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Meninos de Vênus

Redação Lado A 16 de Fevereiro, 2011 15h29m

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É possível ser gay sem despertar preconceito? E evocar a feminilidade, através de gestos, vestes, feições, sem acarretar a repulsa de membros do mesmo grupo – e, em casos extremos, manifestações gratuitas de violência? É admissível que meninos frágeis e delicados expressem-se sem medo em qualquer local ou ocasião sem que, para isso, definam-se como parte de um gueto, onde só entra quem fala o mesmo linguajar, segue os mesmos rituais, adota o mesmo manual? Pois a vida prova que a solução está nas mãos de quem à procura. Mas há um detalhe primordial nesse quesito: a premissa é se voltar não à preferência sexual como bandeira, mas definir-se como pessoa através de valores (bons ou não) inerentes e reais. Regras e éticas de conduta que os próprios integrantes desse segmento culminaram por, assim dizer, erradicar ao longo das últimas décadas. Seja através de formas errôneas de pensar, de agir, de propagar filosofias e de ditar regras, segregando-se sistematicamente.

A sociedade evolui à medida que as facilidades para a odisséia terrestre vão se revelando, expandindo-se como uma parabólica, que difunde seu conteúdo em velocidade impressionante. Ritmo que, talvez hoje em dia, gerações não estejam aptas a acompanhar. Por isso os choques, os tabus, as polêmicas. Há muita novidade e informação para ser processada em curtos períodos, o que impede o cérebro de direcionar o tempo correto para digeri-las e aproveitá-las. O que sobra, descamba quase sempre para escárnio ou repulsa. A proposta a que este livro se dedica é sugerir menos atenção à mídia e maior foco às coisas simples da vida, na busca plena pela felicidade.

Talvez pela recusa de padrões tidos como “corretos”, o que instiga a liberdade de fazer e sentir, não pautada nesse ou naquele “modelo” de viver, mas sim na vivência única, que se obtém no direto relacionamento pessoal, sem máscaras ou barreiras. O objetivo do ser humano é sentir-se bem. Uma busca incessante, porém viável, na ótica das propostas tangíveis. Meninos que se sentem mulheres, portanto, guardam em suas mãos a chave para realizarem-se política, social, instintiva, profissional e afetivamente. Basta que, para isso, evoquem o princípio básico deste fim, a produção neurológica de hormônios ligados à feminilidade, através de manifestações artísticas, culturais, esportivas e lúdicas como um todo. Não para recurso profissional, mas sim como ócio curativo. Uma conduta que não deve mais ser adotada como “escolha”, mas, sim, vocação.

Homens de Vênus – meninos moça, enfim – nascem dessa forma e assim devem permanecer, sem atentados à lógica sentimental ou física que esse viver requer. Não é possível – pudera interessante – “estimular” outra sexualidade através de tratamentos alternativos, clínicos ou medicinais. O estrogênio, comprova o cotidiano intrínseco da cadeia humano-terrestre, brota do organismo de indivíduos concentrados em sua produção biológica, ou seja, espontânea. Homens naturalmente femininos, e satisfeitos com essa condição, compõem uma das vertentes básicas da raça. Trata-se do homossexualismo espiritual e sociológico, não carnal ou meramente atrelado ao coito, uma conduta sexual pautada na cadência universal de emoções. Um deleite para seus seguidores, uma nova percepção – e apreciação, espera-se – aos que com tais indivíduos convivem.

Milênios de evolução têm despertado no ser humano anseios por relações menos promíscuas, volúveis e calculistas, onde o verdadeiro amor também esteja ao alcance de jovens incompreendidos e desenganados, vitimados pela sociedade e, claro, por eles mesmos. Afinal, não compreender a si próprio é, provavelmente, o pior dos dissabores.

 

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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