Arquivo

Justin Fashanu – o jogador de futebol que ousou sair do armário

Redação Lado A 18 de Novembro, 2008 18h03m

COMPARTILHAR


Primeiro jogador negro a ser vendido por mais de um milhão de libras no futebol europeu. Primeiro e único jogador gay do futebol profissional a sair do armário. Essas duas frases revelam um pouco da trajetória deste londrino que fez história, mas não expressam os sentimentos que o levaram a cometer suicídio aos 37 anos de idade em 1998. Hoje, a Fifa luta contra a homofobia nos campos de futebol e a história de Fashanu é lembrada como exemplo de um talento perdido por causa do preconceito.


Descoberto aos 14 anos de idade, o jovem menino de descendência nigeriana teve uma carreira meteórica, como a de muitos jogadores que chegaram ao estrelato no mundo do futebol. O centroavante passou por times da Inglaterra, Austrália, Canadá e Estados Unidos, se aposentou cedo e ficou conhecido mais por suas performances fora de campo. Sua transferência para o time Nottingham Forest por um milhão de libras, em 1981, foi um dos pontos mais lembrados de sua carreira, mas nada comparado ao trágico final de sua vida.


Em 1990, ele apareceu na capa do tablóide The Sun com o título “Estrela do futebol de um milhão de libras: eu sou gay” e contou sobre diversos casos com pessoas famosas, políticos e falou do preconceito no futebol, em um tempo em que gays acabavam de ser desconsiderados doentes pela Organização Mundial de Saúde. A hostilidade posterior mudou a sua vida e ele nunca mais seria o mesmo, dentro ou fora dos campos. Os amigos de time, técnicos, seu irmão e até a torcida nunca mais o deixaram em paz. Enquanto isso os tablóides o idolatravam e ele comentava sobre óperas, virava uma estrela da mídia.


Depois de suas declarações, nunca mais conseguiu um contrato de longo termo e precisou conviver com a impopularidade por ser homossexual. Tentou até um falso namoro com uma mulher para acabar com os comentários sobre sua sexualidade mas em vão. Uma lesão no joelho o afastou de praticar como atleta esporte que amava em 1997, depois de ter sido demitido de vários clubes por “conduta inaceitável” e ir aos tribunais alegando discriminação. Seu estilo de vida envolvia abertamente clubes, bares e saunas gays. E frequentemente os técnicos pegavam no seu pé por causa disso. Sem falar que ele se mostrava desmotivado e chegava atrasado aos compromissos. Mudava de time a toda hora, procurando um lugar mais tolerante e aceitável.


Em 1998, quando estava nos EUA, foi vítima de um adolescente que tentou o extorquir. Como não deu dinheiro, o rapaz de 17 anos de idade o denunciou, acusando-o de ter dado bebidas e o violentado. Apesar de nunca ter respondido à Justiça por ter ido embora para a Inglaterra enquanto a denúncia era formalizada, Fanashu se declarou inocente, disse que a relação havia sido consentida e que estava sendo considerado culpado presumidamente. O caso acabou por falta de provas, mas Fanashu já havia dado cabo de sua vida.


Em 2 de maio de 1998, no distrito de Shoreditch, em Londres, Fashanu invadiu uma garagem e se enforcou deixando uma nota de suicídio com a frase: “Eu percebi que já me consideravam culpado por antecedência. Eu não quero mais causar embaraço para meus amigos e parentes… Espero que Jesus que eu amo me acolha e irei finalmente encontrar a paz”. Foi o fim de um astro do esporte que era considerado uma mistura de Pelé com Dennis Rodman (astro do basquete conhecido por ser polêmico) que tentou enfrentar o preconceituoso mundo do futebol e serviu de aviso para os atletas seguintes, que jamais ousaram abrir a porta do armário.

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

COMPARTILHAR


COMENTÁRIOS