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O mito da bichona

Redação Lado A 24 de Junho, 2009 03h16m

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Recentemente, o apresentador do programa 15 Minutos, da MTv, Marcelo Adnet, cedeu entrevista à revista G Magazine (Edição 140) e obviamente falou um pouco de gays. No entanto, o apresentador soltou uma frase que me fez pensar um pouco sobre o assunto. Questionado a respeito de qual seria sua visão sobre piadas e quadros com gays na televisão, Marcelo foi incisivo: “A sociedade considera engraçado ouvir falar que alguém é gay ou ver alguém interpretando um gay (…) Quando a gente fala do homossexual escrachado, a bichona, eu acho que é uma figura do imaginário popular, né? Tem o Curupira, o Saci Pererê e a bichona”.


Partindo desse princípio, será que o rapaz não teria razão? Quem sabe as “bichonas” que vemos na televisão sazonalmente não seriam apenas “personagens” do imaginário popular. Acho até certo ponto plausível essa observação. Pois, o gay estereotipado seria, como a palavra diz, um “estereótipo”, logo, um passo para uma figura imaginária. Mas sabemos que na verdade existem esses tipos de gays extremamente estereotipados e que são os principais alvos das chacotas pelo mundo a fora.


Outro problema surge quando um gay mais “discreto” é comparado ao gay estereótipo. Quantos homossexuais sentem incômodo ao presenciar na televisão esses tipos de encenações quando acompanhados de algum familiar? Muitos! E é nesse ponto onde se encontra o impasse da questão. Nestes casos não podemos comparar as “bichonas” com personagens folclóricos, uma vez que não existam pessoas que possam ser relacionadas diretamente a esses mitos. Em contrapartida, se o ator que interpreta o gay estereotipado e cena não constituírem algo ofensivo não haveria razão para ninguém sentir-se em saia justa.


Isso serve para que não fiquemos neuróticos a cada vez que passar um personagem gay na televisão. Ainda que em sua maioria não sejam tão fiéis aos reais, fazem a inserção dos homossexuais na convivência da sociedade. Ainda que estejam, sim, inseridos na sociedade, algumas vezes há uma estranheza no olhar do outro quando se depara com uma pessoa assumidamente homossexual. A idéia final é que este seja tratado com respeito. E vale lembrar que o respeito deve partir de si mesmo.


Confira, abaixo, o trecho na entrevista de Marcelo Adnet à revista G Magazine:


“Como avalia as piadas e os quadros com os gays na TV?
A sociedade considera engraçado ouvir falar que alguém é gay ou ver alguém interpretando um gay. Eu, particularmente, não acho engraçado. Quando a gente fala do homossexual escrachado, a bichona, eu acho que é uma figura do imaginário popular, né? Tem o Curupira, o Saci Pererê e a bichona, que está aí, né? (risos) Todo mundo já viu, todo mundo conhece… Mas em novelas, onde nunca teve o beijo gay, você vê um cara que faz um gay e não desmunheca, então você nota que é um trabalho riquíssimo. Acho que as pessoas não compram mais tão de graça os personagens caricatos”.

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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