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Homofobia – Chega de jogos!

Redação Lado A 02 de Março, 2010 18h33m

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“Você joga no outro time?” Quando se fala em sexualidades, as pessoas acabam confundindo ser homossexual ou hétero com estar em lados opostos de um campo, em um jogo de futebol. Mas qual time? (Nem sabia que havia time gay e time hétero), me pergunto toda vez que deparo com a alusão futebolística. Infelizmente, essa mania do brasileiro de comparar tudo com futebol não para por aí. Formam-se times imaginários e a derrota do outro é visto como vitória a ser comemorada.


Em inglês (goal), gol quer dizer meta, um objetivo. Por aqui é bola na rede mesmo e as metas dos outros, “do outro time”, são gols na sua rede, contra você, em uma partida imaginária e totalmente irrelevante. Não se pode entender que as conquistas dos homossexuais são contra os heterossexuais, não há esse jogo, não tem bola e nem placar. A questão dos direitos iguais deve ser uma bandeira dos Direitos Humanos, onde todos entendem que a união faz a força mas não precisam ser todos uniformizados e parecidos, tampouco encarar isso com rivalidades de times opostos.


A gente joga contra a desigualdade social, a fome, a miséria, a injustiça, pela ascensão do país na economia, não uns contra os outros. Por esta razão, cada vez que o presidente faz um discurso com analogia ao futebol, eu fico com medo dele reforçar que a vida é um jogo e que alguns precisam ser os derrotados (de preferência os outros). Essa nossa idéia de que tudo é um jogo fica visível quando vemos a torcida do Dourado defendendo-o e atacando os gays, como se a vitória no Big Brother Brasil dele significasse a derrota dos homossexuais. E os próprios gays encarando a vitória do participante homofóbico como um gol contra. É errado dar esse poder de jogo a um fato irrelevante. Não podemos entrar nesse cabo de guerra.


Assim, os direitos gays viram peças em um tabuleiro, bem como a reforma agrária e outros acontecimentos que mudariam a vida de muita gente. Não podemos deixar que coloquem a felicidade alheia do outro lado, como se gays se casarem ou tivessem a lei contra a homofobia legalizada fossem algo que diminuiria a moral da população hétero. Não podemos deixar que a Parada do Orgulho Gay de São Paulo dispute com a Marcha para Jesus quem leva mais pessoas como se esta fosse uma disputa coerente. Temos que sair do gueto, vestir a mesma camisa da sociedade e mostrar que não tem jogo, pois não queremos entrar numa disputa inexistente.


Certa vez o Ministério da Saúde fez um vídeo para adolescentes chamado “Para que time você joga?”, sobre um estudante que sai do armário na escola e lida com a situação. Eu nem jogo, já cansei de jogo de politicagem, jogadas comerciais, joguinhos amorosos… temos mesmo que encarar tudo como um jogo? Bem, tem ainda aqueles jogos estilo Banco Imobiliário, que no fim quem tem mais dinheiro é o vencedor… e como isso se parece com a vida? Na minha concepção, no final, é mais feliz quem aproveitou mais e soube se doar, praticar o bem. Não vejo a vida como um jogo, não acho que jogo em outro time.


Se minha família entendesse que estou no time deles, metade dos meus problemas acabaria. E isso se reflete na sociedade, se entendessem que a homossexualidade só é importante na vida de um gay em dois momentos: na cama e quando ele é discriminado por ser diferente, ou tem seus direitos negados, tudo seria mais fácil. E sofrer pela demora dos direitos iguais é participar de um jogo masoquista, é viver para sofrer. Aproveite mais e se estresse menos. Há regras, mas não é um jogo. A vida é assim, precisa ser jogada mas não precisamos dar volta olímpica ou dar o cheque mate no adversário. Por isso, não entre nessa de que você joga em outro time, pois a torcida alheia é violenta e não leva desaforo para casa. A violência que vemos nos estádios se reflete na homofobia, então, é melhor não estar no outro time muitas vezes. Por isso que muitos continuam no armário e odeiam futebol.

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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