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Golpes são cada vez mais freqüentes na comunidade

Redação Lado A 12 de Setembro, 2008 02h55m

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Uma nova modalidade de truque está tomando conta do meio gay. Cuidado! Você pode ser a próxima vítima. Dentro da própria comunidade, malandros e estelionatários estão aplicando pequenos golpes. Compactuando com o silêncio das vítimas, eles acabam encontrando novos alvos. Humilhação e arrependimento de um lado. Cinismo e total falta de caráter do outro.


Nós fomos vítimas de uma pessoa assim. Há menos de seis meses, tivemos um dito profissional que nos lesou. Ele trabalhou conosco por quase quatro meses, recebeu três pagamentos e fez bem menos do que pagamos para ele fazer. O tal rapaz, menino de classe média, estudante de jornalismo em Florianópolis que inventou mil estórias sobre sua formação e origem, estava copiando matérias de sites e blogs, vendendo-nos como se fossem dele. Algumas matérias foram de fato escritas, mas não chegaram a 20. A cada frase digitada no buscador, retiradas de “seus” textos, era a mesma surpresa: tudo cópia. Um colaborador pirata.


Ele foi dispensado sumariamente e por vezes pensamos em pedir ressarcimento por via judicial dos R$2.400 reais pagos. Mas o que ele nos levou não tem preço. Tivemos que apagar todo nosso registro no site Google. De 60 mil referências, passamos para pouco mais de 300, que já estão aos poucos voltando a crescer e já passaram de 10 mil, depois de três meses do fato. Nossos acessos caíram, nossa confiança em terceiros ficou abalada, tivemos que varrer o site e inutilizar cada palavra escrita por tal pessoa. Primeiro, por risco de sermos alvos de processos por plágio, segundo pelo asco que criamos pelo farsante que contratamos quando ele nos disse que havia sido demitido de um grande grupo de comunicação para o qual ele nunca trabalhou. Desconfiar e pedir provas nunca é demais. Aprendemos.

Da mesma forma aconteceu com mais de cinco pessoas nos últimos meses em Curitiba nas mãos de um golpista. Boa pinta, ele faz amizade via internet, saunas ou em bares, dá presentes, leva as vítimas para sair, paga o jantar, e depois que a confiança está estabelecida, ele arma o bote. Teve gente que teve o apartamento limpo, outras emprestaram dinheiro, compraram bens que jamais existiram com a promessa de que ele conseguiria produtos retidos na Receita Federal, por valores mais baixos. Este malfeitor porém também já se apropriou misteriosamente de chaves e depois limpou o apartamento de “amigos”. Por isso, cuidado quem você leva para dentro de casa, ele pode estar apenas mapeando seus bens e a sua rotina. A mesma pessoa ainda usou o nome do amigo para trocar cheques sem fundo e ainda para receber quantias em dinheiro em nome do outro, profissional liberal.
 
É quase sempre assim. O golpista se veste de bonzinho, se aproxima, faz seu marketing pessoal e você, muitas vezes por achar que é uma oportunidade de conhecer uma pessoa interessante, cai sozinho na rede dele. As vítimas sempre acham que estão se dando bem. No nosso caso, que tínhamos achado o profissional perfeito por um salário abaixo do mercado, nos outros casos, eles tinham achado um amigo rico, viajado e generoso ou comprado um bem por preço abaixo do mercado. Vítimas da própria inocência e ganância.

Nosso leitor Marcelo, nome fictício, deu cheques no valor de 5 mil reais para um amigo. Por coincidência também nosso leitor. O amigo morava em um flat no Alto da Rua XV, em Curitiba, depois de copiar a chave do verdadeiro proprietário que estava no exterior, seu ex-caso, mais velho. Sem o conhecimento do dono do apartamento, o mesmo levava todo mundo por lá para impressioná-los com o loft bem decorado e depois aplicar-lhes diversos golpes. Por coincidência, eu mesmo já havia ido lá mas como reconheci a foto do dono do apartamento, subitamente, seu interesse em fazer amizades diminuiu. Na época eu não entendi a razão mas depois de ouvir esse depoimento e saber dos fatos, entendi. Por sorte, escapei de um golpe, talvez.


Quem nos conta é o próprio Marcelo: “Meu primeiro relacionamento foi traumático, conheci na primeira vez em que pisei em uma boate, uma pessoa que pareceu maravilhosa, o sonho de consumo de qualquer um. Por não conhecer ninguém no meio, acabamos tendo um relacionamento interessante. O problema é que eu não conhecia ninguém, e acreditei em tudo o que a pessoa me falou. Em menos de cinco meses descobri que seu nome era falso, que morava em um lugar de favor, que nada sobre ele era verdade. A conclusão foi um furo de mais de R$ 5.000 reais na minha conta, com cheques “roubados” e disparados pela praça. Depois de mim, acabei sabendo que outras pessoas tinham caído no mesmo golpe.”

Você nunca pode dizer que não cairia em um golpe. Há dicas de como fugir destes malandros: fechando seu círculo de amizades, jamais levando estranhos para casa, nem dar carona em seu carro, não beber nada aberto. Sempre há um golpe novo ou um ponto fraco em uma pessoa, é aí que eles ganham terreno. Por isso, você deve valorizar seus amigos de sempre, ouvir seu sexto sentido, conselhos e desconfiar, sempre. Segundo Marcelo, a razão disso tudo é que “No nosso meio, é comum levarmos golpes, pois tudo o que importa para o gay é dinheiro, corpo e glamour. Meu conselho para que ninguém mais passe pelo o que eu passei, é saber bem com quem está se relacionando, investigar a fundo a vida da pessoa, observar o que ela fala e como se comporta.” Ele ainda conta que passou outro aperto, ao dar abrigo a um amigo que estava sem casa pois havia terminado um namoro longo e o mesmo trocou sua mobília por drogas enquanto ele estava fora.  Cuidado também com as pessoas com interesse sexual em você: lembre-se que estas pessoas não há limites. Só trabalhar parece estar fora de cogitação.

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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