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Eu e o meu pudor católico

Redação Lado A 02 de Julho, 2009 05h32m

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Há pessoas que não conseguem trair, gente que não fica nu na frente de outras, não faz coisas consideradas fora do padrão e que após gozarem sentem uma terrível sensação de culpa. Essas pessoas também tem essa vergonha ao usarem drogas, ao mentirem, ao pecarem.


Posso falar nesse assunto com propriedade. Aliás, o nome pudor “católico” fui eu quem denominei esse sentimento para a minha vida. Lembro-me bem da minha mãe, pai e freiras da escola fazendo uma lavagem cerebral que me custou anos de terapia e estragou tantos momentos. Claro que toda esta educação me foi muito útil, mas é lamentável que muita gente não consiga se livrar dela quando necessita ir em busca da felicidade.


Até hoje preciso rezar antes de dormir e nos momentos de desespero passo a cantar musicas religiosas que ficaram guardadas lá no fundo não me incomoda muito mas eu sei que ele, o meu pudor, está lá . A fé é uma coisa importante na vida das pessoas, desde que não as atrapalhe a viver. Sinto orgulho de não mentir, não trair e evitar situações em que a minha integridade moral possa ser comprometida, mas há várias experiências que eu deixei de viver por causa deste pudor. Mas é preciso ser combativo e competitivo nos dias de hoje, por isso busque um equilíbrio para a fera dentro de você.


Culpa do Vaticano ou não, a minha sexualidade foi muito prejudicada, eu me anulei por anos com medo de estar pecando ou decepcionando meus pais. Eu sentia culpa, até em me excitar pensando nos outros meninos. Ou seja, desde os 6 anos de idade eu já sabia que era gay mas só fui me envolver com outro homem aos 18 anos. Não me arrependo, mas sei que foi tardio.


Sobrevivi, mas sei que muitos sentem esta culpa quando adultos, deste fardo que foi imposto, que violou a sua natureza e há pessoas que piram por estarem confrontando essa voz que não é a consciência, tão pouco voz divina. Pessoas que se matam, se perdem da realidade, cometem crimes ou passam a vida inteira vivendo uma mentira. Ou então aquelas que se desprendem de referenciais e vivem uma vida sem regras, rumo ao nada, sem saber o que fazer no dia seguinte, sem raízes. Pois é muito fácil se perder ao meio de tanto preconceito e rejeição. Isso sem falar nos homofóbicos.


Não podemos lutar contra o nosso coração mas podemos nos livrar das paranóias religiosas que generalizam o homem como uma receita de bolo. Passei a pensar que o Meu Deus não é limitado, não é artista que molda em formas e sim cria livremente. Meu Deus é tão complexo que não ouso limitá-lo ou entendê-lo. Sei apenas que para Ele tudo é possível, então jamais o questiono e sigo o meu coração, lembrando de agradecer a cada dia o que ele me deu e os desafios que apareceram e me ajudaram a evoluir.


Por isso, busque o seu eu verdadeiro e dê espaço para ele crescer, só assim você vai encontrar a sua felicidade, poderá ser equilibrado e contribuir com alguma coisa. Se você sente necessidade de uma religião para te intermediar com Deus, busque uma que te aceita. Afinal, somente quem te ama do jeito que você é pode estar pregando a verdade. E lembre-se de se amar sempre, mesmo quando você não achar que não merece. Será nesse momento que você mais precisará de você.

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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