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O movimento guei em Portugal

Redação Lado A 12 de Fevereiro, 2008 12h51m

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País de origem portuguesa, existe, no Brasil, infelizmente, lusofobia, o desprezo pelas nossas origens históricas e por Portugal. Trata-se de um dado cultural, de um padrão de entendimento e de sentimento que se instalou no sistema psicológico de muitos brasileiros, à maneira de preconceito.

Assim como a homofobia corresponde ao preconceito contra os homossexuais, a lusofobia corresponde ao preconceito que desmerece a cultura portuguesa e acusa a colonização que Portugal desenvolveu no Brasil. Como todo preconceito, ele equivale a uma falsificação da realidade, em desprezo, injusto, do objeto a que se refere.

Este preconceito surgiu ao tempo da independência do Brasil, como reação da população colonial, no seu anseio pela emancipação política, e mantém-se como  renegação da própria identidade cultural do brasileiro. 

Com inverdade e injustiça, propalam-se, mesmo nas escolas, informações vexatórias, que mantêm a lusofobia, como as de que o Brasil teria sido colonizado por degredados e por prostitutas, que a então colônia era depósito de criminosos, que a colonização holandesa teria sido preferível à portuguesa. Trata-se de falsidades muito correntes dentre os brasileiros: nem fomos colonizados pela escória de Portugal, nem o Brasil foi valhacouto de delinqüentes, como, sobretudo, a presença holandesa no nordeste foi, a todos os títulos, detestável.

Felizmente, alguns pesquisadores isentos revelaram os aspectos positivos da presença portuguesa no Brasil, a exemplo do paranaense Rocha Pombo, de Viana Moog, de Carlos de Mendonça.

Após haver sido, durante as décadas do regime de Salazar, um dos países mais pobres da Europa, Portugal, na atualidade, é um país moderno, que rapidamente se vem se elevando em todos os aspectos de desenvolvimento, cujo povo caracteriza-se por um senso de educação, de consideração e de respeito pelo próximo que faltam-nos, em boa medida, e que devem servir-nos de exemplo, como, sobretudo, serve-nos de exemplo o conhecimento do idioma e o seu uso corretíssimo, pelos portugueses, muito superior ao que se verifica no Brasil.

Toda forma de aproximação entre brasileiros e portugueses é culturalmente enriquecedora: neste sentido, sugiro um sítio eletrônico português, voltado ao público gay, o Opus Gay (www.opusgay.org) em que se encontram matérias de atualidade relacionadas com a vida política portuguesa, com a lei de imigração, com decisões judiciais, com investigações universitárias, com a programação radiofônica, com o voluntariado, com apoio psicológico, todas no interesse da comunidade homossexual.

Para finalizar, à maneira de anedota: emitiu-se, pela televisão, uma propaganda em favor da aceitação da homossexualidade, em que viam-se duas senhoras idosas, em um banco de praça, a tricotar, ambas de negro (o luto pela viuvez leva-se a sério em Portugal), agasalhadas. Passam por elas dois rapazes, de mãos dadas, ao que uma delas exclama, inconformada, algo como “Não pode ser!”: era porque um dos meninos achava-se de camiseta regata, desagasalhado, em meio ao frio do inverno.

Ou seja, o motivo da reação da velhota correspondeu à sua preocupação com que rapaz achava-se exposto ao frio, e não a que andava de mãos dadas com o seu par.  Esta cena divulgou-se como parte da campanha pela indiferença à homossexualidade como critério de acepção de pessoas.

Nota do Editor
Apesar de um país tradicionalmente conservador, Portugal tem ótima qualidade de vida para os homossexuais. Nos últimos anos, celebridades portuguesas têm saído do armário e ajudado na luta contra a homofobia. Exite uma preocupação governamental clara sobre o tema que se reflete em locais mais tolerantes nos grandes centros como Lisboa e Porto.

Na cidade de Lisboa, a Cidade Baixa e alta são recheadas de casas para gays e lésbicas que contam ainda com instituições fortes em defesa de seus direitos como a Ilga-Portugal, entidade que age de forma endêmica dentro das universidades por meio de voluntários. Apesar do idioma semelhante, o mundo gay de Portugal é bem diferente do brasileiro, mas igualmente encantador.

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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