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A Bohemian Rhapsody

Redação Lado A 22 de Novembro, 2010 20h44m

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No dia 24 de novembro fará 19 anos que Freddie Mercury se foi. Mais um entre tantas outras vítimas da AIDS. Eu tinha 4 anos quando ele morreu e tenho certeza que quando isso aconteceu não representou nada pra mim, mas o que Freddie significa pra mim hoje em dia é muito além de um cantor de rock.

Ele é um símbolo, um standard, um mártir, se você preferir, na luta contra o preconceito.

Mesmo sendo o único cantor de rock a ter uma platéia de 72 mil pessoas (Live Aid, 1985) aplaudir de pé e balançar em conjunto, Mercury ainda aparece na 18ª. posição como o cantor de rock mais influente em uma lista de 100 criada pela Rolling Stone Magazine.

Sua voz escalava de um E2 para um F5, você conhece algum outro cantor de rock que consegue fazer o mesmo? (Edson Cordeiro também cobre 4-oitavas, aliás, e também é gay e o Brasil não se importa tanto com ele assim… por que será?)

Freddie Mercury é um símbolo na luta contra o preconceito, tendo sua vida sempre sobre especulações sobre suas “preferências” sexuais. Certa vez, uma jornalista perguntou “E sobre as suas inclinações?” e Freddie respondeu “Você é uma vaca traiçoeira. Houve um tempo em que eu era jovem e verde, e sofri esse tipo de brincadeira dos garotos da escola, isso é algo que toda criança sofre. Eu já sofri com essas brincadeiras o suficiente. Não vou elaborar adiante.” demonstrando que sofreu bullying quando criança.

Mesmo a sua banda, quando sugeriu o nome Queen (“Rainha”, mas que também é uma conotação para gay em inglês) não foi muito cooperativa no começo.

Uns meses atrás eu estava passando pelos canais de TV e parei por alguns segundos numa entrevista em que Adam Lambert dizia que ela era “cantor e não gay, por isso não me envolvo com a comunidade gay. Aqui eu sou um artista, sem gênero” e eu fiquei puto.

O único motivo pelo qual você pode usar rimel, pintar as unhas de preto e ser abertamente gay para o mundo, sr. Lambert, é porque a comunidade gay antes de você ter começado a pensar em existir estava lutando pelo SEU direito de ser o que quiser. É porque Freddie Mercury estava no palco vestido do jeito que ele queria, expressando um estilo que você deve achar muito moderno, mas que ele já exibia 30 anos atrás.

Eu comecei a ouvir Queen porque minha mãe comprava os CDs, ela sempre adorou Freddie Mercury. Eu não acho que ela entenda o que ele significa pra mim, o poder que ele exerce e como a atitude que ele teve décadas atrás mudou o mundo e incitou a revolução mental de uma geração. Mas me faz feliz que ela gosta de Queen e eu nunca ouvi uma palavra de preconceito dela.

Aliás, quando procurando por fotos do Freddie pra colocar como avatar no meu Facebook, tinha uma foto dele com o dizeres “Freddie Mercury: gayer than a bag of dicks” (Freddie Mercury: mais gay que uma bolsa de pintos). Ou seja, o preconceito ainda está ai, vivo e queimando.

Talvez não seja nem o fato de Freddie Mercury ser gay que incomoda tanta gente, mas o fato dele ser livre, de dizer, fazer e vestir o que queria. Uma mente livre.

O Brasil acabou de passar por um momento histórico ao eleger Dilma como presidente, vamos esperar que ela faça algo positivo pela comunidade gay.

Eu te amo por tudo o que você representa, Freddie Mercury.



Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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