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Entrevista exclusiva: Dr. Paulo Branco

Redação Lado A 26 de Março, 2009 16h43m

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Admirado por profissionais do meio médico, referência entre acadêmicos e gays que buscam informações sobre saúde, o Dr. Paulo Branco há 25 anos se dedica à medicina e nos últimos tem se mostrado um destaque na saúde de homossexuais, desenvolvendo um trabalho de qualidade no atendimento e no entendimento das especificidades desta população. Formado em medicina da UFPA e mestre em gastroenterologia, Branco se especializou em proctologia e ministra cursos e palestras sobre o assunto. Além disso, possui colunas nas quais responde sobre dúvidas em diversos sites para gays como Mix Brasil, Casa da Maite e na G Magazine, onde colabora há meia década. De São Paulo, onde mora, o médico respondeu nossas perguntas que foram um pouco diferentes da que fazem para ele em suas colunas.


Revista Lado A – Quando o Dr. resolveu trabalhar com o público gay?
Dr. Paulo Branco – Já exercia a Proctologia há alguns anos e resolvi estudar sobre o uso do Laser nesta especialidade e comecei a aplicá-lo no tratamento das afecções anais. Um dia, eu estava em uma banca de revista e o jogador de futebol Vampeta pousou para a revista G magazine. Eu olhei para a capa, li os temas e notei que não havia nenhum item relacionado à saúde deste público. Falei para o rapaz da banca colocar dentro de uma caixa todas s revistas voltadas para o público G, e ele respondeu que só havia a G Magazine. A avalanche destas revistas nas bancas ocorreu recentemente e se você observar o numero de profissionais da saúde que anunciam ou escrevem é quase zero.


No início, houve algum preconceito por parte dos outros médicos?
Não há preconceito e sim um respeito misturado a curiosidade pelo meu trabalho com o público gay. Os médicos têm a curiosidade de saber sobre a forma ou tipo de linguagem ou diálogo na minha rotina de consultório. O que eu observo é que há uma dificuldade em encontrar um dialogo aberto, claro e ético do médico com os gays e principalmente com o casal gay.
 

Tem muito médico homofóbico?
A sociedade parece ter uma tendência heterossexista e homofóbica que poderá ser ilustrado por um fato ocorrido comigo. Fui convidado para fazer a proctologia com laser em uma clínica. Estava tudo certo e na reunião final um médico sugeriu que eu tivesse uma sala separada para os meus clientes. Eu perguntei o porquê da sala e ele me respondeu que soube que eu atendia o público G e ele não queria ver na mesma sala os seus pacientes misturados aos meus e mais que ele era católico. Eu levantei, o cumprimentei e falei que respeitava, porém não aceitava a sua posição homofóbica.


Qual a diferença, para o médico, do paciente homo e do hétero?
Eu atendo muitos pacientes gays que se queixam que não conseguiram colocar para o médico a sua vida como ela é. Parece haver uma barreira cerebral do médico em compreender e entender a vida homossexual e ele conversa com o paciente como se ali estivesse um heterossexual, não dando a menor chance do paciente falar do seu eu. Até agora não entendi se é uma sublimação ou negação que ocorre com o profissional.


É importante o homossexual contar ao médico que é homossexual? Em quais casos?
É de importância crucial um diálogo aberto e claro sobre a vida sexual do paciente, principalmente para o diagnóstico das doenças sexualmente transmissíveis, que podem envolver o parceiro. Não tem como um médico diagnosticar uma DST como, por exemplo, o HPV sem conversar claramente com o paciente. É incrível o número de pacientes que mesmo sendo homossexuais assumidos não conseguiram se abrir com os seus médicos, porque não houve abertura ou por vergonha mesmo.


Quais as principais enfermidades que atingem homossexuais e por quê?
As pessoas de um modo geral acham que os gays têm mais doenças anais que a população geral, principalmente as proctológicas, como as hemorróidas, por vincularem com a penetração uma relação direta de causa e efeito com as doenças, o que sabidamente é uma mentira preconceituosa. Somente os gays promíscuos apresentam uma maior incidência de doenças sexualmente transmissíveis, como HPV, gonorréia que a população geral. Na minha experiência das doenças sexualmente transmissíveis, que acometem o homossexual, o HPV (verrugas) foi a mais freqüente e das proctológicas a hemorróida, seguida da fissura anal.


Há quanto tempo o senhor tem colunas voltadas ao público homossexual? Qual a quantidade de e-mails que o Sr. responde?
As colunas há cinco anos e os e-mail não os quantifiquei, porém respondo todos os dias e-mails do Brasil e exterior.


Quais as maiores dúvidas dos gays quanto à saúde?
As dúvidas mais freqüentes estão relacionadas à lavagem ou limpeza anal antes da relação, complicações da relação anal, DST, dildos e hemorróidas.


Há outros médicos especializados, se podemos assim dizer, em homossexuais, no Brasil? Quem?
Não há especialização e sim uma forma linearmente igual de atender o ser humano, sem raça, regras, credos e preferências.


Como estão as pesquisas, vacinas, sobre o HPV e é possível a cura definitiva?
A vacina é a forma ideal de prevenção do HPV. O problema é que existem mais de 100 tipos de vírus, quando adquirimos imunidade para um tipo, pegamos outro e se instala novamente a doença. Para as mulheres a vacina praticamente será uma real prova de prevenção, porém para os homens está incipiente e a nível laboratorial. No momento, evitar muitos parceiros e o uso da camisinha representam as melhores formas de prevenção do HPV, que no momento não tem cura definitiva. Eu há 10 anos uso o laser associado a uma substância de uso local que aumenta a resistência dos pacientes ao vírus.


Afinal, sexo oral é seguro?
Para os gays, o sexo oral é um dos atos sexuais mais íntimos. O sexo oral, ou mesmo um beijo, poderá transmitir de um parceiro para o outro a maioria das doenças sexualmente transmissível, incluindo a herpes, sífilis, gonorréia, verrugas, hepatite, uretrites e prostatite com ou sem ejaculação. A maioria dos médicos concorda que haja um pequeno risco de transmissão do HIV após sexo oral desprotegido e que este risco aumenta se o seu parceiro ejacular na sua cavidade oral ou se você tiver inflamações, ferimentos e sangramento gengival. Há casos suspeitos de transmissão do HIV por essa via, portanto insista que o seu parceiro use a camisinha para você estar 100% seguro.


Para tirar dúvidas e saber mais sobre o trabalho do Dr. Paulo Branco, acesse o site: www.medicinaintegrada.med.br

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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