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Crack

Redação Lado A 29 de Outubro, 2009 14h41m

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Nos últimos dias, observa-se um frenesi da mídia a respeito do crack: “Jovem viciado em crack mata namorada no Rio”, “Prefeito de Raposos (MG) é preso com crack” ou “Ministro reconhece falhas e anuncia novos leitos para tratar usuários de crack”.


Afinal, o que é o crack?
O crack é, basicamente, um derivado da cocaína. A cocaína em pó é transformada em cocaína de base livre, formando “pedras”.


O que o crack tem de especial?
Essa droga é caracterizada por um rápido início de ação e curta duração de efeito. Isso contribui para que seja uma das substâncias de maior poder aditivo (que mais vicia): dá o “barato” rápido e intensamente, mas este é muito breve, gerando uma abstinência e uma fissura muito intensa.


Cada uso posterior é caracterizado por um “barato” menor e uma fissura maior, levando a um uso cada vez mais intenso (durante dias, por vezes sem comer ou dormir). A alteração de seu estado mental (impulsividade, irritabilidade, aumento de energia, euforia) é cada vez maior.


Por que aquele cara, lindo, inteligente, rico e gostoso usa crack?
Independente da razão de ter experimentado a droga, existem diversas explicações para a pessoa manter o uso, mesmo tendo consciência dos riscos. Alguns estudiosos acreditam que ela esteja procurando atingir novamente o mesmo “barato” da primeira vez do uso. Outros afirmam que a fissura e a abstinência são intensas demais para se suportar.


Costumava-se acreditar que o crack, por ser relativamente barato, era uma droga das classes menos privilegiadas. Nos últimos anos, contudo, verifica-se uma prevalência de uso crescente nos grupos de maior renda. Não são raras histórias de famílias abastadas cujo filho dependente vende tudo de dentro do apartamento de luxo para pagar pelo vício.


O que eu tenho a ver com isso?
O crack é um dos principais fatores relacionados a criminalidade nas grandes cidades (e, cada vez mais, nas menores). Isso ocorre tanto por questões inerentes ao tráfico, quanto pelo comportamento que a droga gera nos dependentes.


São pessoas que precisam arranjar dinheiro rapidamente para bancar o consumo crescente. Depois de venderem tudo o que tem, é comum recorrerem a roubos, furtos ou prostituição durante a intoxicação ou abstinência (ou seja, enquanto estão imbuídos de sensação de grande poder, estão agressivos, paranóides e impulsivos e com habilidade bastante diminuída de pesar as conseqüências de seus atos), o que pode gerar crimes violentos.


Naturalmente, comportamento sexual de risco é a regra.


Ainda, para o usuário de maconha, é importante informar que alguns traficantes adicionam crack a ela, para aumentar a intensidade da dependência pelo “baseado”. Por vezes isso ocorre explicitamente (“mesclados”), por vezes sorrateiramente.


O que fazer?
Caso você não tenha usado a droga e esteja considerando experimentá-la, pode ser interessante você considerar primeiramente os prós e os contras do uso. Quais são os seus projetos de vida? No que o uso da droga vai ajudá-lo a atingi-los ou afastá-los?


Entendo que, por vezes, a pessoa precise de um “barato” e não acho certo julgá-la por isso. Considero, contudo, importante, que a pessoa tome uma decisão informada. Saiba mais sobre os benefícios e sobre os riscos de cada barato. Acho bacana comparar, antes, o custo/benefício com “baratos alternativos”, como esportes, sair com os amigos para uma balada ou um café colonial com direito a tudo, flertar com os sarados na academia, caçar na internet…


Esse exercício pode ser feito também por quem já experimentou o crack ou outras drogas. Como a dependência gerada pelo crack, todavia, é tão intensa, em alguns casos parece ser útil também procurar ajuda para instituir um tratamento específico. Existe uma variedade de tratamentos disponíveis, algum deles pode se adaptar a você. Pode ser interessante conversar com um profissional de saúde sobre as opções, o que você acha?



Dr. Gustavo Pradi Adam é Médico Psiquiatra, Psicoterapeuta cognitivo-comportamental

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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