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Literatura: Livro Triângulo Rosa – Um homossexual no campo de concentração nazista

Redação Lado A 05 de Abril, 2011 17h13m

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Em 2008, aos 96 anos, Rudolf Brazda decidiu contar ao mundo os horrores que viveu sob o regime nazista. Filho de pais tchecos e homossexual, Brazda ficou preso em um campo de concentração em Buchenwald de 1942 a 1945, quando foi libertado. Depois, mudou para a França e apenas quando foi visitar o memorial em memória às vítimas do nazismo em Berlim, há três anos, que descobriu que era o último sobrevivente gay do lugar onde havia ficado. Ali nasceu a idéia de escrever a sua história, um relato único e instigante, sobre uma história poucas vezes contada.


Estima-se que 10 mil homossexuais foram mortos por Hitler até o fim da Segunda Guerra Mundial. Marcados com um triângulo rosa invertido, hoje símbolo do movimento gay, eram obrigados a trabalhar como escravos, eram humilhados e mortos sistematicamente.


Marcado pela tatuagem 7952, Brazda conta os anos de horror que presenciou, em um relato cru de uma história que não pode ser esquecida. Ele tinha apenas 20 anos quando os nazistas tomaram o poder na Alemanha. Em 1935, o regime passou a cadastrar os homossexuais alemães para depois aplicar-lhes as novas leis. Em torno de 100 mil homossexuais foram perseguidos pelo sistema. A polícia chegou até Brazda em 1937 e o prendeu por “luxúria antinatural”. Depois de seis meses, foi solto e fugiu para a terra de seus pais. Mal ele sabia da anexação que viria em seguida e o novo tratamento dado aos homossexuais por Hitler havia endurecido. Em 8 de agosto de 1942, depois de mais de um ano preso, ele foi mandado para Buchenwald.


“Não tínhamos medo de morrer e, se fôssemos pegos, poderia ter sido fatal. Ver gente morrendo nos deixava quase indiferentes, pois isso era constante no cotidiano. Hoje, choro toda vez que me lembro desses instantes terríveis, mas na época eu endureci para sobreviver… como os outros. Acabamos nos habituando à ideia de morrer a qualquer instante”, conta trecho do livro em que ele e um amigo foram até o telhado e presenciaram a execução de soldados soviéticos.


No livro Triângulo rosa – Um homossexual no campo de concentração nazista (184 p., R$ 48,90), lançamento da Mescla Editorial, Jean-Luc Schwab, pesquisador e militante dos direitos dos homossexuais, conta em detalhe essa história. Sustentado por um rigoroso trabalho de pesquisa, ele reconstrói a vida de Rudolf, que se abre num depoimento marcado pela dor e pela esperança de quem sobreviveu aos horrores do nazismo.


“Suas várias gargalhadas e seu entusiasmo indefectível não podem ser separados de sua surpreendente longevidade. Uma distância e tanto das agruras do passado”, afirma o biógrafo Jean-Luc Schwab, responsável pela documentação do livro.


“Trajetória atípica a de Rudolf, iniciada na Alemanha, passando pela Tchecoslováquia, depois pelo campo de concentração de Buchenwald, para enfim terminar na França. Em seu caminho, encontros com pessoas cuja vida mal se conhece, mas não menos marcantes. Para muitos, o percurso de Rudolf resultou da repressão de sua sexualidade pelos nazistas. Mas isso não o impediu de ter vida plena, com vários amigos e camaradas”, comenta Schwab. Alguns anos depois da libertação, em 1950, ele conheceu Edi, seu companheiro por quase meio século, que morreu em 2003, aos 73 anos. Rudolf, fiel até o fim, estava ao lado dele.


Quando lhe perguntam como vê a vida, do alto dos seus 97 anos, Rudolf declara com prazer: “Atingi uma idade avançada e vivi mais tempo do que meus irmãos e irmãs, assim como mais do que meus amigos e companheiros de deportação. Passei quase 50 anos com meu querido Edi e hoje ainda consigo sempre satisfazer as minhas vontades sozinhos: faço a comida, as compras, lavo a roupa e arrumo a casa. Se Deus existe, ele foi particularmente bom comigo, porque tive uma vida feliz e plena. E, se eu tivesse de refazer tudo, não mudaria nada, nem mesmo Buchenwald”.


Serviço
Título: Triângulo rosa – Um homossexual no campo de concentração nazista
Autores: Jean-Luc Schwab e Rudolf Brazda
Tradução: Angela Cristina Salgueiro Marques
Editora: Mescla Editorial
Preço: R$ 48,90
Páginas: 184
ISBN: 978-85-88641-13-6
Atendimento ao consumidor: 11-3865-9890
Site:
www.mescla.com.br

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

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A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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