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Tudo sobre o XVIII Crystal Fashion

Redação Lado A 15 de Abril, 2008 18h37m

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COBERTURA EXCLUSIVA LADO A NO CRYSTAL FASHION
O editor de moda da Revista Lado A, Diego Lehmkuhl, está em Curitiba acompanhando o XVIII Crystal Fashion e assina as críticas dos desfiles. Allan Johan faz a cobertura social e backstage do evento. Todos os dias, novas imagens exclusivas, textos e as melhores fotos de cada desfile.

Dia 6 – 12/04
O Paraná também é fashion!
A última noite do Crystal Fashion trouxe os desfiles da esportiva Track & Field e um grande e cansativo desfile de jóias e acessórios. Nós terminamos aqui nossa cobertura das principais semanas de moda do Brasil. Você, agora, já tem todas as informações que vai precisar antes de jogar nas compras para abastecer o guarda-roupa de inverno. Nós voltamos a falar de moda todas as semanas no site da Lado A.

Para os desavisados, o Paraná não tem grande expressão no que diz respeito à moda. Só aos desavisados. Observando com calma, o estado mostra grandes proporções: grandes parques fabris estão por lá, que está também no ranking do estado com mais de faculdades de moda. O que esperar então de um evento de moda paranaense?

Tudo bem, sabemos que as marcas paranaenses não têm o design como ponto forte. Mas entre os dias 07 e 12 de abril, a 18ª edição do Crystal Fashion mostrou em seus desfiles todas as releituras possíveis que as grifes são capazes de fazer com as tendências de inverno apresentadas nas grandes semanas de moda. Acredite, apareceram coisas interessantes.


Inevitável comparar o evento aos tradicionais SPFW e Fashion Rio. Na abafada garagem do subsolo do Crystal Shopping, onde aconteciam os desfiles de Curitiba, os backstages eram vetados aos jornalistas – visitá-los antes dos desfiles é comum no eixo SP-RJ. Os estilistas e donos de marcas são praticamente inacessíveis na semana de moda do Paraná, o que dificulta bastante entender tudo aquilo que acontece na passarela, saber de onde vinham e para onde queriam ir as coleções.
Não dá pra saber se as marcas paranaenses estão realmente dispostas a crescer e brigar pelo seu espaço no mercado, aqui só desfilam grandes marcas de fora, a única conterrânea é a Puramania. Agora fica claro que estas marcas estão dispostas a vender. Sabe qual a maior arma? A celebridade. Elas apostam em atores, cantores, atletas e ex-BBB para atrair o público e, principalmente a mídia local. Algum tempo atrás, até poderia haver críticas sobre isso, porque sonhamos em ver a roupas como foco de atenção num evento de moda. Toda magia da passarela, trilha, iluminação, styling…mas não. Celebridade vende. E contra isso não há argumento. E é isso que o grande público quer ver, a atriz da novela vestindo uma peça na passarela, e olha só, ela ficou tão linda. Ótimo! A venda deve ser certa.


E o que pode soar como um problema muda de figura. As empresas estão mostrando que passaram a se preocupar, também, com a importância de um desfile, cuidam dos detalhes, que no total fazem toda diferença. Não para aqueles que só buscam os “famosos”, mas pra quem realmente gosta de moda e quer saber o que anda acontecendo pelo mundinho fashion.


Ao que parece, a fórmula do casamento celebridade + moda comercial realmente funciona bem por aqui. Mas terminamos a cobertura dessa semana no desejo de próximas edições mais engajadas no quesito fashion e o desejo de ver a moda paranaense brilhando na passarela e exportando talentos locais para outros lugares.



Dia 05 – 11/04
A penúltima noite de Crystal Fashion foi menos forte que a de ontem: o ponto alto foi a coleção da Patachou; já a Calvin Klein Jeans apresentou uma coleção bonita, mas sem grandes novidades em termos de modelagem colocando na passarela uma moda bem casual, cheia de peças que meninos e meninas já usam há muito tempo (e vão continuar a usar): jeans, camisetas, moletons.

Calvin Klein Jeans
A influência do futurismo esteve bem clara na coleção inverno 2008 da Calvin Klein Jeans, mas sem perder a essência clean e minimalista que caracteriza a grife. Dos vestidos e coletes com capuz aos cachecóis e casacos mais pesados, a marca dosou tecidos finos com peças pesadas para mostrar na passarela sua inspiração.

