Arquivo

Diário de um neurótico traído

Redação Lado A 13 de Julho, 2009 19h48m

COMPARTILHAR


Sou neurótico, assumo. Melhor ser assumido, assim posso concretizar minhas compulsões sem causar surpresa. Isso é um fato. Agora a suposição quase confirmada: meu namorado me traía. O pior é que só descobri isso depois que terminamos. Uma pena. Perdi a oportunidade de exercitar perseguições alucinadas no orkut e alargar conversas inquisidoras no MSN. O FDP tinha um caso antigo, que dizia ter terminado no ínicio do nosso affair (com o outro é caso; comigo, affair).

No ínicio, só ficávamos. Namoro, para mim, é uma fonte de estresse e evito como posso. Sofro por condição, não por escolha. Nunca fiz um orkut, só um fake que uso em minhas investidas casuais. Mas ele sempre teve orkut e os malditos cadeados para me impedir de ver fotos e recados. Para ME impedir. O “casado” do perfil era aparentemente para mim; as comunidades melosas, também; o anel de compromisso… ei, espera. Quem acreditaria num cara que usa anel de compromisso e nem insiste tanto para que você use um também? Eu. Neurótico. E demente.

O momento de pensar na possibilidade de estar sendo traído – anotem – é quando o cara começa a parecer mais ciumento do que deveria. Foi assim comigo. E fica díficil desconfiar de um sentimento, para mim, tão natural. Mas o jogo dele era esse. Eu me sentia culpado por sentir ciúmes, provava do próprio veneno e me perdia no jogo da desconfiança mútua. Agora ele “gazelamente” aceitou meu fake como amigo e pude ver o prato cheio que minha mente aflita deixou de saborear: mensagens implícitas em fotos antigas, trechos de músicas que nunca foram para mim. Maldito. Mil vezes.

O que me oprime não é a traição; é não ter terminado por este motivo. Poderia ter investigado, descoberto, discutido, aprendido. Do que adianta um sofrimento sem aprendizado? Nem Nietzsche apreciaria. Reataria o namoro só para fazer isso, se pudesse. Mas é tarde. E nada pior para um neurótico do que descobrir que é tarde para agir. O momento passou, não tem impulso, não se pode agir primeiro e pensar depois. Não tem graça.

Mas já sei o que fazer. Eu não posso dar o troco. Mas o amigo fake pode. Pode se tornar mais amigo, pode manter conversas com ele no MSN. Pode gravar estas conversas… E aí, como bom neurótico que sou, posso enviar as conversas inadvertidamente, impulsivamente e sem pensar para o outro. Aliás, quem era o amante, ele ou eu? Como tecnicamente o amante vem depois…ufa. Melhor ser o amante que o namorado traído.

Mas vou ser sincero. Dói. Sou neurótico, demente, mas sou humano. Pior, canceriano. Não sou neurótico por opção. Por opção, seria psicótico. Jack, Dexter ou Flora que o digam.

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

COMPARTILHAR


COMENTÁRIOS