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Cadê a criatividade e luxo das baladas curitibanas?

Redação Lado A 31 de Outubro, 2009 20h58m

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Estou meio fora das baladas e ouço muitos amigos reclamando. Não é protesto, vamos tentar colaborar com a cena e resgatar a criatividade. Não estou generalizando mas o fato é comum e merece ser abordado. Deixando claro que me refiro às baladas curitibanas. Não fiquei sabendo de festa de Halloween por aqui em balada gay, tirando as da Manhattan, 1001 e SPM, que parecem que foram bacanas, sempre são, cheias de drags e animação. Mas e as outras?


As festas de Halloween estão perdoadas, são festas legais, apesar de algumas casas fazerem Dia das Bruxas o ano inteiro. A décor e o clima são super importantes e Halloween sempre tem surpresas, que é algo bom. Mas não consigo mais ir em: clube dos 10, 20, 30…; aniversário de promoter, de DJ ou da casa, festa de cantora americana com uso indevido da imagem, open bar até hora X, festa com DJ tão famoso quanto ruim vindo de fora (que recebe um cachê 10x maior que o companheiro residente), entre outras que toda semana tem uma em Curitiba. Tudo bem, a idéia é legal, mas ir lá para ouvir as mesmas músicas, ver as mesmas caras, mesma decoração e ainda passar calor, enfrentar fila (menos né), agüentar bêbados e drogados, e ainda o povo reclamando, não dá. É preciso fazer alguma coisa diferente… coloquem um tema, invistam nele e criem um clima diferente com decoração, atrações, drinques, promoções… chega de mesmice.


Por isso, só vou nas casas que prestigiam o meu trabalho e que estou sempre dando toques e eu sei que merecem o meu suado dinheiro. A tática que eu adotei é selecionar os eventos, prestigiar onde sou bem recebido e atendido. E viajar sempre que der. Vejo que muita gente está fazendo isso. Várias casas são legais em estrutura mas elas pecam no atendimento e na variedade do que oferecem. O povo vai para paquerar e sai reclamando quanto a isso. Agora, claramente, falta criatividade de alguns promoters, começando pelos nomes das baladas. Aqui em Curitiba a coisa está feia. Dizem que o público não ajuda, mas também não vejo nada de diferente sendo feito. Cansei de receber emails de pessoas que foram mal tratadas em tal lugar e depois encontro-as por lá depois. Sinceramente não entendo isso.


Falta interatividade e respeito. A casa não conhece seus freqüentadores e nem eles a casa. Tirando o povinho que fica na área VIP. Ou seja, a pessoa vai lá, não consegue fazer amigos e nem interagir com as pessoas pois elas estão separadas do povo da festa. Depois dizem que o curitibano não é de fazer amigos. Muitos ainda reclamam de pessoas furando fila na hora de entrar ou de pagar, às vezes ainda com a ajuda do próprio promoter ou dono da balada. A casa não se comunica com seus clientes e dá tiros no escuro. Quando foi que você viu uma casa fazendo enquete com seus freqüentadores? Eu nunca vi… deveriam ouvir mais seus clientes, é básico para qualquer negócio.


A falta de investimento é clara. As casas não investem na fidelização dos clientes e tentam economizar de todos os lados. Não cuidam das músicas que são tocadas e acabam tocando duas vezes a mesma música, quebram a vibe, colocam qualquer um para subir no lugar mais importante da casa: a pick-up do DJ. Amigos, esquemas, panelinhas, infelizmente tem de tudo no meio da noite e o profissionalismo passa batido em alguns casos. Falta cultura nas baladas (põe uma Barsa num canto kkk), me refiro a shows e temas criativos e não bicha batendo cabelo e falando inglês errado; que cantem em português! Basicamente é isso: é preciso falar a língua do público. Algumas boates pararam nos anos 90.


Fazer festa não é fácil, não estou dizendo isso, mas as casas precisam inovar sempre e resgatar o glamour de se ir a uma balada gay e saber que ali tem tendência de moda e música, que é um lugar cheio de formadores de opinião e reflete o futuro e não a decadência. Quero ver mais investimento das boates, festas de parar tudo, com inovação e não a mesma coisa sempre, com eventos que prometem mas não cumprem que só têm um nome bonitinho mas é a mesma coisa da semana passada, parece marmita requentada.


Apesar de parecer um desabafo, confesso, mas não é. A conversa veio de um papo com amigos, gente da noite que está cansada de ver o barco afundar. Vamos ver se o fim de ano traz novas inspirações. Algumas casas acertam, temos o prazer de trabalhar com algumas delas. Sempre que possível comento com clientes o que podem melhorar, mas acho que todas as casas deviam fazer isso: ouvir mais os seus freqüentadores, resgatar a criatividade e o glamour. Curitiba merece.

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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