Os vestidos são leves e aparecem com muitos acabamentos e texturas inusitados. O contraponto fica por conta dos casacos e jaquetas de moletom estampados e dos trench-coats em algodão ou nylon.

Os jeans vêm em sua maioria justos, em lavagem cinza, com exceção de algumas calças masculinas mais escuras e de pantalonas femininas, seja de cintura alta ou no lugar.

Destaque para os acessórios, com botas em matelassê, com fivelas e cadarço encerado e com canos em três alturas. Os tênis são mais esportivos, em sarja vulcanizada, também em cano longo ou baixo. Há ainda carteiras pequenas, nécessaire, mochilas, bolsa carteiro em nylon e couro e, na onda college, bonés em sarja bordada ou tinturada.


O styling até tentou caprichar na composição dos looks, pincelando tendências aqui ou ali. Nada suficiente para salvar mais um desfile ultra-comercial, sem nenhuma novidade, mas que deve agradar os clientes cativos da C.K.


Dia 4 – 10/04
A noite não podia ter sido melhor nesta quarta noite de Crystal Fashion. O desfile infantil da Lilica & Tigor abriu a noite seguida da Ellus, que deu um verdadeiro show de estilo na passarela. Nada de desfile megalomaníaco nem de trem e plataformas, como na apresentação do SPFW, pelas terras paranaenses a grife paulistana fez um inteligente jogo, misturando peças conceito com uma coleção comercial, criando um resultado no mínimo ousado e deixando qualquer fashionista louco para abastecer o guarda-roupa de inverno.
Depois dos desfiles, a equipe da Lado A se jogou na Gaaz pra comemorar os 2 anos deste trabalho pioneiro no sul do Brasil e lançar a 21ª edição da revista, a primeira na versão Deluxe. A nós tin-tin!!!


Ellus
Ao soltar a trilha a grife de jeanswear paulistana mostrou como o universo punk, dark e até o estilo caubói podem ganhar toques de glamour e sofisticação.


A direção criativa assinada por Adriana Bozon propõe um inverno de identidades fluidas, onde a diversidade de elementos cria uma imagem sólida. A jaqueta perfecto é, sem dúvida, a peça chave da coleção, que traz também releituras interessantes do jeans “five pockets” só em tom black e modelagem mais sequinha, espartilhos, t-shirts em malha flamé e camisas xadrezes, tudo com a intenção de criar um novo olhar sobre o clássico urbano. Os anoraks, os mantôs de lã e as sobreposições devem aquecer o inverno da Ellus. Os tons negros são quebrados pela inserção de pinks, turquesas e amarelos e nos detalhes com bordados de metais: paetês, tachas, plaquetas e medalhas. Não vai dar pra resistir às botas tipo coturno em vários modelos tanto para eles como para elas.


A Ellus fez uma coleção “espetáculo” no ímpeto de celebrar o novo momento pelo qual a marca vem passando, após a compra de parte dela pela INbrands, mas sem deixar de lado seu jeito urbano de ser.


Dia 03 – 09/04
A quarta-feira foi bastante produtiva por aqui. Na parte da tarde, a querida Alexandra Farah, editora do site Filme Fashion e colunista de cinema da Vogue, palestrou no Fórum de Moda sobre o atual cenário e construção da imagem de moda.
Já pela noite, a Y-Man apresentou sua coleção de inverno para os meninos despojados.

Com direito a muito ui, ai, ui, ai na trilha, a TNG fechou a terceira noite do Crystal Fashion. E teve até ex-BBB milionário na passarela e histeria das meninas; Rafinha causou furor como uma verdadeira celebridade internacional. E nem me dou ao trabalho de discutir o mérito BBB de ser, por que, aliás, quem foi que nunca deu uma espiadinha?

Tudo bonitinho, na medida certa: unidade estética, muita pesquisa e compromisso com o desenvolvimento dos temas. Mas se tem uma coisa que o pessoal da TNG sabe fazer muito bem é juntar uma coisa com outra coisa completamente diferente. Junta materiais, sobrepõe tempos, combina detalhes, ajusta aqui, alarga ali, aplica. Não dá pra esquecer os amarradinhos e os zíperes. Parece que o pessoal gosta também de fazer nozinho, dar laçadas, passar o fio na agulha. Tem outra coisa: o pessoal gosta também de criar bossas. Sabe aquelas coisinhas que a gente compra e faz acontecer? Modismos mesmo! Depois passa e a gente fica só esperando a próxima onda chegar na nossa praia.

