Bater em puta (negro, índio e veado) pode!

Redação Lado A 26 de Junho, 2007 10h59m

COMPARTILHAR


Cinco jovens agrediram gratuitamente a empregada doméstica Sirlei Dias Carvalho Pinto, 32, na Barra da Tijuca, bairro nobre do Rio de Janeiro na semana passada. Eles estão presos, localizados por meio da denúncia de um taxista que passava no local. O último se entregou nesta segunda-feira. Sirlei estava esperando seu ônibus quando os rapazes a derrubaram e a atingiram com socos e pontapés. Como justificativa, na delegacia, alegaram que acham que ela era uma dessas “vagabundas”. Os rapazes ainda roubaram a bolsa da moça.


Um crime que chocou o país mas que não ganhou debate no Congresso Nacional, como o caso do menino João Hélio, arrastado até a morte por três bairros do Rio, no início do ano. Os rapazes, desta vez, de classe média alta, não foram encarados como bandidos e monstros, “ele é um bom menino”, disse o pai de um deles.


Em Curitiba, a gang que agrediu um jovem com facadas em 2005 está toda em liberdade. Entre os acusados, uma filha de um general do Exército Brasileiro e o sobrinho de um desembargador. O processo ainda não foi julgado e o rapaz, Willian, hoje com 21 anos, afirma que voltou a ser ameaçado por um dos skinheads e já não acredita que será feito justiça.


Averiguando o que aconteceu com os guardas municipais de Curitiba, que agrediram um casal de homossexuais no ano passado, confirmei a informação de que eles receberam promoção, ao invés de serem penalizados, conforme indicava o processo administrativo instaurado pela Procuradoria Geral do Município. Ao perguntar para uma pessoa do alto escalão sobre o caso, ainda ouvi a seguinte frase: “Foi um fato isolado, um deslize” ou seja, bater em um gay passa, queria ver se tivessem batido em um dos filhos desse lazarento, se ele encararia como um fato isolado.


Tudo isso lembra também o caso do índio pataxó Galdino Jesus dos Santos, queimado vivo em Brasília, em 1997, por 4 jovens que o viram em um ponto de ônibus, foram até um posto de gasolina, compraram combustível e atearam fogo no homem que dormia. Deveriam ser ótimas crianças para seus pais. Foram condenados a 14 anos, cumpriam 7 e estão todos em liberdade desde 2004, em liberdade condicional.


Tal ineficiência da segurança, saúde, política, é averiguada em outro caso, contado por uma amiga esta semana. Ao parar de carro em um sinaleiro do bairro do Batel, um menino de rua deu voz de assalto para ela. Ela aproveitou o sinal que abriu e fugiu do meliante. No próximo semáforo, ela encontra uma viatura da PM parada na esquina e fala do ocorrido. “A senhora pode ligar para o 1-9-0, por favor?”, respondeu o policial. “Desculpa, pensei que vocês eram policiais”, respondeu ela.


E é bem isso. Ninguém mais faz a sua parte em nada e está tudo favorecendo aos bandidos, às pessoas de má índole, à incompetência e à violência. Assim não dá. Falta cumprir a lei, falta respeitar os direitos humanos… falta tudo… menos o meu imposto, que se eu atrasar, pago multa e juros.


PS: O veado, cervo, animal, este está rigorosamente protegido por leis ambientais, é um crime inafiançável e considerado grave por nossa legislação.

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

COMPARTILHAR


COMENTÁRIOS