A intimidade nada íntima de um dark room

Redação Lado A 25 de Abril, 2007 23h49m

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Provavelmente todos aqui já devem ter ouvido falar em um “tal” de “dark room”. Bem, caso não tenham ouvido, vou explicar. Para aqueles que por sorte, ou não, já ouviram, irei fazê-los lembrar.
Um “dark room” (em português significa “sala escura”) é uma sala encontrada em boates GLBT e casas de swing, onde várias pessoas encontram prazer. Prazer este que varia de acordo com a forma que cada um procura.

Apesar de escuro, o que nem sempre o está, pois sempre há um espertinho tentando quebrar a regra usando celulares, isqueiros ou qualquer coisa que ilumine, não se pode considerar um lugar com total privacidade, nem mesmo o anonimato, isto tudo partindo do princípio que várias pessoas estão juntas, se esfregando, tocando, tendo várias formas de prazer. Do oral ao anal, do par ao grupo.

Uma certa vez, para minha sorte e riqueza do texto, presenciei um “trenzinho” com, o que pude enxergar, quatro pessoas, todos rapazes, o que viria a facilitar os “encaixes” dos vagões. Mas seria justo julgar esta forma de se obter prazer? Creio que não; uma vez que todos estavam se divertindo com isso. Faz parte do ser humano, procurar sempre o que mais lhe agrada, seja da forma que for.

Mas, será que o prazer proveniente do sexo está ligado a todos os sentidos? A resposta é não e temos este oásis de prazer para nos comprovar isto. A certeza de minha afirmação não vem apenas do fato de observar, mas através de entrevistas feitas com pessoas que participam destes tipos de orgias, se assim podemos chamar. Por estes relatos, pude perceber que as pessoas que lá freqüentam experimentam certo tipo de prazer. E como experimentam!

Agora isto nos faz refletir. O que leva uma pessoa a procurar “dark rooms” para encontrar o tão procurado e desejado prazer? Como é ter relação sexual com alguém que você não vê o rosto? (Se bem que, dependendo do rosto, é melhor nem ver mesmo!) E como se consegue atingir o prazer com tantas mãos deslizando pelo corpo?

Uma das razões desta procura de saciar a vontade em uma sala escura está ligada à carência. Uma pessoa que está “fantasma” na noite, sem prender a atenção de ninguém, pode se tornar um Clark Kent em um “dark room”. Lá dentro, ele não precisa ser bonito, nem charmoso. Basta entrar, ter a ferramenta certa e uma mão já surge da escuridão à procura do seu corpo. Isto pode ser problemático, sobretudo se estiver de saia…

Outra razão é a própria fantasia sexual de possuir e ser possuído por vários ao mesmo tempo. Poder trocar de parceiro a hora que quiser. Isto nos leva às salas romanas de orgia. Ou ainda às salas de banho de Lesbos. Várias pessoas que não se conheciam intimamente trocando prazer, dando e recebendo.

Muitos dos freqüentadores destas salas escuras confessaram que já transaram lá dentro sem uso de algum preservativo. Um risco enorme por tão pouca coisa, uma simples aventura. Mesmo que haja a idéia de que “o que os olhos não vêem, o coração não sente”, neste caso, o coração pode vir a começar a sentir algo um tanto mais tarde, fazendo assim tudo ficar tarde demais. Com luz ou sem luz, prevenir é sempre melhor do que remediar.

Então, pode-se concluir claramente que, para estas pessoas que lá freqüentam, o olhar, a conversa, o QI, não importam de nada. O que eles querem é atingir um orgasmo, ter prazer, em claras palavras, sexo. O nosso tão querido amigo sexo sem todo aquele ritual de caça, de sedução. Para que todo este esforço? É só entrar e aproveitar a viagem que isto pode lhe proporcionar.

Mas enfim a pergunta que não quer calar…Curiosos? Não, nunca fiz nada lá dentro. Claro que muitas mãos passaram por mim, mas acho que está claro que meus objetivos eram outros. Mas, quem sabe um dia…?

* Lou Gottfried é transexual e antropóloga

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

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A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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