Sobre a frustração de não ser bissexual

Redação Lado A 09 de Junho, 2007 00h27m

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Não sei se esse é um bom momento para escrever. Tudo que vier a partir de agora será muito tendencioso… com gotas de tesão e lágrimas de tesão contido… alguma pitada de raiva, talvez… e, com certeza, litros de amargura… não aquela amargura alcoólica, que colocamos em drinks sofisticados… antes fosse! Aquela amargura me deixaria feliz! Mas essa amargura é aquela de sempre, aquela que destrói tudo aquilo que poderia ser bonito e grande, mas não será.


Quero falar sobre as vontades divinas, que deveriam ser retas e em linhas tortas, ou algo assim. Quero falar sobre a chance que eu não tive, e essa frase me lembra muito o vampiro Lestat… Aliás, Entrevista Com o Vampiro seria o filme da minha vida hoje… é o monólogo ideal para o meu intestino…


Toda essa coisa de proibições, perturbações, protuberações… nem sei se essa palavra existe, mas me pareceu adequada… tudo isso que não é, mas que deveria ser, pois, assim, o mundo e minha vida seriam, no mínimo, mais legais… não que ela seja ilegal, sabe, já cometi alguns crimes do colarinho branco, estelionato, lavagem de dinheiro, agiotagem, mas tudo muito brandamente e sem intenção… cometemos esses crimes sem pensar… afinal, ela é minha tia! Eu não negaria um cheque em branco pra minha tia, mas enfim…


Eu assisto àqueles filmes de mafiosos, de Chicago na década de 50, e acho tudo tão lindo, sabe? O amor! O amor! O que foi feito do amor? Onde está o amor em gangsters? Ora, é meio óbvio! Talvez amor seja o sentimento errado… paixão! Paixão!


Sabe, o relacionamento dos meus sonhos é com um gangster… um que matasse meia Chicago por mim…


Até vejo a cena perfeita, eu nadando na piscina, enquanto ele está deitado numa cadeira, daquelas chiques, de colocar em beira de piscina, me admirando, então, entra um dos seus “capangas” pra falar sobre algum assunto de negócio, ele fica bravo, pois tem de parar de me olhar, fala rápida e irritadamente com o capanga, enxota-o dali. Nesse momento, n’um gesto majestoso, eu saio da piscina, seco meus cabelos n’uma toalha… azul… é, toalha azul… vou caminhando até ele, que está com o roupão entre aberto, bebendo um Hi-Fi e com uma revista aberta na mesinha ao lado, ele me sorri, eu retribuo o sorriso, ele abre os braços, eu deito em cima dele, que me beija afetuosamente…


Mas tudo isso é um sonho, no fim das contas… aliás, eu desvirtuei todo o contexto… como falei, tudo seria tendencioso… sobre o que eu realmente queria falar… era algo haver com bissexualismo e amor e carinho e afeto e tudo o mais quanto a humanidade não suporta, seja por ciúme, seja por maldade, seja por vaidade, seja por valores hipócritas…


Bissexualismo, é uma das frustrações da minha vida, sabe, não ser bissexual… o ideal seria amar… amar sem preconceito… mas o preconceito não é meu, é do meu corpo, eu aceito, é ele quem não aceita… não tem algo que me broxe mais do que uma mulher… e o pior, eu adoro mulheres, são seres tão perfeitos… claro, são bichos estranhos, mesmo assim, perfeitos…


Acho que, melhor que mulher, só golfinho mesmo.


Golfinho é um animal tão curioso, sabe, eles fazem sexo pra conquistar confiança. Um grupo de golfinhos, na verdade, é uma grande suruba. Todos ali já se comeram, mas é lindo, pois eles fazem isso para que um confie no outro, e é esse meu ideal! Todos os golfinhos são bissexuais, e todos transam por prazer, também, assim como o homem. Não é grandioso pensar que na natureza encontramos a maior perfeição de civilização que possa existir?


Transar com um amigo pra conquistar sua confiança. Se você for pensar, sexo é bem isso, uma coisa de confiança mutua. Ou você consegue relaxar com quem não confia? Eu não consigo… e, se você não relaxar, dói mais… E doer nunca é bom.


“Quanto vale um homem para amar você?”, é por isso que eu digo, ele é um profeta.


Essa coisa de transar por confiança e com qualquer um (veja, não é o lado vulgar da coisa!) foi idealizada primeiramente na Grécia. Todo mundo já está cansado de saber disso, e muita gente já se cansou de ler e ouvir discursos filosóficos como esse mundo seria ideal e perfeito… mas é como vampiros querendo viver entre humanos… mas não é isso que ocorre?


Acho que está na hora de assistir Alexandre: O Grande, novamente. Parece um momento nostálgico… É aquela famosa saudade do que nunca tivemos.


Quero um tempo que nunca vivi.

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

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A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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