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Humor: A santa da Galheta

Redação Lado A 11 de Janeiro, 2009 15h46m

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Em breve, o Papa Bento XVI terá que lidar com mais um pedido de canonização de uma Santa brasileira. Também apelidada erroneamente de Nossa Senhora da Galheta, originária de Florianópolis, mais precisamente da Praia da Galheta, reserva destinada a prática do naturismo não obrigatório, na ilha de Santa Catarina. A igreja não reconhece a Santa que nasceu católica e morreu aos 19 anos, de pneumonia, depois de largar sua vida estudantil para viver como heremita no local que lhe dá o nome.

José Carlos Camargo, ou Zeca, teria ido morar no local no final dos anos 70, depois que foi expulso de casa, na região de Biguaçu, Santa Catarina, quando seus pais descobriram da sua homossexualidade. Apesar de alegar ser virgem e puro, a família não tolerou quando ele começou a falar a língua das monas. Ele se mudou para o local por causa de um grupo de hippies que lá freqüentava e precisava sempre de um guia.

Zeca, aos 16 anos, teria conhecido o local em um sonho, no qual viu muitos homens sarados, quando percebeu que este era um sinal divino para que ele achasse o local e fundasse ali uma comunidade religiosa. Em outra versão da lenda, dizem que ele tentou acabar com sua vida se jogando ao mar e que as correntes o levaram até este local longínquo, milagrosamente. Em ambas as estórias, depois de anos trabalhando de guia pelas trilhas e fazendo sexo sem proteção, Zeca padeceu. Ainda é possível encontrar algumas tábuas de sua antiga casa em uma trilha próxima a uma bica de água que permaneceu de sua residência. Um milionário que preferiu não se identificar, afirmou que irá patrocinar a construção de uma capela no local. Outro fanático promete criar uma comunidade no Orkut e afirma que “A santa é mara”.

A água da bica citada também é considerada milagrosa e milhares de gays fazem a chuca no local por suas propriedades regenerativas. O Ibama teve que interferir e proibir a retirada de água e areia da região, pois já estavam vendendo frascos com esses itens na internet. A identificação com a Santa é grande, tanto que muitos querem seguir o exemplo de vida de Zeca e ir morar no local: “Pena que não pode acampar e nem fazer festa por aqui”, diz Gregório, outro que teve uma graça alcançada.

Conta-se que muitos gays que vão ao local conseguiram diversos milagres e que em todos os verões a praia é invadida por romarias e muita devoção. Principalmente no Carnaval. Como parte de toda esta fé, eles chegam a subir as trilhas e pedras ajoelhados e a passar horas nessa posição louvando a santa. Outros meditam no local. No próximo verão, um transatlântico lotado de fiéis irá até lá. A fama da santa corre o mundo e muitos estrangeiros vão ao local para fazer seus pedidos, como comprovamos em uma visita ao seu santuário a céu aberto. Ao anoitecer, da praia é possível ouvir os gemidos dos fiéis concentrados, um coro suplicante por um milagre, gemidos e dor.

Alguns devotos chegaram a enviar supostas imagens de Nossa Senhora da Galheta, que apareceu para diversas pessoas nas trilhas da praia. A santa é a protetora contra as doenças sexualmente transmissíveis, diversos tipos de chatos e doenças de pele, além do próprio sol, sim, já que muitas passam horas por lá. Outros chegam a dizer que a santa emagrece, mas ainda não foram feitos testes, como o do HIV, com elas para comprovar tal relação. Dizem que do HIV ela não protege, o bom mesmo é usar o preservativo, que a Santa apóia totalmente, ao contrário do Vaticano.

Dizem que ela foi uma das primeiras vítimas da Aids no Brasil e teria pego de um argentino, o que fortalece a rixa entre os dois países. Este é um verdadeiro ponto de atrito entre os fiéis, que também rechaçam a idéia de que ela se travestia, apesar da santa não ser santo e sim santa, e aparecer sempre com trajes virginais. A polêmica sobre o tema é grande, a comunidade de surfistas e naturistas do local sempre critica a presença dos fiéis da Santa na região mas sabem que foi ela que conseguiu preservar este paraíso pois muitos políticos que criaram a reserva são seus fiéis de longa data.

Uma das pessoas mais devotas, trabalhadora de um bar gay da região, chegou a nos ensinar a suposta oração que a Santa teria lhe ensinado em uma das aparições, a frase deve ser repetida três vezes, do alto de uma pedra, com muito fervor (não é fervo, é fervor): “Nossa Senhora da Galheta, eu não gosto de buce**. Nossa Senhora da Galheta eu quero (ou não) uma neca preta. Nossa Senhora da Galheta, se eu conseguir o bofe dos meus sonhos faço em três feias uma chupeta”.

Isso mesmo, a Santa também é caridosa. Para ter uma graça concedida, é preciso amar ao próximo e fazer a fé na Santa crescer no local. Esta é uma das partes do mistério da Santa da Galheta que atrai a cada ano mais fiéis. Ela não faz nada de graça e emprega esta interessante base de troca. A necessidade de explicar se quer ou não uma neca preta é que a Santa sempre manda um dum dum, pois essa era a sua preferência. Muitos fiéis chegam a deixar camisinhas no local como oferenda, algumas delas cheias, com o inscrito OBRIGADO PELA GRAÇA ALCANÇADA.

Se você leu este texto e já teve uma graça alcançada na Praia da Galheta deve repassar esta reportagem para mais cinco pessoas ou a Santa promete não mais te abençoar em suas romarias por suas terras, que incluem a Praia Mole. Se você apenas leu, também mande, ou a Santa vai te gongar por um ano. Deixar um comentário também satisfaz a Santa.

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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