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Usando a panela velha na massa nova

Redação Lado A 09 de Setembro, 2009 21h33m

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Como diz o compositor Sérgio Reis: “Panela velha é que faz comida boa…”. Este texto é uma metáfora relacionada aos valores antigos do movimento homossexual. Pretendo e quero trazer com isso a proposta de questionamentos que sejam como uma “peneira” para esta nova massa, ou seja, esta nova geração.

Nas décadas passadas, havia uma repressão “moralista” tentando conter o Movimento Homossexual, porém era visível o crescimento, a unidade e o fortalecimento do movimento em meio a diversos e cruéis ataques. Ao invés de sufocar e acabar com o movimento na época, diante da repressão, nasciam homens visionários e idealistas que enxergavam a causa, enxergavam a causa e lutavam por ela, independentemente de ser algo lucrativo,existia uma luta por aqueles que queriam o espaço para a oportunidade de amar com liberdade aqueles a quem tinham escolhido para amar.

Essa era a molda desta velha panela que estava fervendo em favor da liberdade usada nos dias de hoje, havia um único foco: a liberdade de amar sem censura. Com o tempo, fomos conquistando espaço na sociedade, empresas do continente europeu e americano priorizando contratações homossexuais e enxergando em nós um potencial consumidor forte. Fomos conquistando espaço pela nossa criatividade, flexibilidade, alegria e outras características da nossa massa, porém, percebo algo muito forte nos dias atuais e em cima desta observação quero trazer os questionamentos acerca desta percepção e o que vocês podem encontrar dentro dela.

Percebo que estamos como crianças que almejavam um brinquedo, vamos chamar o brinquedo de “parcial liberdade dos dias atuais”, e ao conseguir o tal brinquedo, quebram ou não sabem como brincar ao tentar usá-lo.

Hoje em dia, a mídia traz aos homossexuais um espaço realmente bem maior do que em todas as outras décadas para a expressão do movimento, porém, na grande maioria das vezes, é trazido de forma fútil, vulgar e imoral (com exceções), trazendo personagens gays com gírias que demonstram uma arte cômica (algumas até positivas na sua minoria) mas fútil, quando que vulgaridades dentro dos temas homossexuais em novelas, teatros, reportagens, festivais e etc, parecendo que tudo no mundo homossexual está relacionado a duas coisas somente: sexo ou o tão comentado “close”(situação ou objeto que traz uma consideração de superioridade ao ego de alguns). E quando nos deparamos com tais formas de abordagem da massa hetera, taxamos como “preconceito”, mas até onde eu e você temos uma parcela de responsabilidade?

É quando temos cumplicidade com esta forma de abordagem da nossa massa pela mídia, produzindo esta imagem errônea dos homossexuais, nos posicionando de forma negativa diante deles. Existem relacionamentos sérios em nosso meio. Dignidade, profissionalismo, pessoas de caráter e competentes, pessoas que realmente fazem a diferença de uma forma positiva, agora eu e você estamos em qual parcela do movimento? Pesando para qual lado da balança?

Você e eu estamos de forma positiva ou negativa dentro da formação desta imagem? Será que você e eu perdemos o foco? Você e eu não vemos mais a causa? Qual tem sido o meu e o seu posicionamento? E o que estamos conquistando realmente com o nosso posicionamento? Algo que alimenta o preconceito repressivo ainda existente, ou alimentando a conquista a liberdade de amar a quem se escolhe amar? Quero que você pergunte a si mesmo e responda para si: o que você está produzindo com suas atitudes para sua vida pessoal e social como membro desta massa? Seja membro direto(a) ou indiretamente, de forma participativa ou introspectiva.

A causa ainda existe. Filhos são colocados para fora de casa ao assumirem sua homossexualidade, gays estão hospitalizados no dia seguinte a Parada da Diversidade por discriminação, entre várias situações… e onde você e eu estamos na causa?

Os movimentos gays dos Estados Unidos e da Europa conseguiram mudar esta visão e hoje eles são o grande público alvo. A mídia traz casais gays de uma forma sutil, natural e respeitosa, sem depreciar o tema. Acredito que podemos fazer esta mesma conquista aqui, temos um potencial e uma massa gigantesca, podemos trazer esta mentalidade à nossa nação, mas depende das respostas dadas por você a você, mesmo diante das perguntas deste texto, e quais são os posicionamentos que você precisa tomar na sua vida pessoal e social para que seja uma ferramenta poderosa para conquista dos direitos homossexuais? Vamos estudar a “panela velha”, ver os antigos valores, buscar a causa, focalizar e lutar por ela. Somos uma massa nova sim, com mais ferramentas e espaço para estas conquistas. Só depende de cada indivíduo e da unidade deste sentimento de espaço e direito a liberdade. Você pode ser uma bomba racional contra o preconceito irracional, agora, preciso que leia as perguntas deste texto e repita a você mesmo as respostas. Reflita, pense, analise e se precisar tente gerar interesse e mudança no seu meio a um estilo de vida positivo e conquistador a você mesmo e a todos em sua volta que você pode fazer parte de uma massa que irá fazer a real diferença.

 

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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