“Tenho meditado e sofrido, embalada com esse corpo e seu aquático jazigo… pen san do que se a mim não deram esplêndida beleza, deram-me a garganta esplandecida, a palavra de ouro, a canção imantada…” Só pelas “palavras de ouro”, porque cantar, só no chuveiro pra mim. Comecei citando esse trecho da Canção IX, Hilda Hilst, pois estou tendo momentos revolucionários e quase cotidianos de epifania. “…No sentido literário, a “epifania” é um momento privilegiado de revelação, quando acontece um evento ou incidente que “ilumina” a vida da personagem.” (http://pt.wikipedia.org/wiki/Epifania )
Por exemplo, estou lendo a biografia de Oscar Wilde, por Richard Ellmann, e cheguei à conclusão que vou parar com essa história de querer fazer Interior Design. Meu negócio é sociologia e antropologia, como sempre soube. Qualquer coisa que não seja pra ajudar a humanidade tem valor nulo. Tá, luxo, poder, riqueza e sedução muito me agradam. Mas nem só de stylish furniture viverá o homem.
Mas a minha mais incrível, na minha singela e burra opinião, epiphania foi a seguinte: Estou eu, lindo, loiro e japonês, lendo God Delusion (Deus, um delírio – Richard Dawkins) e sentindo aquela agonia, sabe, de perceber que a humanidade não tem futuro. Então eu penso cá com meus botões de carne e osso: “Eu queria ser um animal nas Ilhas Galápagos, sem ter que me preocupar com religião, sem medo de apanhar porque dou meu rabo, etc, etc, etc” e me lembro que eu teria que lutar por comida, espaço e muitas outras coisas.
Ou seja, qualquer tipo de sociedade não presta, mesmo entre os animais. Com exceção dos golfinhos, eu sou um super defensor dos golfinhos, acho que todos nós seríamos melhores se golfinhos.
Anyway, qualquer sociedade constituída, mesmo na natureza, acha uma maneira de destruir-se e destruir as outras. Será isso uma natureza violenta que surgiu na primeira célula no primeiro conservado pra comer outros aminoácidos? Será essa a “Fittest Law” de Darwin? Ou será o nosso querido deus judaíco-cristão brincando de dados?
Olha, não sei. Mas não faz sentido.
Já dizia um filósofo grego qualquer que o homem é um ser social.
Discordo. O golfinho é um ser social, o homem não. Nem homens macho, nem homens fêmea (vide A Casa dos Budas Ditosos). O homem, e qualquer outro ser, com exclusão dos golfinhos, tartarugas e plânctons, não é social.
Mas não rola se trancar numa caverna, até porque, não existe tanta caverna pra abrigar todo mundo. Sociedade não é natural, foi necessária pra sobrevivência da espécie. Mas o homem já percebeu que é algo que vai sucumbir, se já não sucumbiu há muito tempo.
Sociedade trouxe os males da sociedade, incluindo religião.
Sim, religião, no sentido de crença em algo superior, supra-super-natural, místico e inevitável que governa nossas vidas. Não no sentido de acreditar.
Vou citar aqui novamente a minha religião preferida: o culto ao Unicórnio Rosa Invisível. É a melhor religião, ever. Sim, é e pronto. Não há o que discutir. Entendeu? A minha religião é melhor que a sua. Eu sou um retardado por isso, não sou?
Pois é, então, se tua religião é melhor que a minha, isso faz de você o que?
O homem é um ser mutável com tendência ao suicídio coletivo por um bem maior. Bem maior em causa própria, é óbvio. Religião está aí para nos mostrar que existe um sentido na vida. Afinal, o que é Deus se não tudo? Mas, o que é tudo se não o mais completo e vazio nada? Logo, Deus é nada, e como nada é simplesmente a não existência, Deus não existe.
Religião, sociedade e Deus. Três coisas que movem o pseudo-mundo Ocidental e cruelmente são três coisas que ou não existem ou não funcionam. Então, em que caminho vai o mundo Ocidental? Não sei, mas caminha usando viseira.
