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It´s not right but it´s ok

Redação Lado A 05 de Outubro, 2009 19h16m

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De acordo com uma conceituada revista americana de psiquiatria, jovens LGBT apresentam um risco maior de apresentarem transtornos mentais e comportamento sexual de risco do que o grupo HT correspondente. O que eu me questiono, como psiquiatra e como cidadão, é o motivo disso, para pensar na possibilidade de se reverter as estatísticas.


Hoje, reconhece-se, na psiquiatria, que a maioria dos transtornos mentais são decorrentes de uma diátese orgânica (base genética, lesões orgânicas…) combinada a fatores ambientais. Como não existe na literatura científica qualquer relação entre a base orgânica da homossexualidade com a susceptibilidade orgânica a transtornos psiquiátricos, penso que o ambiente deva exercer um peso considerável na diferença entre os jovens LGBT e HT nos quesitos que a pesquisa americana encontrou.


A adolescência não é um período fácil para qualquer um. Não preciso dizer para você, leitor da Revista Lado A, o quanto o fato de se descobrir LGBT pode ser um fator estressor importante. Não bastasse a dificuldade pessoal para se aceitar, muitos ainda precisam enfrentar pressão da família, de amigos, do trabalho, “bullies” (“valentões” que abusam dos mais fracos) e outros problemas. Não é difícil se fazer a correlação disso com transtornos depressivos ou outros.


O que não me deixa satisfeito, nessas explicações, é que elas nos fazem parecer vítimas indefesas contra um meio ameaçador. Acredito que, a partir do momento em que uma pessoa aceita o papel de vítima, ela está perdida, porque o Mr. Big só para de enrolar a Carrie e casa com ela em filme mesmo…


Acredito, por outro lado, que a autocomiseração (sentir pena de si mesmo) seja uma maneira de pensar que realmente nos coloque em risco. Primeiro, porque ela é autorecompensadora (choramos por dias no quarto ouvindo Whitney, nos sentimos no direito de tomar litros de sorvete, os amigos nos ouvem, nos dão colo…), o que gera perpetuação do comportamento. Segundo, porque ela não permite com que nos vejamos como protagonistas de nossa própria história (mocinha indefesa que é salva pelo Richard Gere que chega de limusine é tão anos 80)! Terceiro porque “coitadinho”, sofreu tanto e é por isso que apresenta comportamento sexual de risco pode explicar o fenômeno, mas não o justifica.


O que eu vejo como necessário para reverter o quadro retratado pela pesquisa americana, portanto, é ajudar os jovens LGBT retomarem seus papéis de protagonistas. O meio em que vivemos está aí (precisamos lutar para mudá-lo, mas por enquanto, aquele tio chato vai continuar perguntando quando é que o menino vai levar uma namorada pra casa), então busquem/ofereçam apoio. Não me refiro a ombro, mas realmente a um apoio que instrumentalize a crescer, a se desenvolver e a lutar.


* Médico Psiquiatra . Terapeuta Cognitivo-Comportamental

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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