Arquivo

A gente só tem um único amor na vida?

Redação Lado A 13 de Agosto, 2010 17h31m

COMPARTILHAR


Estava na semana passada com duas amigas falando sobre nossos namorados achei o tema desta semana para o blog. Uma delas havia terminado um noivado de seis anos e estava desolada pois tinha a certeza que o cara era o amor da vida dela. Minha outra amiga também tinha terminado com o namorado para ver se ele tomava jeito e tinha a mesma certeza: o cara era o cara. Bem, para falar a verdade só eu mesmo estava namorando e não tinha problemas no meu namoro, mas fiquei com uma dúvida: temos mesmo só um amor na nossa vida?


Eu discordei na hora e continuo a discordar. Tive um namorado que eu amei bastante, que só o meu namorado atual me fez esquecer ele, depois de mais de 10 anos. Até então, eu concordaria com elas. Na época, eu achava que ele era o cara, mas depois percebi que não, ao contrário, meu namorado atual é muito melhor e combinamos mais, tanto que estamos há quase dois anos e meio juntos, sem nunca termos brigado. Mas é engraçado como tendemos a achar que tudo é para sempre e que a pessoa é a certa, a nossa metade. Eu digo ao meu namorado que ele é sim a minha alma gêmea, mas se um dia terminarmos, não acharei que estarei fadado a infelicidade, como as minhas amigas. Vou sofrer, mas não irei me achar um infeliz para sempre.


Essa coisa de achar que temos que encontrar a outra metade da alma vem dos gregos, do mito do Andrógino, do livro Banquete de Platão, escrito pelo discursista Aristófanes. Segundo ele, habitavam a terra três gêneros humanos. Os seres possuíam duas cabeças e todos os órgãos e membros em dobro. Zeus, cansado da insolência deles, decidiu partir-lhes ao meio, para que passassem a vida inteira se ocupando de procurar a sua metade, diz a lenda. Os que eram totalmente femininos geraram as lésbicas, os masculinos aos gays e dos andróginos, seres metade homem – metade mulher, os heterossexuais. E não é exatamente isso que fazemos? Perdemos tempo procurando a nossa metade perfeita? Mas quão injusto é pensar que só uma pessoa pode nos fazer completo? Matematicamente, seria mais provável ganhar na Mega Sena do que achar a tal metade. Tal conceito foi abocanhado por outras religiões que unem as relações como sagradas e eternas.


Engraçado que na natureza muitos animais parecem concordar com o mito grego. Entre os mamíferos, 5% das espécies são monogâmicas, ou seja, possuem apenas um parceiro por toda a vida. Mas os exemplos são lindos: Araras, pingüins, castores, lontras, águias, alguns roedores, todos chegam a ter sinais de depressão quando o companheiro morre. Mas entre os seres humanos parece que a idéia surgiu para justificar o fim de relacionamentos. Quando terminam, a gente acredita que ainda não apareceu a pessoa certa. Mas e as pessoas que tem essa certeza, de que já conheceram a pessoa certa, ou aquelas que acham que a pessoa certa é o cônjuge de outra, ou então aqueles de quem a tal alma gêmea já se foi? Eternos infelizes? Acho injusto.


Acabou que o papo com as amigas não foi muito longe, uma continuou a achar que perdeu o homem de sua vida e a outra está disposta a lutar e seguir as escolhas do namorado, se sacrificando. O amor é lindo. Cego, surdo e, quase sempre, irracional. Acredito que podemos sim encontrar outras pessoas que nos façam felizes, mais ou menos, mas rotular alguém como a pessoa certa depois que o relacionamento deu errado não acho eloquente. Podemos ser seres mais completos, talvez precisemos sempre de alguém para nos completar, mas jogar essa responsabilidade em outra pessoa é algo terrível. Terapia, autoconhecimento, amor próprio, eu diria a quem não é feliz estando solteiro ou com outra pessoa. Aos enamorados satisfeitos: que seja eterno, enquanto dure.

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

COMPARTILHAR


COMENTÁRIOS