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A comédia do casamento

Redação Lado A 16 de Outubro, 2010 02h31m

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(Então está certo: se é pra me mostrar no “meio”, vamos ao “meio”, sem cortes)

Falemos sobre casamento. – O quê? – Isso mesmo: Casamento! Aí vão me perguntar sobre a legalidade do fato: – E daí que dois homens juntarem seus trapos não seja legal? E daí se as garotinhas resolveram grudar as escovas de dentes de uma vez por todas? Me poupe quem não concorda, mas olha só: tanto heterozinho metido à besta jura fidelidade, LEALDADE, até que a morte separe, mas basta aparecer uma loira peituda ou um mecânico cheio de graxa que a promessa vai para as “cucuias”. Vi isso Domingo, quando fui à missa com minha mãe… Aquele bando de gente rezando e pedindo perdão, apontando pecados. Muito bonito, não fosse o fato de que, mais ou menos, 70% daquele pessoal estavam no baile, na noite anterior, incluindo a minha mãe.

E a maioria não estava lá muito em condições de pensar em pecados. Mas, enfim… O que acontece é que o mundo anda tão, mas tão contraditório que casamento já virou algo muito raro de se ver. Casamento de verdade, daquele que a noiva coloca o vestido, jura que é virgem e o noivo jura que é fiel e vão pra noite de núpcias. Às vezes é verdade. Na novela das 20h foi. E naquela que falava de anjos, que não lembro o nome. Ainda não tive a honra de verificar isso na realidade, mas dizem que acontece. Quem sabe?!

Minha gente… Casar virou essa coisa gostosa de descobrir o amor e tomar coragem para aceitar os defeitos do outro sobrepondo às qualidades. Não precisa essa coisa de padre abençoando e arroz sendo jogado pra provar que se ama, não é mesmo? Pois bem, partamos dessa idéia, salvo quem não concorda, porque sempre tem alguém pra me contradizer, e vamos ao mérito: O CASAMENTO!

Ah, o tão sonhado encontro com a pessoa ideal… Você conhece o cara, ficam naquela noite. Ficam na seguinte. E na outra. Na outra. E assim acontece pelas próximas 37 noites, intercalando os dias, e os feriados, ah, e é claro, os finais de semana que são curtidos integralmente. Quando se vê: Te amo! E é lindo descobrir o amor ao lado de alguém… Sentir-se amado é mais lindo ainda. Ocorrem casos, como o meu, em que você descobre o coraçãozinho pulando de emoção, arrisca o convite e leva um não bem absurdo na cara. Acontece! Aliás… Comigo sempre acontece, talvez porque eu queira casar a todo custo… Uma espécie de Bridget Jones em busca do seu par perfeito: mas é tudo uma questão de tempo. Tempo chorando sobre o travesseiro. Tempo vendo fotos e jurando que era amor. Tempo comendo uma caixa de chocolate em 5 minutos. Tempo de descobrir que o mundo não vai sentir pena de você. Até chegar o tempo de se colocar aquele jeans surrado que deixa sua bunda uma “dili” e ir pra pista curtir “I love rock n roll” – e encher a cara, é claro, porque você pode!

Pois bem, mas voltando ao assunto… Gente! E quem tem a sorte? A famosa fada do amor sempre rodeando os cabelos entopetados, cheios de gel? Ah, esses sim, como eu dizia: “Te amo!” E, dali para frente, voam cheques pré-datados, tecidos e mais tecidos para a costureira. Quem vai pagar o que, onde morar, como fazer, porque fazer: Deve de ser uma delícia – sim, porque a gente que não encontra com essa maldita fadinha rodeando nosso cabelo despenteado nem imaginamos o que seja isso! – E enfim chega o dia da mudança, a kitnet apertada, ou o apartamento bombástico – por que não? Os móveis arrojados, ou os que sobraram da sua antiga casa – também, por que não? Tudo perfeitamente lindo. Tão lindo por ser romântico, porque, no fundo, todo mundo sonha com seu “Don Juan” lhe carregando no colo e dizendo que a partir dali a vida vai começar. Até choro. De raiva. Sim, porque aquela fada do caramba sequer tem passado por aqui pra me deixar um pouquinho de esperança!

E, depois de tudo pronto, é claro: “Toooooooooooooooby. Toby vem com mamãe!”. E está pronta a vida. Uma nova vida para ser vivida dia após dia, dividindo os problemas, somando as conquistas. Mas que papo careta, “né não?” Não, meu bem, para mim e pra você, bem no fundinho, esse papo traduz os sonhos mais íntimos. Puxa aí, que sei que está em algum lugar: o encontro, o namoro, o amor e, enfim, o casamento.

A cozinha toda decorada, tudo preto e branco. O quarto com aquela box imeeeensa e fofa, e um litro de KY no bidê do lado. O Toby, ou Totó, como queira, aprendendo a fazer xixi no banheiro, pra dentro do box. Ah, e é claro, não posso esquecer da festa: você, liiiindo na bata branca, com os pêlos do peito aparecendo, deixando a coisa sexy e romântica. Seu Don Juan, todo sorridente e choroso, livre e pronto para estar sempre ao seu lado. E é claro, tooooooooooooodas as amigas do call center, para morreeeerem de inveja do seu bofe escândalo.

Diz aí: Não imaginou a cena? Coisa linda de morrer. De morrer esperando, porque, mais uma vez, a gente que não vê com facilidade essa fadinha do amor. Um dia ainda pego essa vaquinha e ela vai ver bem com quantos centímetros se faz uma vara de condão.
Sabe qual o problema de todo mundo? É medo. O medo de dar o próximo passo, porque a segurança da solidão ainda é mais viável que o risco do amor. É mais fácil fechar os olhos e fingir que não existe razão alguma para querer “ser pra sempre”, que “deixar tudo como está” é mais maduro, mais responsável. O problema é a covardia que impede de se jogar forte, mergulhar fundo. O risco é tão eminente quanto deixar tudo como está. A diferença, no final das contas, é que alguém vai estar com a fadinha do amor bem do lado da sua “segurança”, e numa hora que você não estiver por perto…

Bem, não preciso nem dizer como ficam as coisas. Vai chegar, toda brilhante, toda entusiasmada, vai chamar seu “broto” pra um café e, quando você se der conta, não vai ter mais a responsabilidade sobre suas costas, porque ela já estará com o Don Juan que tava ali, do seu lado. E pior: sua “comodidade” vai estar lá, já, toda feliz, passeando com seu casal de Schnauzers: o Ian e o Lord, porque as coisas mudam meu bem!

Agora vou te contar um segredo: Todo mundo tem a fadinha safada do amor, inclusive eu! Mas ela só aparece quando a fadinha de um chama a do outro para brincar; caso contrário, ela se esconde e fica ali, tímida, quietinha, até aparecer uma que a chame. Quem sabe elas sejam lésbicas, hein?! Pois bem, meus amigos… O casamento é uma comédia. O amor também o é. E a fada do amor, então, nem se fala… O que se deve falar é muito simples: não deixe para depois. Não se adia o amor. Não se tranca a “fadinha” em seu quarto por puro medo de ser feliz.

Redação Lado A

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A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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