Moda é isso mesmo. Cabe tudo e algo mais. Termino a terceira noite satisfeito.

Ahh, não se esqueça de conferir o site da Alexandra, é o máximo: www.filmefashion.com.br


Y-Man
A atmosfera é militar desconstruída na coleção inverno 2008 da Y-Man. Os modelos entram na passarela usando casacos estruturados, calças mais justinhas e muitos cachecóis e pashminas.

É preciso ser moderno e despojado para entrar nessa onda, pois as peças estão de estilo, e usam muitas sobreposições.

Agora se você prefere discrição, a grife propõe peças mais sóbrias, que não deixam de ser arrojadas: paletó de moletom com capuz, calça jeans básica com modelagem mais seca e blusão amplo em tricô. Legal mesmo são as botas de meio cano, tipo coturno.


A Y-Man acerta e deve agradar seus clientes gregos e troianos.



TNG
A coleção de Tito Bessa, que este ano recebeu um upgrade no streetwear da TNG pelas mãos sábias da ultraeditora de moda Regina Guerreiro, deixou o inverno alegre e divertido com a cartela de cores em azul, roxo, verde e amarelo.
Macacões de fórmula 1 invadem a passarela, com as devidas proteções para quem quiser se aventurar em altas velocidades, pois luvas e capacetes não faltaram para compor os looks. Ainda tiveram as jaquetas perfecto de motoqueiro, lindas e com recortes nada convencionais.

O tailleur ganhou um abotoamento tortinho, o colete tem abotoamento duplo, o terno vem com modelagem mais ampla e é de veludo vinho, a calça Aladim (que tem aparecido em vários desfiles cariocas, bufante com a boca ajustada) é cinza clara e traz pregas (fina!). Profusão de zíperes, aposta no tricô (outra tendência do Fashion Rio) e transparências também acrescentam e enriquecem os looks da marca.
A infiltração de peças masculinas no guarda-roupa das mulheres, característica marcante de Regina, não vem em pegada smoking ou fraque, o que deixa tudo bem mais fresco – caso contrário, ficaria com cara de “tendência de ontem”. Teve até espaço para loucura fashion com modelo de macacão justérrimo, carregando bolsas coloridas de vinil e usando um sapato de cada cor!


Dia 2 – 08/03
Cadê a coroa? Cadê a coroa?
Pois era essa a pergunta que devia estar se fazendo a atual, quase ex, miss Brasil Natália Guimarães. Ela foi a grande homenageada da noite, com direito a troféu das mãos da primeira dama de Curitiba. Mas qual era mesmo o motivo da homenagem? Provavelmente a beleza, que renderiam fotos para as colunas sociais dos jornais do dia seguinte. Eu continuo a insistir: onde está a moda paranaense? Será que num estado com tantos cursos de moda, não existem bons criadores por essas terras? De tudo o que se vê, dá pra tirar uma conclusão: Tá faltando riscar mais, rabiscar, amassar papel  e jogar no lixo para a reciclagem. Tá faltando imaginação, perder horas de sono e dormir insatisfeito. Tá faltando espelho, fazer carão na frente dele e observar cada detalhe, procurando identificar onde é que está o erro. Deixar só com as celebridades e a miss a responsabilidade com a imagem do evento para garantir espaço na mídia…  Nada de novo no front , nos lados, em cima e em baixo. Com medo de arriscar o Crystal Fashion corre o risco de ficar bem lá pra trás ou ficar igualzinho a tantas outras semanas de moda que passam despercebidas porque não acrescentam nada.  Moda é risco, caso contrário vira cisco no olho de quem vê.
 
Liliana Castellaños
Ótima a idéia de Liliana Castellanas de resgatar a feminilidade e a elegância através de um novo olhar em uma coleção de inverno para dias de muito frio. As modelagens são amplas na parte de cima com casacos compridos, casacos ¾ e jaquetas de baby alpaca e suri alpaca de tecido plano, com a aplicação de bordados e aplicações feitas à mão e justo na parte de baixo, além de botas de cano longo e as de estilo montaria.

A estilista ainda cria um jogo inusitado com os detalhes interessante com materiais distintos como o algodão Pima, o Cashllama, as aplicações de teares à mão, os detalhes de bordados, os laços de seda e as cintas. Agora é aguardar a chegada da primeira loja do Brasil da estilista boliviana, que deve vir recheada de surpresinhas.


