Arquivo

Meu primeiro encontro com o babaca do Guilherme

Redação Lado A 05 de Agosto, 2010 20h01m

COMPARTILHAR


Só saio com caras que conheço na internet, uma questão de praticidade e que me dá segurança pois sei que quem eu acho na internet vai responder minhas expectativas mínimas. Praticidade, pois é como estar em um supermercado, você pode escolher a cor, modelo e como tudo vai rolar, por exemplo. Acredito que com quem eu saio nunca vou me envolver, pois raramente eu repito, a não ser que tenha sido muito bom o encontro, que dificilmente é, pois sempre tem algo que você não goste. Tenho a sorte de apaixonar a cada ano, com mais ou  menos intensidade, mas sempre por um babaca… o último foi um japonês, o mesmo pela segunda vez…

Guilherme… sabe aquele cara que consegue tudo de você, sem esforço algum? Ele tem esse efeito em mim, sim como tem, a primeira vez que nos encontramos foi há quatro anos. Estava eu na internet tentando passar o tempo, tinha acabado de ser demitido, minha vida estava um caos e ele falou: “sobe”, “não, eu não posso”, “sobe”, “você está doido?! estou sem carro!”, “sobe”, o que poderia acontecer, fazia um mês que ligamos as câmeras e ficávamos olhando um para o outro por horas, trocávamos poucas palavras. Subi… de ônibus até ele me buscar no shopping, brigou comigo, pois fui para um lugar que não era fácil para ele, não fiz como tínhamos combinados, tocava Ira! no cd player do carro. Tenho dúvida sobre a música, “girassol´ ou “flores em você”, nem conversamos muito, como ele havia me dito, se não nos curtíssimos eu pelo menos ia ganhar um jantar e dormiria em um lugar diferente, o jantar?! Arroz, filé, salada e coca-cola, comi arroz, salada e tomei água. Vegetariano, levei mais uma chamada de atenção por não comer carne e refrigerante era o vício dele. Dizia orgulhoso que tinha aquele corpo mesmo tomando refrigerante… o segundo erro da noite, acabei comendo carne…

No quarto dele pude olhar melhor nos seus olhos, tinha algo realmente que me fascinava, não sei explicar o que era, sei que me seduziam de alguma forma, ele escondia algo, aquela aura de mistério e desejo.
 Antes de eu ir ao banho, pulou da minha mochila uma fantasia de “garçom” ou “paquito”, nem sei de onde surgiu aquilo, imagino que pequei sem querer. Ele adorou e disse que vestiria. Pela primeira vez via aquele sorriso que ilumina o ambiente, ele estava sendo ele. Na volta do banho, eu o vi na cama vestindo a fantasia de bruços e mascando goma. Me segurou com força e me beijou, seus lábios de encontro aos meus com seu corpo forte e malhado, comecei a ficar bêbado com tesão. Aos poucos, comecei a relaxar meu corpo tenso e sentir outra coisa ficar tensa, estávamos duro, como aquele cara conseguia me fazer não pensar em nada, me sentia como um virgem. Não consigo me recordar como aconteceu, mas sei que ele me penetrou de frente e seus olhos fechados demonstravam sentir muito prazer, eu sentia também, mas não era que eu estava acostumado. Nunca conversamos como seria, mas deixei seguir o caminho, sentir ele dentro de mim era um prazer que nunca tinha sentido, havia encaixado perfeitamente, ele bombava em um ritmo intenso, mas sutil, me sentido preenchido, sua mão deslizava de uma forma que  parecia ser tocado por mais de uma pessoa. Eu gemia de uma forma que nunca imaginei, orgasmo foi sincronizado e intenso, fiquei dopado com o êxtase daquele momento, meu corpo parecia não responder, todos os meus músculos estavam completamente relaxados. Poderiam ser segundos ou minutos que fiquei parado, não sei dizer.

Dormir juntos nunca foi uma opção, jamais! Mas desta vez foi diferente, mais uma vez o encaixe perfeito, dormi abraçado, com as mãos dentro de sua cueca! Dormimos assim até o telefone tocar, era a secretaria do dentista confirmando para dali a duas horas a consulta dele, levantamos e fui tomar mais um banho, desta vez para ir embora e no banheiro do outro quarto, eu estava apaixonado novamente, me sentindo vulnerável, pois tinha sido passivo, fazia anos que não eu não fazia isso. Vestidos, pronto para ir embora, fui dar um beijo de despedida, fui barrado com uma mão no meio do meu peito e ouvi a seguinte frase, “não beijo de manhã”. Fiquei completamente constrangido, não trocamos mais nenhuma palavra. Me deixou na próxima estação e disse como eu chegaria em casa. Mudei de planos, resolvi ligar para uma amiga e marcar para almoçar, fazia tempo que não nos víamos. Como é divertido ter amigos artistas, com sua visão romântica do mundo, vendo a beleza onde não há, foi muito agradável. A tarde chegou com uma rapidez, final de tarde, resolvi ligar para o Guilherme e dar um oi antes de descer, mas fui tratado com indiferença, me senti usado e aquele sentimento surgiu dentro de mim, o único que poderia me confortar: o amor próprio. Continuamos da mesma forma por algum tempo, ligando a cam e trocando poucas palavras e depois nenhuma, me distanciei da net, pois gerenciar um vídeo bingo era algo que consumia muito do meu tempo, praticamente em horário integral.

Ele ficou marcado na minha memória e seus telefones continuaram por anos em meu celular, na verdade, nunca foram apagados, mas também nunca liguei, mesmo toda a vez que eu olhava meu coração dava uma acelerada, pensei comigo, em seguida, você vai ficar sempre na minha memória, como um babaca…

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

COMPARTILHAR


COMENTÁRIOS