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A doença do reducionismo da inteligência humana

Redação Lado A 20 de Junho, 2008 15h02m

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Penso, logo existo. A famosa frase de Descartes marca o início do racionalismo, marcou o fim de Deus como o centro do pensamento humano. A ciência, as revoluções, a história, entre outros, muito devem a este homem que chegou à certeza de sua existência questionando ela própria. Pensou para isso. Mas a ciência herdou junto com esse pensamento a premissa da própria Igreja: querer oferecer a verdade.


Diversas teorias falam de levar em conta o todo, ao contrário do pensamento científico que considera as semelhanças, repetições e em seguida as classifica. Mas nenhuma delas deixou de tentar oferecer uma justificativa para tudo. Há de ter uma razão, uma explicação. E é neste pensamento lógico que o ser humano é reducionista e esquece vários processos podem dar o mesmo resultado, ou que os mesmos processos podem dar resultados diferentes. O tempo, aquele que inegavelmente passa, até ele, é questionado. Ou mesmo que vários processos podem dar resultado algum. A nossa inteligência já virou inconformismo. Queremos poder saber e aprender como modificar.


A maior polêmica está na existência de Deus. A ciência agora quer desenhar o seu rosto, encontrar vestígios no núcleo das células para explicar a sua existência. Deus é metafísico, é energético, é a tal mentira que de tão repetida virou verdade. Deus existe e os cientistas crentes querem encontrá-lo. Já os ateus usam a mesma ciência para comprovar a sua inexistência. Deixem Deus em paz! Santo sacrilégio!


Para entender o reducionismo humano, vamos pegar a procura pela origem da sexualidade humana. Primeiro classificou-se em homos, bis, héteros. Depois deram mais sete variantes no estudo Kinsey. Agora, querem definir a origem, como se fosse possível desenhar uma linha no destino humano. Estão recriando em laboratório a teoria de predestinação divina! Ora, Freud já era mais sábio nessa questão: somos todos potencialmente bissexuais, e que cada um cuide da sua vida.


O ser humano quer saber de onde veio, para onde vai, o porquê disso ou daquilo – depois ele resolve o que fazer com a informação. Sua inteligência só foi possível por sua memória, capacidade de classificar e organizar símbolos e sons, desenhos, imagens, sensações, durante seu processo evolutivo. Agora, tudo que aparece precisa encaixar em algum lugar, senão o resto parece perder seu sentido. Daí, entram o ceticismo e o fanatismo, negam tudo que aparece e se defendem com uma retórica intelectual de que a verdade é única e é a deles.


Não importa o nome que dão às coisas, o importante é a sua utilidade e valor real. De que adianta o mundo estar pensando e existindo tanto se não se sabe para quê? Crescei e multiplicai-vos já perdeu o sentido. De que adianta saber se Deus existe ou está morto, se não sabemos ao menos se ele quer que a gente saiba dele? Ou saber se o gay nasce homossexual ou não, quando tem pais que não aceitariam seus filhos gays de forma alguma.


A ciência não pode reproduzir os valores e a curiosidade da sociedade. As pessoas não estão prontas para a verdade, por isso, inventam tantas outras, e por tabela igualmente faz a ciência, por ser formada por pessoas. E o pior, talvez elas não estejam prontas para saber que verdades não existem e que esta palavra é apenas mais uma invenção humana para se sentir que se pensa ou existe. A própria ciência desmoronaria ao perceber que a lógica tem um limite e que nem tudo pode ser compreendido e sistematizado. Por enquanto, a frase poderia ser “Penso, logo sofro, então, existo”.

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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