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Yes we can – De Rosa Parks a Obama

Redação Lado A 22 de Janeiro, 2009 02h04m

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Em 1955, uma mulher negra se recusou a dar seu lugar a um branco em um ônibus em Montgomery, Alabama, nos EUA. Ela foi presa por não cumprir a lei, ela foi presa por exigir igualdade de direitos.

Naquela época, no Alabama, as primeiras filas dos ônibus eram reservadas às pessoas brancas. Negros raramente iam à universidade com os brancos ou tinham candidatos negros para votarem, também não podiam se misturar com os brancos. Era pouca vergonha, era anti-natural um relacionamento interracial. O Conselho Político Feminino local organizou então um boicote ao transporte público, que teve apoio de Marthin Luther King e outros ativistas. Os negros e simpatizantes iam aos seus destinos a pé, causando grande prejuízos a companhia de transporte. No fim, a cidade cedeu. Com o fim da segregação nos ônibus, vieram outras conquistas. Rosa Parks foi considerada “mãe dos movimentos pelos direitos civis” nos EUA. Sem Rosa Parks talvez não tivéssemos Martin Luther King, nem Barack Obama.


Em 1956, a Corte Suprema norte-americana acabou com a segregação racial nos ônibus de Montgomery. Em 1968, todas as formas de segregação racial foram consideradas ilegais pela Suprema Corte dos EUA e dois anos depois a Constituição dos EUA deixava de respaldar qualquer tipo de discriminação. Bill Clinton condecorou Rosa Parks com a medalha de ouro do Congresso. Na ocasião, ela disse que esperava que sua atitude inspirasse a todos que lutam pela igualdade de direitos no mundo. Rosa faleceu em 2005, aos 92 anos de idade.


Toda vez que eu vejo alguém ser discriminado, tenho alguns momentos de tristeza e tento me lembrar desta história. Juntos somos mais fortes, sem dúvidas. E se hoje os EUA tem um presidente negro e árabe, isso mostra que o mundo muda sim, aos poucos, mas muda.


Temos que entender que direitos iguais significa: ter o mesmo direito que o outro. Ou seja, se um casal hétero pode se beijar, também podemos. Se ele pode adotar, também podemos. Se eles podem se casar, também podemos. Não há igualdade comedida. Pois direitos não podem ser negociados. Não podemos nos contentar com “meio direito” só porque fomos ensinados que somos inferiores, enquanto temos os mesmos deveres e direitos natos. Ainda hoje há uma travesti ou gay assassinado quase todos os dias no Brasil. Quase todos já foram discriminados, quem disser que não é porque não se assumiu em casa ou no trabalho. Covarde dizer que está tudo bem enquanto enfrentamos um verdadeiro holocausto gay.


Dentro da comunidade, há pessoas que questionam quando alguém se exalta para defender, ou quando age de forma provocativa ou agressiva. Quantas vezes ouvimos que negros são “ladrões”, “violentos”, “burros”, entre outros. Este é o discurso da opressão, daqueles que querem tirar o crédito de nossa bandeira, e não podemos reproduzi-lo. Exigir que gays sejam discretos, que não levantem bandeiras é o mesmo que pedir para negros falarem como brancos ou vestirem as mesmas roupas. Sim, há gays “promíscuos”, “barraqueiros”, “truqueiros”, “invejosos”, entre outras coisas, mas há os que não são e aí entra o nosso orgulho. Orgulho de ser quem somos, defender nossos direitos do jeito que podemos e dizer não ao rótulo que querem nos colocar. Eles não são melhor que nós, não somos melhores que ninguém, não é isso que buscamos. Queremos a igualdade, respeitando todas as nossas diferenças, dentro e fora do meio que estamos. Não podemos nos distanciar uns dos outros, precisamos nos unir. Sim nós podemos, mas só poderemos se estivermos juntos. Yes we can.

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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