Nova escravidão: amor & cartão de crédito

Redação Lado A 24 de Outubro, 2006 04h58m

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Nos dias de hoje, vemos pessoas desesperadas procurando um grande amor e um posto de gasolina que aceite cartão de crédito. Engraçado como as pessoas viram grandes vítimas do dinheiro virtual e deste sentimento tão desejado que não resiste mais a saldos negativos ou brigas de casais.


O cartão de crédito parece mágico, o dinheiro vem de lugar nenhum e pronto… Você se sente a pessoa mais rica do mundo. Mesmo que em prestações ou pagando o mínimo. E o amor, igualmente, te faz sentir a pessoa mais feliz do mundo, desejada, sortuda. Mas o efeito contrário vem com a conta do cartão ou com o fim do relacionamento. Todo mundo parece ter sido ingrato com você, ou que você foi vítima de algo que você não sabia.


O ministério da saúde deveria avisar. Cartões de crédito fazem mal à saúde e amores tórridos também. Passa-se a vida inteira desejando bens materiais e um grande amor. Refiro-me à classe média. Eternos fadados a viverem se contentando com o que têm, sempre se queixando do que não tem e buscando, desesperadamente, mais crédito e mais amor.


Não à toa vivem comprando, se apaixonando. O pobre talvez encare melhor a realidade ou esteja ocupado demais com a sobrevivência. A classe média, não, ela vive um sonho egoísta onde tenta satisfazer o seu poço de carência sem fundo. Criam crianças para serem ricas, para casarem com ricos. As crianças da classe média vivem com a obrigação de superarem os seus pais. Tornam-se jovens competitivos, egoístas e seguem sentindo a pressão de provarem as suas qualidades. No meio de todo esse turbilhão, desejam alguém que os salve.


A classe média não gosta de gente mal sucedida. E igualmente detesta os bem sucedidos. Seja no amor, na carreira, nas compras feitas com o cartão de crédito. Pois o dinheiro virtual é status. O carro é status. A casa é status. Se é verdade ou não, ou se foi tudo conquistado de maneira lícita, bem, isso não importa. É essa a mensagem que fica para as futuras gerações.


O amor só vale a pena se ele de alguma forma funciona a favor. Não se amam mais pessoas. Ama-se o que elas podem fazer por você. O amor perdeu o seu visual romântico e virou o que ele pode te dar. O amor virou um cartão de crédito. Enquanto ele te faz sentir bem, mesmo que a conta no fim do mês seja perturbadora, vale a pena.


Enquanto isso, todos sonham com o príncipe encantado. Que agora não tem mais o cavalo branco e a espada (bem, tem a outra ainda). Mas o príncipe moderno é bonito, rico, tem um carro conversível e, claro, um bom cartão de crédito. De preferência sem limites e internacional.


Enquanto esperam o cartão de crédito ressuscitar (depois de 15 dias de compras que estouraram o limite), aguardam também aquele grande amor… sobra apenas assistir aos programas de televisão, sonhar em ser famosos ou, quem sabe, ganhar na Mega Sena acumulada… Por isso que eu sempre digo, pobre é mais feliz…

Redação Lado A

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A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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