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Carta a uma gazeta da direita

Redação Lado A 16 de Maio, 2011 17h40m

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Ilmo. Sr. Coronel Carlos Miguez.

De posse de um exemplar da gazeta Inconfidência, número 163, depararam-se-me alguns artigos relacionados com o combate às iniciativas governamentais, no âmbito da sexualidade.

Antes de tudo, quero deixar-lhe explícito que não sou marxista, não sou petista, não sou esquerdista, não sou gramscista, como não sou cristão, não sou católico, não acredito em deus nem na Bíblia.

A homossexualidade corresponde a um dado da natureza humana, a um fato da sexualidade do ser humano. Sempre existiu e sempre existirá.

A homofobia corresponde a um dado da cultura, a um fato criado artificialmente por certa religião, no ocidente, a saber, o cristianismo.

O ser humano é espontaneamente heterossexual, homossexual e bissexual; certas pessoas são culturalmente homofóbicas.

Por séculos a fio, o cristianismo condicionou as mentalidades no ocidentes e, neste condicionamento, criou a ginofobia (ódio às mulheres, no início da Idade Média), o anti-semitismo, o ódio aos protestantes e o aos homossexuais.

O movimento pró-gueis, tão evidente nos últimos anos, corresponde a um avanço no sentido da liberdade de ser e de fazer, e a um avanço no sentido da igualdade de tratamento em favor de pessoas até aqui discriminadas.

Obviamente, todos são livres de repudiarem a homossexualidade, ao mesmo tempo em que todos devem respeitar a condição sexual do seu semelhante.

É alarmista e ridícula, no seu histrionismo, a afirmação de que o governo atual pretende transformar crianças em homossexuais. Ninguém é transformado em homo, como tampouco em hetero.

Vocês, da direita, preocupam-se excessivamente com a liberdade alheia, com a sexualidade alheia, com a privacidade alheia, quero dizer, com a homossexualidade alheia, como se ela devesse ser proibida. Vocês, heterossexuais da direita, adotam uma atitude prepotente e arrogante; vocês são homofóbicos e fomentam a discriminação, mercê da  premissa de que a heterossexualidade corresponde à norma, ao correto, ao ideal de sexualidade e pretendem calar toda expressão oposta aos vossos valores.

Vocês, da direita, pretendem-se porta-vozes dos valores do liberalismo econômico e político, e, no entanto, praticam o seu oposto, ou seja, pretendem que haja liberdade, desde que seja a de enaltecer-se a heterossexualidade. Nada mais totalitário,  nada mais oposto aos vossos ideais.

No movimento guei não há nenhum ataque à família tradicional e nenhuma impugnação da heterossexual, daí que a grita da direita apresenta exclusivamente o caráter de intolerância e de desrespeito humano.

É, a vossa, uma causa perdida. Por maior que seja a vossa indignação, felizmente, os costumes alteram-se e a natureza humana prevalecerá ali onde houver liberdade. O movimento guei deseja apenas isto: liberdade para todos e discriminação contra ninguém. São dois valores que certa direita, decididamente, despreza.

A direita homofóbica ou a parcela homofóbica da direita encarna uma postura que já vai sendo arcaica e que será progressivamente minoritária. Tanto pior para ela que, já tão combatida pelo esquerdismo que prepondera entre nós, desmoraliza-se ainda mais, pelo retrógrado desta sua posição; tanto melhor para a esquerda que, nisto, adota o valor da liberdade e que adotou uma causa profundamente humana, profundamente justa e profundamente libertária.
  
Saúde e fraternidade.

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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