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Militância desfalcada com morte de Heath Ledger

Redação Lado A 25 de Janeiro, 2008 21h17m

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Militância desfalcada


Fiquei chocado essa manhã. No primeiro site que abri, dei de cara com a foto do cowboy gostosão de Brokeback Mountain e uma headline anunciando sua morte. Mas peraí, ele só tinha 28! Não era assim um monstro sagrado hollywoodiano, eu sei. Mas ter protagonizado o primeiro romance gay sem frescura do cinema lhe garante cadeira cativa perpétua no rol dos ícones GLS. Some-se isso à morte de Luiz Carlos Tourinho, o mariquinha trapalhão de Suave Veneno (alguém ainda lembra?), num momento delicioso da carreira como personagem da novela das seis. E tinha pouco mais de 40 anos. De fato, uma semana pra lá de sombria no planeta arco-íris.


Militâncias à parte, é importante lembrar que um filme gay ainda escandaliza a velha guarda, e que beijo homossexual na novela é uma barreira que ninguém consegue transpor (até filmagem já teve, mas ninguém ousou colocar no ar). Sim, ainda pertencemos à minoria. Uma minoria que tem renda acima da média, freqüenta os melhores restaurantes, se veste bem e cuida do corpo, tem estilo e bom gosto, é educada, fina e culta. Mas que ainda é alvo de preconceito. Em se tratando de mídia e celebridades, cada degrau escalado é uma conquista. E vamos olhar pelo lado bom. Já contamos pro mundo inteiro a história dos cowboys viris e bonitões que, um belo dia, descobrem que gostam mesmo é de homem, mas sem perder a masculinidade e a discrição. Fora aos estereótipos! Porque salvo o circuito Jardins São Paulo e outros raríssimos paraísos friendly no Brasil, o preconceito está por todo lugar. Em cidades do interior, mães se chocam ao descobrir que o filho é homossexual. Meninos e meninas “entendidas” têm que transpor longas distâncias até points GLS das capitais, marginalizar relacionamentos e fazer de tudo pra esconder a “opção” (besides, desde quando ser gay é opção? Levando em conta o quesito sociabilidade, não seria mais prudente “escolher” ser hétero?). Tem algo mais gostoso do que desfilar pela rua de mãos dadas com o amor de sua vida? Agora tente fazer isso em Curitiba ou Florianópolis, por exemplo. Gays ainda lidam com dúvidas e conflitos que beiram o ridículo. A mãe chora dizendo que o filho não será feliz nunca, o pai cobra netos, os amigos perguntam se o garotão usa calcinha. Conflitos familiares e piadinhas pipocam aos montes.


Cabe a nós defendermos nosso espaço, sem nos fazer de vítima, sem revelar detalhes pessoais a quem não interessa, sem ser escandalosa como Priscilla, a Rainha do Deserto. Como o cowboy ativo e misterioso da montanha brokeback, Heath Ledger desempenhou papel altamente relevante nessa luta. Uma luta pela cidadania. Pelas manifestações públicas de carinho, pelo casamento sem polêmica, pela adoção de crianças, pelo respeito pleno e queda dos famigerados tabus. E, quem sabe, pelo tão esperado beijo na novela das oito.

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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