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Nessa terra de gigantes, homem de biquíni é?

Redação Lado A 29 de Junho, 2010 19h10m

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Calcinhas, biquínis, lingerie… Ele deseja comprar várias, passa na frente das lojas femininas e não tem coragem pra entrar, sua namorada não serviria apenas de álibi. Lúcia sempre faz perguntas indiscretas e que não consigo responder com mentira. Ele precisa de mais, mais informações. Ele não é homossexual, será que ele é? Então nem bi… só quer dormir e acordar com aquela roupa sensível, íntima do universo feminino. Já se imagina com várias daquelas calcinhas… Não! Melhor parar!

Acho que vou ser chamado de veado ou de bicha, essas coisas de gay, sei lá…e agora? Mesmo assim algo tem que acontecer. Lúcia foi dormir na casa dele, quem sabe ela deixa alguma calcinha pra mim, um presente sem consentimento, Ele resolveu assim, melhor dar um nome para “Ele”, então, vou chamá-lo de Murilo. Acho um nome bem masculino, meio jiu-jítsu, então fica assim, Murilo mesmo, porém quando assume a calcinha, se transforma em Gabi! É Gabi! Pronto! MURILO X GABI… ah, não misturem com Lúcia, tadinha, enfim, cada um com seu cada qual, não é mesmo? Se minha alma falasse agora, chorava, choro manso, bem baixinho, nesse choro falava da minha sina. Ei, pêra aí, não… sina não é o nome da minha calcinha que estou usando nesse momento!!! Não sou exagerado, prefiro ser exagerata ou se for pra ser importada, que seja Victoria Secrets! Será que um dia posso usar na frente de todo mundo? Na televisão, em um clipe da Lady Gaga? Ela liberou para a galera lá do clipe dela que eu assisti, lá parece tão normal. E o que é ser normal? Não quero ser confundido, não sou travesti, me valha, lembrei de uma que vi na noite. Ela era estranha, não me sinto estranho, então resolvi lhe dar uns 100 reais e fui pro motel com ela, queria apenas pedir pra ela a calcinha, achei meio nojento, então pedi que ela me levasse na casa dela, senhoras e senhores, bem vindos ao meu “PARAÍSO”.

Lúcia teve que esperar, não era traição, era apenas um desejo, quem não tem um potinho cheio deles? Quer saber, hoje, nesses sites de relacionamentos, que tem um monte de amigo, primo, “Brow”, mano que cai na água, homem peixe, que rala orelha no tatame ou sei lá, aquela parada está exposta! Depois falo do meu perfil, enfim… Morgana…esse era o nome da garota com pinto, adoro falar pinto no lugar de pênis, acho mais leve, ela me mostrou como guardava na calcinha, “but” lá no Paraíso, abri umas gavetas, minha nova amiga, as gavetas, adoro elas, estão repletas de verdadeiros momentos de entrega aos meus sonhos mais profundos, meu universo novo, me joguei pra dentro do biombo e lá, provei: calcinhas, biquínis, cinta liga, saltos, tempo suficiente pra colocar na passarela a  Gabi! Não ria, foi só isso mesmo!

Existem Clubes organizados, perfis em sites de relacionamento, artigos publicados por psicólogos, terapeutas, os crossdressers, ou apenas CD estão por toda parte, mais um codinome dos filhos da sociedade secreta. Lembrei de um cantor, parem de conversar comigo, preciso lembrar o nome, minha sala esta repleta de gente falando nesse exato momento, uma confusão, mas o nome não vai correr: Ney Matogrosso, se correr o bicho pega se ficar o bicho come, menino eu sou é homem…e como sou? Sério, que chato você, mas vou repetir: não sou gay! Mas meus olhos procuram… será que farei terapia? Uma passeada pela internet então lá vai, se você também é CD,  não vou escrever para você,  porque você vive isso na pele e sabe que não é fácil ser crossdresser. Ninguém gosta de nós?

No cinema, na televisão e na literatura o crossdressing masculino invariavelmente é retratado de modo desajeitado, ora como tragédia, ora como farsa. Levados como o elemento periférico e destoante da sociedade “normal” e que, portanto tem que ser afastado do convívio com os demais (O Silêncio dos Inocentes, Honathan Demme, 1991) ou como palhaços fazendo todo mundo rir das atrapalhadas como mulher (A Noiva Era Ele, de Howards Hawks, 1949). O único momento cinematográfico em que o crossdressing masculino é levado a sério é na forma drag, dentro do contexto gay (Priscila, a Rainha do Deserto, de Stephan Elliot, 1994). A farsa, a comédia, a palhaçada. Homens e Mulheres se encontram em um determinado momento. Será que é essa minha busca? Encontrar a mulher em mim, ai deu saudade da Gabi! Acordei, hoje é sexta-feira, olho a gaveta, procuro, vasculho, e acho meu pacotinho lá. Vou usar a calcinha vermelha, o sutiã não dá! Tem um bojo enorme, uó, então vou assim, coloco o terno e pronto vou trabalhar, caminhando, me sinto um super herói, como o super homem, tenho minha própria fantasia, por baixo, e ninguém sabe, me sinto forte. A noite chega e tenho luta… troco dentro do box e pronto! Por cima, sou uma muralha e por baixo, minha calcinha, a Gabi vai para a luta junto, afinal, nenhum de nós é tão bom quanto todos nós juntos. Misturei tudo, Lucia continua sem saber!

Continua em: “Coco Chanel”, veja abaixo em links relacionados

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SOBRE O AUTOR

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A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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