ao amanhã… Falei que o ontem não existe. Ele não passa de um pensamento nosso. Quem disse que foi real? Tem gente que duvida da realidade do presente, o passado não passa de lembranças. Lembranças essas muito manipuladas. Pense em um prato de comida, pedi ao meu namo. Feijoada sugeri (mais uma vez comida). Perguntei a ele se ele consegue idealizar o gosto da feijoada. Ele disse que sim. Depois eu falei: “Todas as feijoadas que você comeu tiveram este gosto?” Não, disse ele. Então você está menosprezando a importância das outras feijoadas, deduzi. Falei de amor como exemplo e quase me compliquei com o meu namo. Não se fala de passado para o atual, é preciso matar o passado muitas vezes, mas deu tempo de fugir pela tangente…


Enfim, existe algo mais importante que o momento e o futuro? O passado não existe no espaço e no tempo, a não ser em sua memória (contrariando a teoria de viagem no tempo). Pelo menos, para você, o passado não passa de uma memória que foi guardada e é tida como real. O passado histórico é uma percepção de outros… Agora, o presente é o momento real. O futuro virá a ser o presente mas é uma incógnita, por mais que você regre que o sol irá nascer e que irá se por todos os dias. E são essas regras naturais que criam os preconceitos e a idéia de naturalidade das coisas. O motivo de estarmos discutindo isso, foi o papo sobre amor e relacionamento.


Não devemos dar importância exagerada ao passado, vivendo de tradições e preconceitos que podem minar a sua vivencia presente e não podemos viver o futuro buscando ter o que não podemos. Precisamos viver o presente de forma consciente, consciente de que será um momento único e que não irá voltar. Então não nos arrependeremos no futuro e não termos que conviver com um passado incômodo.

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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