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Amor ou ingenuidade? Curitibano leva ex para a China e é lesado

Redação Lado A 16 de Novembro, 2009 14h48m

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Você já deve ter visto ele no James, no Side, na Box ou ate mesmo na Manhattan aos domingos a tarde. Certamente você ouviu falar que ele iria morar na China e que viria estudar em Beijing. Vamos chamá-lo de “Feng Le” que no chines Pinyin (escrito em fonemas romanos) quer dizer “louco”, ele tem 19 anos e é de Curitiba.
 
Pois bem, ele veio a meu convite. Veio porque demonstrou estar apaixonado, disposto a buscar uma nova vida, um novo relacionamento… pura ilusão. Enviei dinheiro pra que ele pudesse tirar passaporte, comprei os bilhetes aéreos, enviei dinheiro para que ele pudesse tirar o visto chinês, enviei dinheiro para que ele pudesse comprar uma mala, bem como pagar o taxi pro aeroporto e comprar alguns euros pra gastar em Amsterdã enquanto esperava a conexão para Beijing. Ajudei-o financeiramente em todos os aspectos, pois ele é uma pessoa humilde. Chegando em Beijing, ainda fiz o favor de remeter algo como 700 reais pra a sua mãe pois ele queria ajudá-la. E eu não neguei seu pedido, afinal, ele me fez acreditar em toda sua história. Eu estava apaixonado.
 
O vôo dele chegou no horário marcado (dia 31.10 às 09:55h), fui buscá-lo ansiosamente no aeroporto, comprei vinho francês  e brindamos assim que ele chegou no meu apartamento. Levei para almoçar em um restaurante indiano e demos uma volta pelo Sanlitun Village, um dos mais modernos complexos comerciais da China que concentra lojas como a Apple Store (3 andares) e inúmeras marcas famosas de roupas.
 
Na primeira noite, fomos pra Destination, a única balada gay em Beijing e por alguma razão, ele se perdeu de mim “premedidatamente”… antes, eu tinha visto ele dançando com 2 chineses sobre o queijinho, todos sem camisa. Havíamos combinado que, caso nos perdêssemos, voltaríamos para o apartamento. Ele tinha o endereço no bolso bem como dinheiro pra voltar de taxi (a balada é do lado do prédio). Voltei pra casa… acordei pela manha e ele não estava do meu lado, liguei insistentemente no celular dele, sem sucesso. Pela janela, apenas vi a neve caindo lentamente e angustiado por não tê-lo ao meu lado naquele instante. Ele me ligou as 12:30h , dizendo que havia dormido no apartamento de outros dois chineses e não havia atendido minhas ligações durante a madrugada e pela manhã porque o celular estava sem bateria.
 
Durante a semana, ele sentou do meu lado na sala e perguntou se eu havia gostado do pijama dele… respondi que sim, não foi a minha surpresa que ele continuou: ganhei do meu ex-namorado, ele me deu antes de eu viajar. Depois, em um jantar com brasileiros, ele deu a entender que estava namorando e não havia terminado o namoro no Brasil antes de vir pra China – quando terminou de falar isso, ficou calado e sem reação, ciente do que havia dito.
 
Na primeira semana revolvi comprar um notebook, assim ele poderia passar o tempo pesquisando algo sobre a cultura chinesa, lugares e pontos turísticos para serem visitados, além de passar o tempo conversando com os amigos e parentes no Brasil. Foi a gota d’agua… ao invés disso, ele ficava se exibindo na web cam para outros caras no Brasil, sim, ficava se masturbando. Recebi um email com as conversas dele no MSN com um amigo meu, foi lamentável, triste. Ao mesmo tempo, ele me enviava e-mails dizendo que estava chorando, pensando na familia dele no Brasil e em especial a sua mãe, que tanto queria ajudar e que era uma das razoes de ele estar aqui. Cansei de suas mentiras e 10 dias bastaram.
 
Conversamos sobre tudo, sobre nós… aliás, apenas eu que falava, pedia uma explicação pra tudo que ele havia feito e ele permanecia calado. Ele que sempre se mostrou tão doce nas palavras, ele que me fez sonhar e acreditar no seu amor. Ele não argumentou e concordou apenas que iria voltar ao Brasil. A passagem de retorno estava marcada para o dia 27.11.
 
Fui trabalhar na terça-feira pela manhã, dia 10.11.. quando retornei a noite, encontrei apenas um bilhete deixado sobre a cama que dizia: “Obrigado por tudo que você fez por mim, mas a gente não deu certo. Consegui remarcar meu vôo pra hoje mesmo. Fique em paz. Não se preocupe, você não me verá mais. Beijos, “Feng Le””. Na hora, me desesperei, ele não poderia ter ido embora assim, depois de ter feito tudo isso e sem ter se despedido, ter pedido desculpas pelo que fez e olhando nos meus olhos. E ele o fez, não teve sentimento algum, pensou somente nele. Ele saiu à tarde do meu apartamento, passou a noite toda dormindo numa cadeira de aeroporto e no dia seguinte pegou o vôo de volta ao Brasil, levando meu notebook e uma certa quantia em dinheiro que eu havia deixado para ele comer e se virar enquanto eu estava trabalhando.
 
Imediatamente, procurei uma delegacia e registrei uma ocorrência. Não queria impedi-lo de voltar ao Brasil mas que a Justiça fosse feita pelo roubo que ele me aplicou. Liguei pra mãe dele, acionei toda a família para alertá-los sobre o que ele havia feito: roubo!!! A mãe dele se comprometeu a devolver o notebook assim que ele chegasse ao Brasil. Ele devolveu e um amigo meu irá doá-lo para pessoas que realmente precisam e vão se sentir felizes. Essa semana, meu advogado no Brasil irá ajuizar uma ação criminal contra ele, que terá de responder pelo crime de Roubo (Artigo 157). O crime está configurado: com provas da nota fiscal do notebook no meu nome, das imagens impressas dele saindo do prédio, do bilhete deixado sobre a cama, da ocorrência na policia chinesa bem como a devolução do próprio note no Brasil.
 
Não vou dizer que errei, quero acreditar que aprendi mais uma vez. Na verdade, eu não aprendi, cometi os mesmos erros do passado… dar tudo a quem amamos não traz felicidade, não é assim que se conquista alguém, a conquista está nos detalhes, na convivência, no respeito mutuo, na fidelidade, no carinho… e essas características ele não demonstrou por mim. Demorei para perceber.


Aquela máxima de que o amor é cego… faz todo sentido agora para mim, aqui, do outro lado do mundo.
 

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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