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Homofobia sem limites: Criança de 2 anos sofre ataque homofóbico e família fica assustada com ameaças após repercussão

Redação Lado A 09 de Agosto, 2013 17h33m

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Uma criança de 2 anos foi vítima de bullying homofóbico em de Davenport, na Flórida, EUA. A mãe, Katie Vyktoriah Reed, uma blogueira que fala de maternidade, estava na semana passada com seu filho Dexter, dentro de um mercado da rede Walmart, quando um homem notou que a criança usava um enfeite feminino no cabelo, ele se assustou depois que duas crianças perguntaram para a mãe se era um menino ou uma menina e riram. Ao saber que a criança era um menino, o homem avançou sobre Dexter e retirou a faixa de sua cabeça, arremeçando  o adereço no carrinho do bebê. “Um dia você vai me agradecer, rapazinho”, disse o cara que beijou a testa da criança. Isso despertou a ira da mãe que respondeu: “Se você tocar no meu filho de novo, eu vou decepar as suas mãos!”.

“Seu filho é uma maldita bicha. Ele vai ser baleado por isso um dia”, retrucou o homem, descrito pela blogueira como “um cara grande, com barba grossa, hálito de fumante, fedendo a cerveja e usando camiseta camuflada de mangas cortadas”. Ninguém interveio e a mulher noticiou tudo em seu blog.

Katie relatou o caso à polícia e afirmou em seu blog que o filho adora rosa e ele estava muito feliz com a faixa naquele dia, “arrasando”. A repercussão do caso posteriormente porém assustou a mulher. Depois de mensagens de apoio e outras de ameaça, ela chegou a ter seu endereço divulgado na internet. Assustada, ela tirou o blog do ar e pediu ao jornal que divulgou o caso, que foi internacionalmente noticiado, fizesse o mesmo. Em uma das ameaças, afirmaram que iriam castrar seu filho.

Confira o post que gerou a polêmica no blog retirado do ar, MotherThing (Coisa de Mãe, por curiosidade, título parecido com o nome da coluna da mãe de um gay Raquel Gomes, aqui na Lado A):

“Este é o Dexter. Ele tem 2 anos de idade. Ele ama brincar de ser o Batman, Super Homem e o Homem Aranha. Ele é um garoto de verdade. Finge que está voando e que captura os malvados que nos ameaçam.

Ele é o bagunceiro mais fofo que vocês possam conhecer.

Algumas coisas que você deve saber sobre Dexter.

Ele é um irmão mais velho fabuloso. Ele amadurece mais lentamente e tem um bom vocabulário. Ele costumava ser muito tímido, mas recentemente ele tem saído de sua “concha”. Ele ama novas pessoas e gosta de cumprimentar todo mundo com um caloroso “Oi!”.

A cor preferida dele é o rosa. Ele ama o desenho “Dora, a exploradora” e é conhecido por usar minhas saias como vestidos. Dexter ama um “dengo” da mamãe!

Na noite de ontem, levei meus dois filhos para comprar algumas coisas no Walmart. Mark (o marido da autora) teve que dar uma organizada em seu trabalho, então decidi me aventurar sozinha com os meninos, coisa que não costumo fazer com frequência. É muito trabalhoso arrumar as crianças, colocar e tira-los do carro, encontrar um carrinho de compras, mantê-los felizes enquanto eu faço as compras e chegar em casa “intactos”. Vocês pais entendem o que quero dizer.

Depois de colocar roupa e sapatos no Dexter, ainda tive que arrancar um urso de pelúcia gigante dos braços dele, pois tinha decidido que queria levá-lo conosco. Claro que isso resultou em choradeira e birra, que, de alguma forma, eu consegui apaziguar bem rapidamente. Mas, quando tentei tirar uma presilha de renda roxa em formato de flor do cabelo dele (que, inclusive, ele passou o dia inteiro usando), vi que outra briga estava presentes a começar. Então, para evitar mais uma birra, deixei ele ir usando o acessório. Afinal, a quem ele estava machucando?
 

Chegando no supermercado, eu consegui magicamente colocar o Dexter no carrinho sem nenhum problema. O fato de que ele estava usando uma presilha feminina e super fofa fez com que ele se sentisse bem, então ele todo cheio de si acenava para as senhorinhas como se fosse um príncipe em uma carruagem. Até tirei uma foto dele depois que duas mulheres vieram me dizer o quão adorável ele é.

Ele estava arrasando com aquela presilha.

Logo acabamos de fazer as compras e enquanto seguíamos para o caixa, ao passarmos pela seção de Beleza, duas adolescentes começaram a rir e uma delas me perguntou ”Isso é um menino ou uma menina”? Eu sorri e respondi “Ele é um menino”. Olhei para ele e lhe fiz um carinho enquanto elas continuavam rindo.

Do nada, uma voz grossa e alta: “ISSO é um MENINO?!”. Um grandalhão, de barba cheia, camiseta camuflada, short rasgado e botas gritava em nossa direção. Eu podia sentir o fedor de cigarro e bebida vindo dele.

“Sim”, eu respondi seca, mas ainda sorrindo.

