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Colunista esportivo exala preconceito em texto sobre homofobia no vôlei

Redação Lado A 15 de Abril, 2011 18h29m

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(Nota do editor: A princípio, confundimos o Rica Perrone com Ricardo Perrone, do UOl, também de esportes, a foto foi excluída)

Rica Perrone, colunista do site do Globo Esporte, afirmou esta semana, em texto publicado na quarta-feira, dia 13, intitulado “Hipocrisia tem limite”, que a punição ao time cruzeiro foi a piada do século e que tudo isso foi ridículo, lamentável e hipócrita. O colunista defendeu ainda o direito de “brincadeiras” como esta e foi além, disse que ser gay é opção, como escolher um time de futebol, e que gays querem ter mais direitos do que as outras pessoas.

“Sejam gays. A gente aceita. Só não forcem pra ser “exemplo”. Se querem igualdade, taí. O que querem, agora, é tratamento VIP. Já nos obrigaram, com razão, a respeitar. Não tentem nos obrigar a gostar”, disse o colunista depois de dizer que “Ser gay, que no meu conceito é 100% diferente de ser viado, é uma OPÇÃO SEXUAL. Viado é uma ´opção pra aparecer`”. Ou seja, defende que os gays sejam discretos e aceitem ofensas desse tipo, pois as brincadeiras são, segundo ele, normais. Já a discriminação a negros ele diz que é diferente, pois não se escolhe ser negro… disse ainda que ele mesmo é chamado de gordinho ou alemão mas não se importa, pois não tem carga de preconceito quando o chamam dessa forma. Com certeza, se pessoas morressem assassinadas por ter essas características, como ocorre com os negros, ele iria se importar.


O colunista é equivocado e tenta mascarar o seu preconceito e ignorância com rodeios. Ele não é um torcedor que nasceu na pobreza e vive com limitações para seu crescimento intelectual. Ele é um jornalista, profissão essa que tem em seu código de ética, que regulamenta a conduta correta nesta profissão, no artigo 9º., o  dever do jornalista: “valorizar, honrar e dignificar a profissão; Opor-se ao arbítrio, ao autoritarismo e à opressão, bem como defender os princípios expressos na Declaração Universal dos Direitos do Homem; Respeitar o direito à privacidade do cidadão;” No artigo seguinte, no 10º. Descreve-se o que NÃO é permitido ao jornalista: “Frustar a manifestação de opiniões divergentes ou impedir o livre debate; Concordar com a prática de perseguição ou discriminação por motivos sociais, políticos, religiosos, raciais, de sexo e de orientação sexual;”.


Hipócrita é um jornalista escrever o que ele escreveu e achar que não está sendo preconceituoso, ou incitando a violência contra homossexuais e disseminando preconceitos. Ser gay não é opção, dizer isso, é o mesmo que dizer que ser heterossexual é opção… logo, infelizes aqueles que se revoltam contra o direito alheio, pois fica claro que estão descontentes com o que escolheram.


Para piorar a situação, o blog de Perrone é patrocinado pela empresa brasileira Olympikus, patrocinadora do vôlei brasileiro e do Comitê Olímpico Brasileiro nas últimas Olimpíadas. O público GLS, revoltado com o texto do jornalista, já propõe até boicote à marca por apoiar Perrone. É uma questão de bom senso… alguém tem o direito de ofender e segregar pessoas? Obviamente, não. Hipocrisia é a Olympikus continuar a patrocinar esse tiro no próprio pé.



Confira o texto completo do jornalista:


Hipocrisia tem limite


Eu sei, é bonito defender causas nobres e que estejam na moda. Sei também que vai pintar ONG pra tudo que é lado me enchendo o saco e interpretando o que eu digo, também, como uma “ofensa” ou “preconceito”. Mas, convenhamos, sem viadagem… já deu né?


O Cruzeiro ser punido no Voley porque sua torcida chamou o carinha do outro time de “viado” é a piada do século. Pra mim, é claro. Pra muitos é a “lição de moral” do ano.


