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Gays precisam mais do que nunca votar conscientes nestas eleições

Redação Lado A 27 de Julho, 2010 21h25m

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Vários leitores pediram para que eu me manifestasse a respeito das próximas eleições. O que é complicado, pois sou filiado ao PSB e pretendo me candidatar de novo nas próximas eleições para vereador em Curitiba. Mas tentarei aqui dar a minha visão sobre a conjuntura política atual sob a ótica de um eleitor gay, que assim como a maioria da população não está contente com os nomes apresentados.

A partir deste ano, os candidatos a governadores e à presidência precisaram redigir propostas para ter terem suas candidaturas validadas pela Justiça Eleitoral, onde foram registradas. Na teoria isso é muito bom, mas não há lei que obrigue os eleitos a cumprirem o prometido em campanha, mas os eleitores podem cobrar essas promessas depois. Infelizmente, para nós gays, lésbicas e afins, mostra uma realidade: os candidatos, em sua maioria, não nos colocaram como prioridades de seus governos, pelo menos nos planos apresentados ao TRE que acabaram sendo genéricos como “melhorar a educação”, “promover a inclusão social”, entre outras afirmações canastronas. Então, como decidir o nosso voto? Bem, não podemos acreditar naqueles que dizem que nos entendem, defendem, mas não nos incluem em seus programas por medo de perderem votos.

O jeito, caros amigos, é votar por exclusão. Aqueles que já estiveram no poder e nada fizeram por nós, não devem receber nosso voto precioso. No Paraná, temos um caso claro: o candidato a governador Beto Richa. Nos 6 anos enquanto prefeito de Curitiba, Richa não foi a um evento voltado ao público LGBT, vetou – em 2008 – o projeto de lei para a criação do Dia Municipal Contra a Homofobia e, apesar dos recordes de violência registrados (Curitiba foi em 2009 o lugar onde mais gays morreram assassinados no país), não criou ou discutiu uma lei punindo a homofobia na cidade. Isso sem contar que houve um caso envolvendo um de seus seguranças em uma agressão homofóbica, pouco antes de ele ser transferido para o gabinete do prefeito. Ou seja, ao invés de demissão, o guarda municipal foi promovido. Não que o outro candidato favorito (os dois em empate técnico) mereça o meu e o seu voto, afinal, ele está ao lado de Roberto Requião, ex-governador do Paraná e candidato ao Senado pelo PMDB do PR, que faz piadas de gays em público e um dos inimigos públicos dos gays em nossa lista deste ano. Difícil escolher por aqui.

Marina Silva e Dilma Roussef chegaram a dizer que o casamento é religioso e que apóiam a união civil, mas os planos de governo delas não incluem nem essa opinião. José Serra fez o mesmo, só não fez a menção ao sacramento religioso. Apesar do PT ter feito eventos e até um programa chamado Brasil sem Homofobia, o PSDB também tem um histórico de criar programas e órgãos para os gays em São Paulo mas os dois empatam em uma coisa: são lentos – o PSDB teve 8 anos com o FHC – e são de discurso prolixo, vazio na prática. Para presidente, os candidatos do PT e PSDB empatam, em descaso com a nossa causa. Mas podemos pensar de outra forma. O PSDB pode chegar ao poder novamente e ter suas prioridades, já o PT não pode alegar mais que não estava sabendo, são 8 anos de enrolação pelos nossos direitos, mais um pouco e partimos para a revolução propriamente dita, só falta isso.

Precisamos de candidatos que nos representem, que coloquem nossas prioridades em pauta com coragem, como fez a presidenta argentina Cristina Kirchner que peitou a Igreja e os conservadores, mostrando que é preciso evoluir. Ou como o conservador presidente Cavaco Silva que calou a boca de todos os portugueses antiquados e aprovou o casamento gay em seu país para não perder tempo com discussões ante tantas prioridades econômicas.

Mais uma vez, estamos fora dos planos oficiais dos candidatos, somos até chamados de “tema polêmico” e evitado nesta corrida eleitoral. Não entendo o porquê do medo dos candidatos em nos verem como cidadãos e eleitores. Talvez devêssemos todos votar nulo e promover isso em todo o país, para que vejam quantos somos, quantas pessoas estão do nosso lado. Não quero nem falar no voto evangélico, nos irmãos que se dizem cristãos e pressionam candidatos a não se comprometerem com a gente. Infelizmente, política é um mal necessário e se for de fato um jogo, estamos perdendo feio. Vamos aguardar para ver se os candidatos se apresentam melhor ao longo da campanha, mas nada de acreditar em velhas artimanhas eleitorais.

Por isso, resolvi não ficar calado e coloco desde já meu nome à disposição da comunidade para 2012. Sei que não vou roubar e que trabalharei bastante, pelo menos seria um lugar a menos para um corrupto ou mal intencionado. Quem tiver coragem, faça o mesmo. Precisamos ocupar espaços e apresentar melhores candidatos.

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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