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Família de Alexandre Ivo quer que lei com nome do adolescente seja incisiva contra a homofobia

Redação Lado A 07 de Julho, 2011 19h57m

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“Se Alexandre fosse gay… ele nunca deixaria de ser o meu Alexandre, o meu filho. Pela minha família, ele nunca deixaria de ser amado, de ser respeitado”, afirmou para a Lado A Angélica Ivo, mãe de Alexandre Ivo Rajão, morto aos 14 anos em 21 de junho de 2010, em São Gonçalo, no estado do Rio de Janeiro. Ela aprova o nome do uso do seu filho, vítima da homofobia, para batizar a nova proposta de Lei contra a Homofobia, que deverá substitui o PLC 122 no Senado Federal.

“Na verdade a gente fica feliz por esse reconhecimento, embora a gente ainda esteja lutando para fazer Justiça. Isso faz com que o caso continue na mídia, sendo discutido”, fala Angélica que espera que na próxima audiência, a quinta, no dia 19 de julho, finalmente seja marcado o julgamento dos acusados.

Era um domingo e o filho foi assistir ao jogo do Brasil na Copa do Mundo (Brasil x Costa do Marfim). Alexandre Ivo foi até a casa de seus novos amigos, que a mãe ainda não sabia, e que ele havia conhecido na Praça Zé Garoto, ponto de encontro de jovens de São Gonçalo. Durante o jogo, uma menina acusou um dos conhecidos de Alexandre de incomodá-la. O rapaz, homossexual, negou a provocação mas foi agredido por um grupo de homens chamados à festa pela garota que berravam palavras de cunho homofóbico durante o ato de violência. Alexandre Ivo não teria presenciado a briga mas acompanhou os amigos foram ao Pronto Socorro e  de volta casa, de onde Alexandre ia pegar um ônibus até sua.

Alexandre foi encontrado na quarta feira, em um terreno baldio usado por viciados em drogas. Ele foi morto asfixiado com a sua própria camiseta, além de ser espancado e torturado. A mãe procurava pelo filho desde a manhã de segunda e foi saber dos novos amigos de Alexandre apenas no IML, por coincidência. Eles faziam o exame de corpo de delito por causa da agressão do domingo e Angélica ia reconhecer o filho, depois que um parente viu no noticiário sobre um adolescente encontrado morto. Angélica foi informada então da situação da briga e de onde seu filho estava no domingo. Os três acusados da morte de Alexandre Ivo são o eletricista Allan Siqueira de Freitas, 23 anos, o brigadista Eric Boa Hora De Bruim, 23 anos e o André Luiz Marcoge da Cruz Souza, 24 anos que respondem pelo crime em liberdade. O processo apresenta várias falhas na perícia policial e a acusação está sendo conduzida por um promotor público.

Sobre Alexandre ser homossexual, a mãe diz que não pode afirmar mas sabe que o crime foi homofóbico. “Na verdade eu não posso fazer a minha fala em suposições, eu vou me manter desde o inicio. Infelizmente eu não tive tempo hábil para conversar com meu filho sobre o assunto e ele não teve tempo de firmar a sua orientação sexual”, explica Angélica sobre a sexualidade de Alexandre que teve sua vida ceifada prematuramente de forma cruel. “Quando eu me deparo com mães e filhos homossexuais, eu falo que eles tem que se preservar e contar para a família, pois eles não vão saber lutar e conquistar no mundo sem antes conquistar o seu espaço dentro de casa. Eu nunca desejo para as outras mães passem o que eu estou passando”, desabafa a mãe que tem ainda uma filha, de 18 anos, que quer atuar em direitos humanos por causa da morte do irmão.

Angélica ainda não leu o novo texto da lei que quer criminalizar a homofobia no Brasil e diz que vai se manifestar em breve mas que espera que a lei seja incisiva, mas pondera que é uma forma de reconhecer a questão, mesmo que não seja aprovada com o conteúdo da forma ideal. Já Marco Duarte, primo de Angélica, militante dos movimentos gay, negro e saúde mental, afirma que o conteúdo do novo projeto é um retrocesso. “A nova propositura deixa de lado o xingamento verbal, deixa a deriva que uma pessoa que esteja em uma manifestação de afeto homoafetivo seja xingada ou humilhada”, diz o professor da UERJ que também é assessor do deputado Jean Wyllys.

Para ele, o novo texto compactua com o conservadorismo, ao contrário da proposta inicial do PLC 122. Para Duarte, que participa do movimento negro, a proposta está sendo alterada para aprovação, mas pode terminar em uma lei ineficiente, como o Estatuto Racial, que foi aprovado mas teve sua essência alterada. Ele diz ainda que a lei contra a homofobia deveria ser como  a lei do racismo, que é mais completa.

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A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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