Rampage
Na passarela da Rampage nada de novo. A marca trouxe em seu desfile tendências que serão fortes no próximo inverno, tudo com muita sofisticação. Sem um tema definido, a grife foge das obviedades e abre um leque de possibilidades e opções, agradando a todos os tipos de mulheres. O shape varia entre o justo e o over, com volumes superfemininos, tecidos texturizados e cintura sempre marcada por cintos ou recortes.            Camisas com trabalhos tipo origamis japoneses e vestidos chemisiers, nervuras, preguinhas e babados se destacam. Casaquetos sequinhos de ombros marcados também chamam a atenção. Os volumes das mangas são infinitos: casulo, borboleta, morcego, pétala e kimono. Já o  Trenchcoat surge em vários comprimentos e materiais, além de calças, bermudas e shorts de alfaiataria. Sem grandes sobressaltos nem grandes escorregões a grife apresenta uma coleção que deve ter seu público fiel.

Dia 1 – 07/04
A primeira noite da XVIII edição do Crystal Fashion, em Curitba, foi uma verdadeira caixa de surpresas para mim. Há quase 10 anos sem vir esta charmosa cidade, resolvi que era hora de conferir de perto o que se produz de moda pelas terras paranaenses. O evento acontece num shopping, no charmoso bairro do Batel, tudo num grande clima de festa. E se você já está torcendo o nariz para este fato, desista! A organização do evento é impecável, mas como toda boa semana de moda, tem lá suas peculiaridades.


Mesmo que o clima agitado e a excitação tenha sido para poucos, o primeiro dia de desfiles, que trouxe as coleções da Croqui e Puramania, mostrou que muito ainda pode ser feito em moda no Paraná. Tomara que eventos desse tipo se multipliquem para a gente ver, pensar e continuar apostando. O que vimos foi apenas uma pequena vitrine com clima festivo. O que foi comemorado mesmo? As meninas e as jovens senhoras gostaram de ver ao vivo e a cores o garoto global; os mais atrevidos apreciaram as curvas sedutoras e os cabelos encaracolados de Débora Seco fantasiada de motoqueira. Será que as meninas querem ser que nem ela? Outros e outras posaram de um jeito diferente para as fotos das colunas sociais e sentiram-se especiais numa cidade com ares de província e esnobando seus micro-poderes.


O Crystal Fashion segue a linha “desfile de lojas”, deixando claro que a cidade está razoavelmente bem servida de marcas. Se você quer mais e tem dinheiro, São Paulo, Rio, New York ou Paris estão logo ali. Na passarela? Pouca ousadia no quesito criação.


Cafonices e “celebridades” à parte, qual era mesmo o motivo da festa? Talvez, ver os amigos, colocar as fofocas em dia e reconhecer que fazer moda é muito mais.


Croqui
A Croqui, uma multimarcas de Curitiba, abriu a primeira noite de desfiles, colocando na passarela uma coleção bem comercial, mas com peças que devem fazer o inverno de todo mundo. Golas role e cardigãs da Neon, xadrezes da Huis Clos, tricôs da PIN pantalonas de cintura alta da Maria Garcia se misturam no interessante trabalho de styling de Beto Bravo e Ricardo Guerra. Para os curitibanos não vão faltar opções para se aquecer no frio.   


Puramania
Ao som de Björk, a Puramania apresentou seu inverno inspirado no caos do fim do mundo. A grife paranaense mostrou tudo que é capaz de fazer com o jeans – seja nas lavagens, cortes, modelagens e aplicações. Looks amplos na parte de cima (golas e ombros) e justos na parte de baixo (calças skinny), lembram armaduras de cavaleiros do futuro, como na clássica triologia Mad Max, que lançou Mel Gibson ao estrelato. Mas não é só no denim que a marca investe. Casaquetos, coletes, vestidos, parkas e até uma calça johdpur surgem em tecidos nobres (seda, couro e organza) e tecnológicos. As meninas ganham cintura marcada, enquanto os cortes de alfaiataria aparecem para os homens; tudo numa cartela de cores que traz tons de preto, cinza e roxo. Se as peças estão interessantes, o trabalho do stylist Robson Schultz ao construir a imagem conceito do homem apocalíptico é impecável. Que venham as próximas coleções!

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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