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História da Homossexualidade – Parte 3

Arthur Virmond de Lacerta Neto 13 de Novembro, 2007 04h50m

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(Súmula do capítulo 4º de “Born to be gay. História da homossexualidade”, de W. Naphy).

No século V, Justiniano introduziu as primeiras leis de repressão à homossexualidade, que punia-lhes os praticantes com a castração, aparentemente como forma de ação política.
No século VII principiou o ingresso dos muçulmanos na Europa, com valores equivalentes aos do judaísmo e do cristianismo, relativamente à homossexualidade, que o islamismo entendia como reprovável e punível com a morte.

Na corte de Carlos Magno (séc. VIII), o poeta Alcuíno escreveu poesias homoeróticas. No mesmo período, S. Bonifácio e Hincmar de Remos condenavam a atividade sexual estéril, no entendimento de que a sexualidade voltava-se à reprodução.

A igreja católica reprovava a homossexualidade, como mais uma dentre outras atividades sexuais, sendo as mais graves o adultério e o incesto. Passou a reprová-lo com maior intensidade no século XII, época em que S. Anselmo reputava-o tão difundido, que ninguém dele se envergonhava (ao tempo, notabilizou-se a paixão de Ricardo I, Coração de Leão, da Inglaterra, por Felipe II, da França.): pelo Concílio de Latrão (1179), os padres homossexuais perderiam a sua condição clerical e seriam confinados em mosteiros, vitaliciamente, enquanto os leigos seriam excomungados.

A legislação secular seguiu o exemplo da igreja: em Castela, em Bolonha, em Siena, passou a punir-se com a morte os sodomitas, cuja repressão intensificou-se à seguir à Peste Negra, epidemia que grassou na Europa, em 1350, explicada como castigo divino à imoralidade sexual, encarnada nas prostitutas e nos homossexuais, à presença dos judeus e aos herejes, o que estimulou o combate a estes três grupos, tomados como bodes expiatórios.

No século XV, o despovoamento na Itália provocou uma severa repressão da homossexualidade, enquanto prática estéril, quer das camadas elevadas da sociedade européia, quer do clero.
Nas regiões da Europa ocupadas pelos muçulmanos, desde o século VIII, difundiram-se os conceitos de que Mafamede amaldiçoara os homossexuais, masculinos e femininos, e, embora se reconhecesse como natural  a atração de um homem por outro, condenavam-se os atos dela resultantes. A homossexualidade figurava abertamente na poesia de então, e, portanto, correspondia a tema do qual falava-se sem receios.

Na Índia, há, na literatura, abundantes referências à homossexualidade. Em um dos relatos do nascimento do deus Cartiquêia, ele resulta da deglutição do sêmen do deus Xiva (adorado sob a forma de um falo), pelo deus Agni; duas das principais deidades hindus, o deus da guerra e o da sabedoria, resultam de ações sobrenaturais entre deuses masculinos.

No início do século VII introduziu-se, na Índia, o movimento Bacti, de natureza religiosa, em que o amor, o desejo e o prazer sexual correspondem a meios de se compreender aspectos do divino.
A poesia muçulmana cantava o amor pelos rapazes, sobretudo os hindus e o primeiro imperador mogol da India, Zairudin, confessa a sua inclinação por um deles, Baburi.

Do século III ao XIII, ou seja, por mil anos, em que, na China, se fortaleceram o confucionismo, o taoísmo e o budismo, a homossexualidade não era motivo de censura. A ocupação  daquele país pelos mongóis introduziu uma lei que punia com a morte a sodomia, embora não haja registros da sua aplicação.

Ao contrário, na China, reconhecia-se a bissexualidade e a polissexualidade e o sexo como fonte de prazer, correspondendo a uma constante a total ausência de animosidade face à homossexualidade.
Antes da propagação, pelo mundo afora, dos conceitos cristãos relativos à sexualidade, a procriação correspondia a um seu escopo importante, porém não exclusivo, o sexo por prazer existia e nele pouco relevava o gênero do parceiro, e em todas as sociedades aceitava-se que a maioria dos homens experimentaria, em alguma altura da sua vida, contactos sexuais com outros homens.

Arthur Virmond de Lacerta Neto

SOBRE O AUTOR

Arthur Virmond de Lacerta Neto

Arthur Virmond de Lacerda Neto é jurista, filósofo, advogado, professor e escritor de sucesso. Nascido em Portugal, ele reside atualmente em Curitiba, e é colunista da Lado A desde 2007.

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