Frei da Igreja Católica defende decisão do STF que reconhece uniões gays

O frei mineiro da ordem das carmelitas Gilvander Moreira é militante dos direitos humanos e discorda da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e acredita que o Supremo Tribunal Federal (STF) acertou na semana passada ao reconhecer a união estável de pessoas do mesmo sexo como família. Na mídia, sem medo de represálias, o religioso adepto da Teologia da Libertação, mestre em Exegese Bíblica e professor de Teologia Bíblica garante: “Se o elo mais forte de uma corrente é justamente o elo mais fraco, só poderá ser mais justo e aplaudido por Deus o elo enfraquecido e discriminado. Feliz do povo que ouve os clamores dos que fazem outra opção sexual senão a hegemônica. Deus ouve os clamores de todas as pessoas oprimidas. Deus é amor e não discrimina e nem pune ninguém por opção ou orientação sexual. Deus acolhe a todos sem distinção”.

 “Quanto mais estudei a Bíblia mais percebi que ela prega a liberdade para todos. A Bíblia precisa ser interpretada a partir da luta contra injustiça”, diz o frei que usou a internet para divulgar a sua opinião que não é compartilhada por sua diocese. Frei Gilvander nasceu no interior de minas, em Rio Paranaíba, a 321 quilômetros de Belo Horizonte, filho de uma família de sem teto. Sua mãe queria que ele fosse pastor mas aceitou quando ele escolheu o seminário carmelita. Ele se formou em filosofia pela Universidade Federal do Paraná, em Curitiba, e foi para Roma onde fez mestrado em Exegese Bíblica.

O frei considera a decisão do Supremo uma vitória dos movimentos sociais. “O STF posicionou-se com justiça e equidade. A sociedade está em constante transformação, e esse grupo em questão existe e está no dia a dia vivendo e construindo suas relações à margem da sociedade”, falou o frei progressista para o Blog do Noblat, no jornal O Globo. O frei afirmou ainda que a sociedade brasileira é “preconceituosa, intolerante, hipócrita e cínica” e que a união civil entre pessoas do mesmo sexo não ameaça a família. “São minorias e há uma grande pluralidade de famílias hoje. Há famílias tradicionais; famílias só com mãe e filhos; 80 mil famílias sobrevivendo debaixo da lona preta em acampamentos clamando por reforma agrária; milhares de famílias que sobrevivem apertadas em um único quarto de cortiço; milhões de famílias arrochadas em barracos nas favelas; famílias só “marido e mulher”, sem filhos. Por que não pode haver também famílias homossexuais?”, pergunta o religioso.

Gilvander falou ainda de Bíblia, do uso da camisinha e do conservadorismo na Igreja.

Confira a entrevista:

http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2011/05/13/padre-elogia-stf-por-legalizar-uniao-de-casais-gays-377843.asp