Qual é a novidade em uma torcida chamar um adversário de viado? Qual foi o jogo, dentre os últimos 9 milhões aqui no Brasil, onde a torcida local não chamou o destaque rival de “viado”?


Onde é que está o processo contra as torcidas que chamaram o Ronaldo de gordo?


Cadê a liga da justiça pra encher o saco quando xingam a mãe do juiz no futebol?


Não tem ONG “Mamães legais” ainda? Cria uma aí, pô! Se dá grana não sei, mas ibope dá.


Vamos separar as coisas e excluir o oportunismo ignorante, que é o pior que tem.


O sujeito que nasce negro ou branco não pode ser discriminado pela cor que tem. Racismo é CRIME, é absurdo e não faz sentido.


O que não tem NADA a ver com o fato de eu virar pros meus amigos negros e chama-los, carinhosamente, de “Negão”. Pois assim o Pelé, rei do futebol, se chama, por exemplo.


Como nunca dei ataque por ser chamado de “gordinho” ou “alemão”.


São termos que, goste você ou não, perderam o tom ofensivo. É absolutamente popular, comum, inofensivo.


Assim como brincar com seu amigo e chama-lo de “viado”, ou hostilizar um rival com o termo. É normal, não quer dizer que “odiamos você por você gostar de meninos”.


Quer dizer: “Você é viado!”, sendo ou não. É uma forma de mexer com o jogo, só.


Ser gay, que no meu conceito é 100% diferente de ser viado, é uma OPÇÃO SEXUAL. Viado é uma “opção pra aparecer”. Assim sendo, é opcional ser gótico, Emo, pagodeiro, roqueiro, palmeirense, flamenguista, etc. Você escolhe o que quer ser e como quer viver. E isso gera grupos que se afastam ou se aproximam de você.


Adoro samba, logo, tenho enorme facilidade em ter amigos sambistas. Não tenho, porém, grandes amigos roqueiros daqueles que andam de preto balançando a cabeça. Sou guitarrofobico?


Porra! São escolhas, e não ofendendo, não menosprezando, é tão direito seu andar de rosa quanto meu andar do outro lado da rua. Qualé?


Você quer ser gay ou amigão da galera? Quer ter direitos ou “mais direitos” que os outros?


Pelo que brigam, afinal?


Porque nunca no esporte ficaram de nhe-nhe-nhe com as ofensas de uma torcida a um jogador e agora vão fazer isso?


Porque ele é gay? E dai? Quem disse que a mãe do juiz não é, de fato, uma puta?


Como fica então as musiquinhas de torcida que ofendem pessoas de outro estado a cada jogo? Puniram alguém por isso?


Fizeram ondinha por isso?


Me lembro que na Vila Belmiro a torcida do Santos meteu faixas tirando sarro do Richarlyson, que jura não ser gay. No outro dia tinha jornal e principalmente moralista babaca na tv dizendo que o “ato homofobico” da torcida….


Que homofobia se ele é homem???????


Homofobico é você, que está chamando ele de gay.  A torcida deu a ele o mesmo tratamento que dá ao destaque do time rival, sempre.


Maior palhaçada esportiva que já vi nos últimos tempos a punição ao Cruzeiro. Ridículo, lamentável e hipocrita.


Eu não sou gay, nunca destratei um gay, não sou homofobico, mas não quero ter um filho gay. Como não quero ter um filho gótico e nem Emo, o que não me torna um “emofobico” ou “Goticofobico” e nem gera centenas de moralistas me enchendo o saco.


Porque? Quem está tendo “tratamento diferenciado” agora?


Sejam gays. A gente aceita. Só não forcem pra ser “exemplo”.


Se querem igualdade, taí. O que querem, agora, é tratamento VIP.


Já nos obrigaram, com razão, a respeitar. Não tentem nos obrigar a gostar.


abs,
RicaPerrone


http://www.ricaperrone.com.br/2011/04/hipocrisia-tem-limite/


 

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

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A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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