Trabalho: direito ou dever?

Redação Lado A 13 de Abril, 2007 00h19m

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A cena é a seguinte: cidade grande; capital; cinco horas da manhã; milhares de pessoas acordando, cansadas, para irem trabalhar.


A outra cena: cidade grande; capital; cinco horas da manhã; um artista plástico acorda, bem disposto, entusiasmado e empolgado; deseja retratar em uma tela o sonho que tivera.


Outra cena: cidade grande; interiorana; cinco horas da manhã; um mulato rústico acorda, sem saber de si; engole algo; o Sol não acordou totalmente ainda; pega a enxada e vai carpir um terreno que não é seu.


Mais uma cena: Cidade pequena; interiorana; cinco horas da manhã; uma mulher, bem tratada, acorda, ainda sem saber de si.; vai até o celeiro e ordenha a vaca da família; com prazer, leva o leite, que extraiu do seu trabalho, para sua família.


Cidade grande; capital; cinco horas da manhã; um editor vela acordado; passara a noite corrigindo livros; manteve-se acordado graças a altas doses de alcalóides e cafeína.


Cidade grande; capital; cinco horas da manhã; um escritor não consegue dormir; não quer dormir; está inspirado e não parou de escrever desde a uma hora da tarde.


Mudemos de cena: Cidade grande; capital; seis horas da tarde; milhares de pessoas lotam ônibus; voltam exaustas para suas residências. Ou: Cidade grande; capital; seis horas da tarde; um artista plástico vibra, extasiado, pelo quadro que ainda cria; não tem o menor desejo de parar; não há um pingo de cansaço.


Cidade grande; interiorana; seis horas da tarde; um mulato rústico ainda trabalha na plantação; não sente mais as dores; está amortecido; se não terminar a plantação até a estação das chuvas, não terá colheita, e o senhor tomar-lhe-á a “posse” do terreno.
Cidade pequena; interiorana; seis horas da tarde; uma mulher, bem tratada, está sentada à mesa, junto ao marido e aos cincos filhos; jantam felizes e cansados, da comida que colheram na própria terra, onde suaram embaixo do Sol.


Cidade grande; capital; seis horas da tarde; um editor está dentro de um carro capotado, em uma avenida; exausto, procurando descanso, nem reparou quando dormiu ao volante do carro, que dirigia em direção ao seu apartamento.


Cidade grande; capital; seis horas da tarde; um escritor está em um café da cidade, bebendo com amigos; orgulhosamente, conta sobre o livro que começara a escrever, após a crise de abstinência literária que sofrera, antes de largar a editora que, por um contrato assinado, lhe obrigava a escrever o que eles achavam que venderia.

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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