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Homossexual desabrigado em Blumenau conta a sua história

Redação Lado A 01 de Dezembro, 2008 12h01m

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Em Blumenau, no Vale do Itajaí, em Santa Catarina, depois de uma semana de caos por conta da enchente e série de desmoronamentos que atingiu a região, 25 mil pessoas se encontram desabrigadas. Maior parte está na casa de vizinhos e parentes. Os que não tinham local para ficar, 5.209 pessoas, foram levados aos abrigos montados em 58 pontos do município, em 61 até sábado, muitos deles em escolas públicas, que tiveram as aulas encerradas neste ano.
 
No abrigo da Escola Básica Municipal Vidal Ramos, considerado modelo e o maior do município de Blumenau, Alan Meirelles Lis, ou Jairo, ou Duda, que chegou na região com 14 anos de idade, quando foi expulso de casa pelo seu pai no município de Lages, conta um pouco da sua história. Ele é homossexual e travesti. Duda trabalha varrendo as ruas, na empresa URBE, responsável pela limpeza e conservação da cidade. Mesmo no abrigo, sai todos os dias para trabalhar já que depende dos R$560 com que vive.


Ele já passou maus bocados em sua vida. Se transformou cedo, saiu de casa, entrou e saiu da prostituição, namorou um viciado, mas leva a vida adiante, diz que a cidade é mais tolerante do que de onde veio e que chegou a se apresentar várias vezes na boate gay da região com um show chamado “A guerra da noite”.


Sua “tia”, dona Ivonete de Abreu, está na cidade há 29 anos e tem sete filhos entre 3 e 13 anos idade, dois deles são gêmeos, a quem se refere sempre como “os gêmeos”. Ela estava desabrigada quando a tragédia assolou sua vida. Havia um mês que estava desempregada e vivia com a renda do bolsa-família de R$52. Ivonete cobra de Duda R$200 para ele morar em uma meia-água no seu terreno.


Eles estavam com medo dos deslizamentos e aos poucos foram retirando os móveis de casa e levando a um barracão de vizinhos na rua onde moram. Foi na noite de domingo passado que viram as bananeiras do terreno caindo e saíram desesperados, carregando as crianças de casa. Assistiram a casa onde moravam sendo levada morro abaixo, no meio da lama. Agora, dorme no ginásio do colégio, em meio a estranhos, mas revela que não sente preconceito no abrigo comandado por militares. Duda sonha com a casa que prometeram para sua tia e se sente segura para recomeçar, algo que sempre faz parte de sua vida.


 

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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