Drogas – Que droga é essa?

Redação Lado A 17 de Janeiro, 2007 01h37m

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Muito se fala nas drogas, nos danos para a saúde, na violência que ela gera e pouco se faz. Muito se fala sobre a liberação das drogas, de uma legislação menos tolerante, do comércio internacional e pouca coisa muda, ano após ano. Parece até piorar.


É fato que as drogas acompanham a história do ser humano, algumas têm valor cultural. Outra verdade é que as drogas podem ser classificadas em lícitas e ilícitas e a grande diferença delas é basicamente essa, uma pode e a outra não. Outra coisa inquestionável é o dano que algumas drogas provocam e o preconceito contra os usuários das ilícitas. Bem, aqui vamos explorar um pouco desta hipocrisia que transforma drogas em um tema tão polêmico.


A idéia para este artigo foi quando eu soube que um produto usado para reduzir o respingo nas soldas estava sendo usado como inalante, substituindo o famoso lança-perfumes. Resolvi ir a campo e vi meninos de classe média alta usando o produto e comercializando diversas drogas. É um novo mercado que está se abrindo, são as drogas caseiras. Elas não têm garantia nenhuma de qualidade e são feitas em fundo de quintal. São oriundas de tranqüilizantes para cavalos, misturas inalantes, remédios de tarja preta ou feitas com base de receitas achadas na internet.


O ecstasy, já chamada de pílula do amor, apelidada de bala, é conhecida nas raves por aguçar os sentidos, dar sensação de leveza, euforia. Fora isso, ainda ajuda a tirar a sensação de fome, pela quantidade de líquidos que é preciso tomar. O preço de uma pílula de ecstasy varia de acordo com a marca e da festa. A lei da oferta e da procura gere todo o mercado de drogas. Quanto maior o cerco policial, maior o preço da droga e a disposição dos usuários em pagar mais caro, aumentando o lucro dos traficantes.


Algumas drogas como o ácido LSD (doce) e a maconha traspassaram os limites dos grupos sociais que os trouxeram para a fama e convivem juntos nas festas. Embora essas drogas sejam ligadas aos movimentos rock e reggae, em festas de música eletrônica elas podem ser encontradas. Outras drogas ganharam versões mais fortes e perigosas, como a maconha gerou o skank e do ecstasy surgiu a pílula de mmda puro.


O mais interessante é a hipocrisia e os argumentos utilizados. O lança-perfume era muito comum nos anos 70-80 e hoje é escasso, em razão do fechamento da última fábrica argentina que fornecia o produto ao Brasil via Paraguai. A falta do produto gerou um mercado para o consumo de um solvente para soldas, que custa 15 reais em qualquer loja de materiais de construção.


Ou seja, os políticos que na sua juventude desfrutaram do lança-perfumes por diversos carnavais, hoje, mal sabem que seus sobrinhos, netos e filhos estão consumindo um produto industrializado, altamente tóxico. Poderia ser cola de sapateiro, a mesma coisa que os trombadinhas e meninos de rua. Isso, sem falar no crack, o terror de todos pelo alto poder de deteriorar a vida de uma pessoa e ghb e outras drogas mais arriscadas.


É preciso reavaliar a legislação sobre as drogas. Ampliar a parte de educação sobre o assunto. Crimes são cometidos por pessoas que usam remédios controlados, por pessoas que bebem álcool, por pessoas sãs. Precisamos aceitar as drogas como parte da nossa sociedade, pois elas estão por todos os lados, às vezes disfarçadas com o nome de remédios. É preciso fazer algo, parar de evitar o assunto e deixar de ser hipócrita. Drogas são muletas, servem para criar uma situação mais confortável, mais disposição. E a pessoa precisará lutar pela sua vida, contra as drogas. Não é possível se drogar para sempre. As drogas podem ser um ato de desespero, um escape. Proibir  só aumenta a sensação de prazer pois as leis são reais e tudo o que se quer é fugir dos problemas reais. Um paradoxo, um jogo perigoso, lucrativo para alguns, prazeroso para muitos, e fatal pra outros, mas que sempre encontrará jogadores.


 

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

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A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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