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Sopa de letrinhas – Tempestade em um prato de sopa

Redação Lado A 23 de Julho, 2009 21h38m

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Esta semana, a travesti Rogéria falou ao jornal O Dia, do Rio de Janeiro, que gostaria que a sigla GLS voltasse a ser usada, no lugar de LGBTT, LGBT, GLBT, entre outras, pelo fato desta conter o “S”, dos simpatizantes pois, segundo ela, muitos simpatizantes reclamam da exclusão.

O que parecia mais um devaneio da artista talentosa se transformou em uma discussão séria dentro da militância. Estrategicamente, o “S” faz falta, já que muitos não são ou não se assumem gays. Certo que o “S” por vezes era descrito como “Suspeito” em rodas de brincadeiras, os simpatizantes fazem a diferença, uma vez que são aqueles que respeitam e entendem os gays, lésbicas, transexuais e simpatizantes, como todo hétero deveria ser. Lutamos pela aceitação, mas acabamos segregando.

Lá fora, a discussão também é grande, mas eles nunca tiveram um S. Por aqui, dentro da comunidade mesmo há preconceito ao segmento das T (travestis e transexuais), que teriam prioridades específicas. No último ano, no Brasil, o L foi à frente do G, como um cavalheirismo e estratégia das lésbicas para ganharem visibilidade. A sigla GLS mesmo não incluía as T ou os B, os bissexuais. A discussão tomou parte quando fundada a ABGLT, Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros, há 10 anos, que acabou adotando o LGBTT no último ano.

Se os gays mesmo não toleram os mais afeminados, há uma desinformação quanto a orientação sexual e a questão do gênero. Travestis e Transexuais não são homossexuais, uma vez que querem assumir o papel social feminino, elas se tornam héteros ao buscarem homens heterossexuais ou bissexuais.  A confusão está montada e as siglas não são meras convenções que não devem representar um grupo mas um conjunto de palavras.

Não importa como nos chamam ou nos chamamos por siglas, o importante é lembrar que as letras institucionalizam o tratamento, como se fossemos uma entidade ou grupo, fechando com letras as possibilidades. Então, a nova inclusão do “S” parece libertadora, por colocar a todos como Simpatizantes (ou Suspeitos) e brincar com essa ampla possibilidade.

O termo comunidade gay (apesar de a palavra gay ser mais usada para os homens homossexuais) acaba por abarcar todas as letras. Somos muitas siglas e números, vivemos em torno desta sopa de letrinhas enquanto o que as pessoas querem mesmo é uma refeição completa.

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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