De repente, o homem avançou e arrancou a presilha do cabelo do Dexter e a jogou no nosso carrinho de compras. Depois, passou o braço em volta da cabeça do Dexter (não foi com força, mas o ponto não é esse) e disse com uma risada malvada e alta “Você vai me agradecer depois, homenzinho”.

Na mesma hora que eu fui pra cima do homem, Dexter segurou a parte do cabelo em que o homem encostou, apontou o dedo para ele, pisando forte, gritou “Não!”. Entrei no meio dos dois e disse para o bêbado “Se você encostar no meu filho mais uma vez, eu vou arrancar suas mãos!”.

O cara me encarou, olhou para o Dexter com nojo e disse “Seu filho é uma bichinha desgraçada. Virou as costas e antes de sair completou “Ele ainda vai levar um tiro um dia”.

Eu fiquei lá, parada, tremendo com os pulsos cerrados, esperando o homem sair pela porta do supermercado. Então, fiquei arrasada. Estava tremendo tanto, segurando as lágrimas para poder confortar meu filho.

Nem uma pessoa sequer disse ou fez alguma coisa. Várias presenciaram a cena, mas ninguém veio para me oferecer apoio ou consolar a mim e ao meu filho.

Deixa eu repetir para vocês: Dexter tem 2 ANOS DE IDADE.

Eu estava lá, com um menino de 2 anos e um bebê de 5 meses, e meu filho foi verbal e fisicamente agredido por um homem. E ninguém fez absolutamente nada.

Segui para o caixa, ainda em choque, paguei pelas minhas compras e fui embora. Eu não comuniquei nem a gerência do supermercado, nem as autoridades, apesar de estar pensando em fazer isso. Mas, como eu moro em uma cidade turística, eu duvido que há alguma coisa que eu possa fazer para encontrar esse homem – ele pode ser de qualquer parte do mundo.

Já se passaram 24 horas e eu já me desabafei no Facebook, recebendo vários comentários de apoio. Já estou mais calma e consigo olhar para a situação de uma maneira bem mais objetiva.

Tanta coisa errada aconteceu lá que eu nem sei por onde começar.

Aquele homem retirou um artigo de roupa que meu filho estava usando. Não importa que tenha sido uma presilha. NUNCA isso é OK.

Aquele homem tocou meu filho sem meu consentimento. Ele achou que seria “engraçado”. EU NÃO ACHEI.

Ele atacou meu filho com palavras extremamente degradantes e ainda sugeriu que ele merece morrer.

Como que QUALQUER dessas coisas esteja certa???

Isso é o significado de INTOLERÂNCIA.

Um homem adulto, que se acha o sabidão, decide que está tudo certo “ensinar” meu filho o que é ser “macho”. Ele achou que é correto julgar meu filho porque ele não estava adequado às ideias machistas do que um garoto deve ser. Claramente, aquele homem é um homofóbico, o que já é ruim o bastante – mas, não obstante, tentou atribuir tendências gays a um menino de DOIS ANOS. Isso é RIDÍCULO.

Uma criança de 2 ANOS NÃO TEM SEXUALIDADE.

Acreditar que vc pode “ensinar” uma criança a ser de uma determinada maneira é inaceitável. Mesmo que ser gay fosse uma escolha de vida (o que eu não acredito), não é uma escolha que uma criança possa fazer. E da mesma forma que meninas podem jogar baseball ou gostar de carrinhos, meninos podem se vestir com as roupas da mãe, usar acessórios, maquiagem e etc.

Tudo é novo e empolgante para crianças, já que elas estão na fase de descobertas.

Meu marido e eu somos completamente apoiadores de toda forma de amor. Seja você gay, hétero, bissexual, transexual ou poligâmico, isso só diz respeito a VOCÊ MESMO. Eu não julgo, não tento mudar ninguém.

E, quando meus filhos crescerem e perceberem que são alguma das formas que citei acima, isso não mudará em nada a maneira como eu me sinto com relação a eles.

Mas, agora mesmo, o fato de que homofobia está tão presente, que o casamento gay é ainda visto como sujo porque homossexuais são “inferiores” e, de alguma maneira, não merecem ter os mesmos direitos que pessoas héteros, como aquele homem no Walmart, me faz sentir muito medo pelos meus filhos e o futuro deles.

Mesmo que eu e meu marido vamos apoiar e aceitar nossos filhos da maneira como eles forem, eu estou extremamente assustada com como seria se eles fossem realmente gays. Por que eles devem viver com medo, simplesmente porque amam pessoas do mesmo sexo? Por que pais e mães de crianças gays devem ir dormir com mais uma preocupação, pois o mundo não aceita e está contra seus próprios filhos?

Por que isso importa? Você realmente acha que seu Deus ou seu Jesus ou sua crença seria tão julgador como você é? Até mesmo o PAPA disse que não é um problema ser gay.

Mas, deixando isso de lado, em qualquer instância, é ultrajante que alguém permita que um adulto julgue e maltrate uma criança por suas crenças, como adulto. E NUNCA ESTÁ CERTO TOCAR uma criança que não é sua sem permissão. TODO MUNDO, inclusive as crianças, merecem RESPEITO.”

Tradução retirada do site Gajjo.com

 

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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