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Gayme: mais homossexuais ridicularizados na tevê

Redação Lado A 02 de Fevereiro, 2011 15h34m

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O programa Amor & Sexo reestreou nesta terça-feira com uma novidade: o quadro Gayme. Uma gincana onde homossexuais precisam provar que podem desenvolver atividades ditas de homens heterossexuais, ou femininas com facilidade, e que recebem um prêmio por isso. No quadro de estréia, apresentado pelo ator Maurício Branco, os participantes precisaram cantar uma mulher na praia e pegar seu telefone, correr de salto, se passar por hétero para um garçom gay, trocar um pneu de carro e, por último, desabotoar o sutiã de duas modelos com uma mão. Participaram do programa o mineiro Charles (33, dentista e Miss Gay Brasil), Alberto (36, músico) e Diogo (24, pedagogo) que venceu o desafio e faturou uma viagem de cruzeiro.

A fórmula não é nova. O programa Pânico já fazia em 2006 um quadro onde homossexuais famosos se submetiam ao teste “Macho por um dia”, onde precisavam mostrar que podiam se passar por “machos”. Ao contrário de Gayme, o apresentador lá não defendia os participantes  que precisavam se tornar “machos” e os humilhava repetidamente. Mas qual a diferença ao Gayme? Um prêmio ao final e um falso discurso inclusivo?

O programa repete preconceitos, amplamente divulgados no senso comum, como a de que “homem de verdade”, “todo gay tem vontade de usar ou já usou um salto alto”, “chopp é bebida de macho”, “homem que é homem não faz a sobrancelha”, entre outros. Entre um discurso de que não há estereótipo e outro, mostram cinco homossexuais afeminados na tevê, se chamando pelo feminino, dando em cima de homens, exalando gírias e fazendo palhaçadas que causaram risadas e fizeram o quadro se transformar em fenômeno, inclusive no Twitter, onde virou um dos assuntos mais comentados da noite.

O apresentador Mauricio Branco estava claramente alterado, fazendo caretas e expressões estranhas. Os participantes deram pinta e contrariaram a afirmação de que há gays de todos os tipos, pois só foi mostrado o mesmo: o gay afeminado. E do tipo definido pela mãe de um deles, Diogo, o vencedor, que revelou sobre a participação do filho: “É o sonho dele, sempre aparecer”.

O programa é mais um daqueles que exploram o ridículo, causando risadas e uma falsa sensação de aceitação. Como um twitteiro lembrou: “A Globo não mostra gay se beijando, mas adora uma viadagem”. Outro comparou o espaço que foi amplamente anunciado com o Zorra Total, onde gays também servem de motivo de risada. Se era para celebrar os gays, por que não fizeram um quadro onde heterossexuais precisavam se passar por gays e sofressem os mesmos preconceitos diários, na escola, em casa, no trabalho, na rua? Talvez porque este quadro não fosse ter a menor graça.


Assista o quadro GayMe:
























Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

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A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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