Dica de cinema: Apenas Uma Vez

Apenas Uma Vez (Once -2006), um musical diferente dos modelos tradicionais estreou nesta última sexta-feira nos principais cinemas do país. O longa narra a história de um talentoso músico desiludido com o amor, que ganha a vida com seu violão nas ruas de Dublin e ajuda o pai numa loja de aspiradores de pó, e a de uma imigrante tcheca que anda pelas mesmas ruas, vendendo rosas para sustentar sua família e tem como hobby tocar piano. A rotina e o cotidiano, aliados ao acaso, permitem que eles se encontrem e a paixão pela música fará com que eles vivam uma experiência inesquecível.

O mais intrigante nesta história é como o gênero dos musicais é tão pouco explorado pelos cineastas. Basta pensar nesse estilo para que venham à mente filmes que alternam cenas dramatizadas com seqüências de dança e música, em que seus protagonistas saem dando piruetas e cantando seus sentimentos. Essa é a fórmula do gênero e poucos se atrevem a tatear suas barreiras – ou mesmo estender a mão além delas. Porém Apenas Uma Vez vai na contramão destes clichês.

O roteiro aparentemente não impressiona, e nem deveria. O filme é memorável pela sua habilidade em fazer o que parece óbvio a qualquer produção: deixar que seus personagens guiem a história. Entretanto, o universo de Apenas Uma Vez é real, povoado por pessoas de verdade, com sentimentos de verdade que afloram através das belas canções da trilha sonora.

O filme com direção de Tim Fleming e orçamento de apenas U$150 mil é uma bela metáfora amorosa. Uma nota tímida aqui, um ensinando ao outro uma nova dinâmica ali, os dois personagens buscando os mesmos acordes. O futuro pode ser uma música, um álbum ou apenas uma canção isolada, seja ela perfeita ou fora do tom. As chances e os riscos do relacionamento rumarem por um caminho ou o outro são infinitos. E parte do processo de amadurecimento é medir tais riscos.

Vencedor do Oscar de Melhor Canção Original, Apenas Uma Vez resulta assim não um longa que usa a música apenas como linguagem, mas um que a emprega também como tema. O romance é menos físico e vai mais pelo processo criativo. O relacionamento se torna colaboração – e há poucas coisas tão românticas quanto isso. Vale a pena conferir!